Mundo

Presidente catalão destituído avalia permanecer em Bruxelas

Um de seus advogados na Catalunha afirmou que Puigdemont está disposto a voltar ao país

Puigdemont: "queremos votar para decidir o nosso futuro", disse (Eric Vidal/Reuters)

Puigdemont: "queremos votar para decidir o nosso futuro", disse (Eric Vidal/Reuters)

A

AFP

Publicado em 23 de dezembro de 2017 às 16h39.

O presidente destituído da Catalunha, Carles Puigdemont, estudava neste sábado (23) as possibilidades de permanecer em Bruxelas ou retornar à Espanha, onde poderia ser preso, após a vitória eleitoral de seu campo separatista.

Um de seus advogados na Catalunha, Jaume Alonso-Cuevillas, afirmou à Catalunya Radio que Puigdemont está disposto a voltar ao país, "mas meu conselho é que avalie a situação, já que, neste momento, seria preso", dois meses após a fracassada proclamação de independência da região.

"Analisamos todos os cenários", afirmou, por sua vez, a diretora de campanha do partido de Puigdemont, Elsa Artadi, consultada em Bruxelas pela emissora catalã Rac1.

Artadi insistiu na ideia de que a vitória dos independentistas - com 47,5% dos votos, mas uma maioria absoluta de assentos - era a de "todos" os partidos separatistas, que deverão dialogar para formar um governo.

Neste sábado, em um raro momento de união para os torcedores do Barcelona - pró-independência e unionistas - foi disputado o clássico do futebol espanhol Real Madri-Barça, vencido pelo time de Messi por 3 a 0 no estádio Santiago Bernabéu.

Quando as duas equipes se encontraram pela última vez, em 16 de agosto (2-0 para o Real e conquista da Supercopa), Carles Puigdemont chefiava o governo catalão e o movimento de independência, enquanto o conservador Mariano Rajoy dirigia o governo central.

Aqueles meses foram marcados por greves gerais e manifestações. Nos dias 6 e 7 de setembro houve a revogação da Constituição pelo Parlamento catalão; em 1º de outubro, o referendo de independência severamente reprimido pela polícia; em 27 de outubro, o fracasso na proclamação unilateral de independência, seguido da destituição do Executivo catalão - processado por rebelião e sedição -, que se dispersou entre a Bélgica, a prisão e a liberdade condicional.

Rajoy advertiu na sexta-feira (22), no dia seguinte às eleições organizadas na região no intuito de resolver a crise, que o próximo governo catalão, seja lá qual for, terá de cumprir a lei.

"Espero que haja um governo que abandone decisões unilaterais e que não se coloque acima da lei", disse Rajoy.

O primeiro-ministro foi o grande derrotado nas eleições que ele próprio convocou e nas quais seu Partido Popular (PP) passou de 11 para 3 assentos.

Com suas declarações, Rajoy deu a entender que não hesitará em recorrer novamente ao artigo 155 da Constituição de 1978, usado pela primeira vez na crise catalã, que lhe permitiu destituir o governo de Puigdemont e convocar eleições.

Por outro lado, Puigdemont, cujo partido, o Juntos pela Catalunha, liderou, contra todas as probabilidades, a lista dos independentistas, insistiu em exigir um referendo de independência: "queremos votar para decidir o nosso futuro", disse, em Bruxelas.

Ele enfrenta agora o desafio de formar um governo com seus parceiros independentistas da ERC (Esquerda Republicana) em circunstâncias estranhas e sabendo que a prisão provavelmente o aguardará se retornar à Espanha.

A única grande novidade das eleições foi a primeira vitória de um partido anti-nacionalista catalão.

Trata-se do Cidadão, que venceu o páreo em número de votos e assentos, mas que não pode governar, exceto em caso de grande surpresa, porque as listas separatistas somam mais deputados.

Inés Arrimadas, líder do Cidadãos na Catalunha, estimou que "se o processo de independência já não tinha sentido ontem, hoje faz menos sentido ainda".

"Estamos agora em uma sociedade mais polarizada e mais conflituosa. A possibilidade de uma solução de consenso é menor do que era há um ano", indicou à AFP o analista político Oriol Bartomeus, professor da Universidade Autônoma de Barcelona.

"Certamente continuaremos com um governo que não funciona e isso afetará a situação econômica. Veremos o que vai acontecer com as empresas que deixaram a região e com aquelas que ainda estão aqui", acrescentou.

Mais de 3.100 empresas, incluindo grandes bancos, retiraram sua sede da Catalunha desde o início de outubro, com medo da incerteza política.

"Prevemos que as perspectivas econômicas da região continuem a se deteriorar com repercussões para a economia nacional, a menos que seja compensada pelo crescimento em outras regiões", indicou a agência financeira Moody's em comunicado divulgado na sexta-feira.

Acompanhe tudo sobre:BélgicaCatalunhaEleiçõesEspanha

Mais de Mundo

Drones sobre bases militares dos EUA levantam preocupações sobre segurança nacional

Conheça os cinco empregos com as maiores taxas de acidentes fatais nos EUA

Refugiados sírios tentam voltar para casa, mas ONU alerta para retorno em larga escala

Panamá repudia ameaça de Trump de retomar o controle do Canal