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Presidente egípcio inicia novo mandato em plena onda de prisões

Um dos principais opositores do governo, Waël Abbas, faz denúncias contra a violência policial, tortura e corrupção no governo do presidente reeleito

Diante das acusações sobre corrupção e violência, opositores do governo estão sendo julgados e condenados por tribunais militares (Ammar Awad/Reuters)

Diante das acusações sobre corrupção e violência, opositores do governo estão sendo julgados e condenados por tribunais militares (Ammar Awad/Reuters)

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AFP

Publicado em 1 de junho de 2018 às 11h02.

O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, iniciará neste sábado um novo mandato de quatro anos, em plena onda de prisões de opositores, o que reflete, segundo especialistas, temores do poder contra possíveis movimentos sociais.

Depois de ter sido reeleito com mais de 97% dos votos em março contra uma oposição silenciada, Sissi, eleito pela primeira vez em 2014, prestará juramento perante o Parlamento.

Entre os opositores e membros da sociedade civil presos recentemente estão o blogueiro e jornalista Waël Abbas, os blogueiros Chérif Gaber e Chadi Abuzeid e o opositor Hazem Abdelazim.

Há uma década, Waël Abbas vem publicando no Facebook, YouTube e Twitter denúncias contra a violência policial, tortura e corrupção. Ele é acusado de ser próximo à Irmandade Muçulmana, declarada uma organização "terrorista" no Egito em 2013.

Outro símbolo do aumento da repressão, um jornalista e pesquisador especializado no movimento jihadista no Sinai, Ismail Alexandrani, foi condenado na semana passada a 10 anos de prisão por um tribunal militar. Preso em 2015, também é acusado de fazer parte da Irmandade Muçulmana.

"As prisões são uma continuação das políticas repressivas dos últimos anos, que visam subjugar e domesticar todos os potenciais contra-poderes", explica à AFP Karim Bitar, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas.

Segundo ele, "o timing está relacionado ao crescente sentimento de insatisfação em grandes setores da população egípcia", principalmente em relação às dificuldades econômicas.

No final de fevereiro, antes das eleições, o Ministério Público ameaçou processar os veículos de imprensa que publicassem "informações falsas", consideradas como atentado "à segurança da pátria".

Algumas pessoas detidas recentemente haviam decidido manter a discrição mesmo antes desta advertência.

"Preocupante"

Para Mostafa Kamel El Sayed, professor de ciência política na Universidade do Cairo, as autoridades egípcias "temem que os ativistas, especialmente aqueles cujos nomes estão relacionados com a revolta de 2011, como Hazem Abdelazim, Wael Abbas e Shadi el-Ghazali Harb, explorem o aumento esperado dos preços do combustível e da eletricidade para mobilizar os cidadãos contra o regime de Sissi".

Há vários dias, a imprensa e a televisão estatal preparam a opinião pública para um novo aumento nos preços, principalmente da eletricidade, em um contexto econômico ainda calamitoso.

Os preços dispararam no Egito desde a desvalorização da moeda local em novembro de 2016, como parte de um plano de reforma imposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para um empréstimo de US$ 12 bilhões.

Mas a economia egípcia já estava em má forma desde a revolta de 2011 e a queda do regime de Hosni Mubarak.

Apesar de alguns sinais encorajadores, como o crescimento do PIB que deve passar de 4,2% em 2017 para 5,2% em 2018, segundo o FMI, os benefícios para os egípcios comuns ainda não são percebidos.

Enquanto isso, ONGs de defesa dos direitos Humanos denunciam regularmente a repressão implacável desde 2013 pelo governo contra os islâmicos e contra os ativistas laicos e de esquerda.

Após a recente onda de prisões, a ONG Human Rights Watch (HRW) denunciou em uma declaração na quinta-feira "o estado de opressão" que atualmente prevalece no Egito.

Na quarta-feira, a União Europeia denunciou "o número crescente de detenções de defensores dos direitos humanos, ativistas políticos e blogueiros no Egito nas últimas semanas".

Cairo reagiu imediatamente, rejeitando "totalmente" essas críticas, "que não refletem a realidade egípcia".

"O Egito é um Estado de direito" e os egípcios desfrutam de "liberdade de expressão e opinião", disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores.

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