Donetsk - Os separatistas pró-russos anunciaram nesta terça-feira a organização de eleições presidenciais e legislativas em novembro no leste da Ucrânia, rejeitando o plano de paz de Kiev, no momento em que uma zona desmilitarizada é configurada na linha de frente.
O anúncio de eleições simultâneas no dia 2 de novembro nas regiões de língua russa de Donetsk e Lugansk, palco de combates entre rebeldes e soldados que já mataram 2.900 pessoas desde abril, é um duro golpe para o chefe de Estado ucraniano, que havia proposto aos separatistas o princípio de um "status especial" por três anos.
Estas ofertas políticas do presidente Petro Poroshenko tinham por objetivo conceder mais autonomia às regiões separatistas e previam eleições locais no dia 7 de dezembro, além de uma anistia com condições para os combatentes.
Desde a adoção, no dia 16 de setembro pelo parlamento ucraniano, de leis que permitiam a sua implementação, Kiev esperava uma resposta dos separatistas durante a condução paralela de negociações para um cessar-fogo duradouro.
Eleições simultâneas
"Pensamos em organizar eleições para o Conselho Supremo (parlamento) e para chefe da República em 2 de novembro", afirmou o primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, Alexander Zajarchenko, acrescentando que não vão participar das legislativas ucranianas propostas por Kiev e previstas para 26 de outubro.
"Temos o nosso conselho supremo e nós mesmos decidiremos quais eleições organizar e em que data", acrescentou.
Neste contexto, a região vizinha de Lugansk fez o mesmo. Segundo uma autoridade da República Popular de Lugansk, no mesmo dia serão organizadas eleições presidenciais e legislativas.
"As eleições vão ocorrer simultaneamente com a República Popular de Donetsk, no dia 2 de novembro", declarou o presidente do Conselho Supremo da República de Lugansk, Alexei Kariakin, à agência oficial russa Itar-Tass.
Esses anúncios destacam a fragilidade do processo de paz iniciado nas últimas semanas. Se a trégua nos combates é em geral respeitada, o aspecto político quanto ao futuro das regiões ucranianas de língua russa é muito mais problemático.
Nesta terça-feira, os insurgentes pró-russos anunciaram que começaram a retirar sua artilharia dos setores do leste da Ucrânia onde o exército ucraniano fez o mesmo, mas ainda são registrados combates, sobretudo no aeroporto de Donetsk.
Ao retirar gradualmente seus canhões, os beligerantes permitem a instauração de uma zona desmilitarizada de 30 km ao longo da linha de frente congelada em 19 de setembro.
Três dias após a assinatura em Minsk de um acordo que reforça as primeiras medidas de cessar-fogo decididas no dia 5 de setembro, eram criadas progressivamente as condições para uma trégua.
"Retiramos nossa artilharia das zonas onde as forças ucranianas regulares fizeram o mesmo. Nos lugares onde a artilharia ucraniana não foi retirada, nós também não retiramos a nossa", declarou à agência de notícias russa Interfax Alexander Zajarchenko.
A criação desta zona é parte fundamental do acordo de paz entre Kiev e os separatistas das regiões de língua russa de Donetsk e Lugansk.
Por outro lado, um habitante de Donetsk morreu em combates nas últimas 24 horas, convertendo-se na primeira vítima civil desde a assinatura no sábado passado do memorando de Minsk.
Incêndio no aeroporto de Donetsk
Ao longo de mais de 230 km de linha de frente entre Lugansk, ao norte, e Novoazovsk, ao sul, há várias zonas problemáticas.
Sobretudo no estratégico aeroporto de Donetsk, uma cidade que tinha um milhão de habitantes antes do início dos combates, na primavera (boreal).
Em maio, os rebeldes atacaram o aeroporto, provocando uma enérgica intervenção do exército que conquistou um controle parcial do mesmo. Desde então, os combates são quase diários.
Tanto Kiev quanto os insurgentes reiteraram que não tinham a intenção de abandonar suas posições. "O aeroporto é nosso território", declarou à AFP um dos líderes da autoproclamada república popular de Donetsk, Andrei Purguin.
O aeroporto era alvo das chamas na manhã desta terça-feira devido aos tiros de armas pesadas, segundo os jornalistas da AFP na zona.
Por sua vez, o exército ucraniano anunciou na segunda-feira o início da aplicação das disposições do plano de paz.
"Nos dispomos a mover 15 km para trás o armamento pesado" da linha de frente, declarou o porta-voz do exército, Andri Lysenko, comemorando que não foram registradas incursões de militares russos na fronteira nem disparos procedentes do território russo.
Graças a esta trégua, caravanas de ajuda russa e ucraniana puderam chegar durante o fim de semana a Donetsk e Lugansk. E pela primeira vez desde 26 de julho um trem procedente de Kiev chegou a Lugansk na segunda-feira.
O conflito levou a um enfrentamento sem precedentes desde o fim da Guerra Fria entre russos e ocidentais.
Estes acontecimentos ocorreram depois de meses de agitação na Ucrânia, de um movimento de protesto pró-europeu em Kiev que levou à queda do presidente Viktor Yanukovich, da anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia e do surgimento do separatismo pró-russo no leste.
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1. Velas e armas
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1/13 (Graham Denholm / Getty Images)
São Paulo – Na quinta-feira, o voo MH17 da Malaysian Airlines, que ia de Amsterdã para Kuala Lumpur, foi derrubado enquanto sobrevoava o céu do leste da Ucrânia. Desde então, o governo central ucraniano e a Rússia trocam acusações sobre quem foi responsável pelo míssil que atingiu o avião. Veja, a seguir, as fotos do desenrolar do conflito desde a queda do avião até este domingo.
