Egípcios gritam palavras de ordem como "liberdade" ou "o povo quer que caia o marechal", em alusão ao chefe da Junta Militar, Hussein Tantawi (Odd Andersen/AFP)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2011 às 18h00.
Cairo - Em uma de seus maiores exibições de força, os manifestantes da praça Tahrir desafiaram com espírito renovado o poder da Junta Militar exigindo-lhe que deixe o poder e desprezando o anúncio de seu novo primeiro-ministro.
Em uma das maiores convocações desde a queda de Hosni Mubarak, se não a maior, os manifestantes mantiveram assim a queda-de-braço com os militares após uma semana de violentos choques com as forças de segurança que deixaram pelo menos 41 mortos e milhares de feridos.
Ao contrário de dias atrás, se viveu um ambiente tranquilo e festivo com a presença de famílias inteiras que lembravam cenas da Revolução do dia 25 de Janeiro.
"Esta é a rua da liberdade, antes chamada Mohammed Mahmoud", dizia um grande cartaz colocado na entrada da via de mesmo nome que se transformou no centro dos últimos distúrbios e que hoje só era guardada por uma barreira de espinhos como lembrança.
A primeira vista, desapareceram as frequentes máscaras para evitar o gás lacrimogêneo e o som das ambulâncias levando feridos.
Em seu lugar foram escutados os fogos de artifício e os gritos de palavras de ordem como "liberdade" ou "o povo quer que caia o marechal", em alusão ao chefe da Junta Militar, Hussein Tantawi.
A notícia que Tantawi tinha designado horas antes Kamal Ganzuri como novo primeiro-ministro em substituição a Essam Sharaf não agradou aos manifestantes.
Insatisfeitos com a nomeação de Ganzuri, centenas de pessoas bloquearam o acesso ao Conselho de Ministros, situado perto da praça.
Também circulou uma proposta de plebiscito a favor da criação de um Governo de salvação nacional integrado por pessoas capazes de reunir tendências diferentes.
Entre elas estão o prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, o islamita e ex-membro dos Irmãos Muçulmanos Abdelmoneim Abul Futuh, o independente Hosam Eisa e o líder do Partido Karama (de esquerda), Hamdin Sababhi, disseram à Efe ativistas em Tahrir.
"Há dez meses teríamos avaliado sua nomeação, mas a situação que o Egito atravessa agora é muito difícil; precisamos de alguém que não intermedeie com os militares e tenha plenos poderes", disse a jovem Rasha Abulenein, que acabava de assinar a iniciativa.
"Quantas manifestações, quantos mortos e feridos mais deve haver para que nossas reivindicações sejam atendidas? Não importa se for hoje ou amanhã, a Junta tem que deixar o poder", concluiu.
Frente à contra-ofensiva que pretende colocar no Governo ElBaradei, Abul Futuh e Eisa, o novo primeiro-ministro do Egito, Kamal Ganzuri, compareceu em entrevista coletiva para assegurar que disporá de "mais poderes que nenhum outro chefe de Governo" no passado e alcançará "prerrogativas completas para servir ao Egito".
O novo chefe de Governo, que já desempenhou o cargo sob o regime de Hosni Mubarak entre 1996 e 1999, acrescentou que não acredita que seu Executivo seja formado antes do começo das eleições legislativas na próxima segunda-feira.
Estas eleições foram modificadas nesta sexta-feira pela Junta Militar, que ampliou os dias de votação para facilitar a participação cidadã, embora tenha mantido seu início para a próxima segunda-feira, dia 28, como estava previsto.
Mas nem tudo foram críticas para o Conselho Supremo das Forças Armadas.
Os Irmãos Muçulmanos assinaram um documento com outras forças islamitas a favor da postura adotada pelos militares, que pretendem continuar à frente do país até que um novo presidente seja eleito, convocando um protesto na mesquita de Al Azhar para protestar contra Israel.
Enquanto isso, na praça de Abassiya, no leste da capital, milhares de pessoas se manifestaram a favor da Junta Militar e do novo primeiro-ministro.
Faltaando três dias para que comece o pleito parlamentar, a situação se complica para a Junta Militar, que recebeu nesta sexta-feira a pressão da Casa Branca para que passe o poder para uma autoridade civil "o mais rápido possível".