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2. Pelo chão
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2/13 (Getty Images)
As bagagens e pertences pessoais das vítimas que estavam a bordo do Malaysia Airlines voo MH17 estão espalhadas por Grabovo, na Ucrânia. Segundo relatos de correspondentes internacionais, os destroços do avião estão espalhados a até 15 km do ponto central onde está a maior parte da fuselagem.
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3. Memória saqueada
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3/13 (Maxim Zmeyev/Reuters)
Dinheiro, joias, objetos pessoais e até cartões de créditos das 298 vítimas do voo MH17 da Malaysia Airlines, abatido por um míssil na Ucrânia, na sexta-feira, estão sendo saqueados. Militantes separatistas admitem que removeram objetos, além das caixas-pretas, do local do acidente.
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4. Sem destino
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4/13 (Brendan Hoffman / Getty Images)
Hoje, um vagão de trem refrigerado com parte dos corpos dos passageiros de Malaysia Airlines vôo MH17 aguarda na estação de trem para o transporte ruma a um destino ainda desconhecido. O vôo MH17 da Malaysia Airlines viajava de Amsterdã para Kuala Lumpur quando caiu matando todos os 298 a bordo, incluindo 80 crianças.
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5. Caixa-preta
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5/13 (Getty Images)
O governo da Ucrânia disse neste domingo que interceptou conversas telefônicas entre os rebeldes pró-russos e os militares russos. Os
rebeldes admitiram hoje podem estar com a caixa-preta e prometeram entregar caixas pretas do voo malaio à Organização da Aviação Civil Internacional.
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6. Represália Europeia
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6/13 (Maxim Zmeyev/Reuters)
De
acordo com o WSJ, os líderes europeus ameaçaram impor sanções mais duras contra a Rússia, em decorrência da queda do voo MH17, sem deixar ainda claro o que pode acontecer em represália. Os chanceleres da União Europeia se reunirão em Bruxelas nesta terça-feira para decidir o que fazer, mas há uma grande chance que ativos na Europa construídos por empresários russos, bem como as de empresas originárias do país, possam ser congelados.
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7. Maioria holandesa
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7/13 (Graham Denholm / Getty Images)
A maioria das 298 pessoas a bordo do voo MH 17 era de nacionalidade holandesa. Entre as vítimas havia 154 passageiros holandeses, 27 australianos, 23 malaios, onze indonésios, seis britânicos, quatro alemães, quatro belgas, três filipinos e um canadense no voo. "As famílias querem enterrar seus parentes", declarou ministro do Exterior holandês, Frans Timmermans. Um grupo de 15 especialistas holandeses foi enviado ao local da tragédia para identificar os corpos.
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8. Domingo de homenagem
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8/13 (Christopher Furlong / Getty Images)
Velas em memória das vítimas foram acesas durante uma missa especial na Igreja de Saint Vitus em Hilversum, Holanda, nesta manhã. Três famílias da cidade morreram no acidente. Por todo o país o domingo foi marcado por homenagens às vitimas da tragédia, lembradas em cultos, eventos esportivos e oficiais e no aeroporto Schiphol de Amsterdã, de onde o avião partiu na última quinta-feira.
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9. Em busca da cura
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9/13 (Graham Denholm / Getty Images)
Um participante da 20ª Conferência Internacional de AIDS que acontece hoje em Melbourne, Austrália, amarra uma fita vermelha em homenagem daqueles que perderam suas vidas no voo MH17. Pelo menos seis enviados estavam no avião rumo ao encontro dos maiores especialistas em busca da cura para a doença.
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10. EUA diz que sabe
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Os
Estados Unidos detectaram o lançamento de um míssil antiaéreo e observou sua trajetória na quinta-feira passada, quando o avião da Malaysia Airlines caiu, supostamente atingido, no leste da Ucrânia, afirmou neste domingo o secretário de Estado, John Kerry. O presidente Barack Obama já hava dito que tudo apontava para que o avião tivesse atingido por rebeldes pró-russos. 'Sabemos, com certeza, que durante o último mês houve um fluxo de armamento, um comboio de uns 150 veículos incluídos transporte de pessoal, lança mísseis, artilharia, da Rússia para o leste da Ucrânia', disse ele.
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11. Artigo editado
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11/13 (Getty Images)
O imbróglio da Ucrânia e Russia chegou à web. Primeiro, um computador de Kiev, capital da Ucrânia,
editou o artigo em russo para "acidentes de aviação comercial" colocando a culpa da queda em "terroristas da auto-proclamada República Popular de Donetsk com mísseis de sistema Buk, que os terroristas receberam da Federação Russa". Menos de uma hora depois, alguém com um endereço de IP russo mudou o texto para "o avião foi abatido por soldados ucranianos".
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12. Duas tragédias no ano
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12/13 (Maxim Zmeyev/Reuters)
Depois de ter um avião desaparecido nos ares em março, nesta quinta-feira, o Boeing 777 da companhia Malaysia Airlines com 295 passageiros a bordo caiu na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, sem deixar sobreviventes. A
companhia já apresentava uma operação deficitária antes disso, suportada por verbas governamentais e que degringolava cada vez mais pela imagem afetada com a tragédia. Agora deve ter de enfrentar processos movidos por pessoas de vários países.
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13. Agora, veja quais são os exércitos mais poderosos
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13/13 (Bradley Rhen / US Army / Wikimedia Commons)