São Paulo – Números recentes compilados pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) mostraram que o grupo extremista Estado Islâmico (EI) conta com cerca de 25 mil combatentes estrangeiros de 100 diferentes países em seu quadro de recrutas.
O relatório, divulgado no início do ano pela agência de notícias Associated Press, constatou ainda que o número de pessoas que decidiram se envolver nessa batalha aumentou em 71% entre meados de 2014 e março de 2015.
Mas um estudo realizado pelo The International Centre for the Study of Radicalisation and Political Violence, um centro de pesquisa ligado a universidades prestigiadas como a britânica King’s College London, revelou um novo e cada vez mais frequente fenômeno que atinge o grupo em suas entranhas: há combatentes que estão voltando atrás no apoio ao EI e optando por abandoná-lo.
Divulgado na semana passada, o estudo investigou as trajetórias de 58 pessoas, homens e mulheres, que deixaram o EI e falaram publicamente sobre as razões da ida para a Síria ou Iraque e também os motivos que os fizeram desistir de apoiar o grupo e voltar para casa.
Veja abaixo as quatro principais razões de deserção:
1 – Lutas internas
Uma das maiores críticas é em relação aos confrontos com outros grupos rebeldes. “Lutar contra o regime de Bashar al-Assad não parecia uma prioridade”, mostrou o estudo.
Ao que parece, a obsessão dos líderes do EI em combater grupos rebeldes como o Exército Livre da Síria ou o Jabhat Al-Nusra, afiliado da rede Al Qaeda, foi visto pelos desertores como uma estratégia “errada, contraproducente e ilegítima do ponto de vista religioso”.
De acordo com eles, não era esse tipo de luta que eles tinham em mente quando resolveram se juntar ao EI no Iraque ou na Síria.
2 – A violência contra os muçulmanos sunitas
Outro ponto levantado pelos desertores investigados pelo estudo é a violência e a forma brutal com a qual o EI lida com civis. Em seus testemunhos, mostrou o estudo, muitos criticaram as operações que eram conduzidas sem qualquer tipo de preocupação e que, muitas vezes, acabavam com as mortes de dezenas de crianças e mulheres.
Uma observação da pesquisa é que, para a maioria dessas pessoas, as críticas não tinham relação com a matança de membros de minorias e sim quando as vítimas eram muçulmanos sunitas.
Contudo, muitos desertores disseram ainda que os assassinatos aleatórios de reféns, os maus tratos reservados aos moradores de pequenos vilarejos e a execução de combatentes do grupo por seus próprios comandantes também os ajudaram a tomar a decisão de deserção.
3 - Comportamentos em desacordo com a fé islâmica
Um terceiro ponto levantado com frequência pelos desertores que abandonaram o EI era a forma como muitos comandantes tratavam seus combatentes. Os sírios, especificamente, reclamavam que estrangeiros eram sempre privilegiados nas decisões da alta cúpula do grupo.
Muitos disseram ainda que eram comuns comportamentos injustos, desiguais e citaram até mesmo casos de racismo. “A maioria dos desertores consideraram que comandantes mais antigos do EI teriam falhado em sua promessa central: a de formar uma sociedade islâmica perfeita”.
4 – Qualidade de vida
O estudo constatou ainda que alguns dos desertores se juntaram ao grupo por razões “egoístas e materiais” e que logo se desapontaram com a qualidade de vida que teriam de enfrentar na Síria e no Iraque.
Durante o processo de recrutamento, militantes ludibriam potenciais combatentes com a promessa de que teriam acesso a itens de luxo e carros importados. Ao perceberem que nada disso se concretizaria, se frustravam.
Houve também casos de pessoas que desejavam experimentar a vida em combate e ter a chance de realizar atos heroicos. Estes, contudo, decidiram abandonar o EI ao perceber que seriam encaminhados para missões suicidas.
A pesquisa reconhece que a quantidade de entrevistas é pequena perto do número real de desertores. Mas lembra que "suas histórias podem ser a chave para tentar interromper o fluxo de combatentes estrangeiros, contrapondo a propaganda do grupo e expondo as mentiras que contam”.
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1. Crueldade
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1/10 (Reuters)
São Paulo – Especialistas iniciaram na manhã de hoje escavações em doze covas coletivas encontradas na região de Trikrit, no
Iraque. De acordo com informações da rede de notícias americana
CNN, é possível que os restos mortais de 1.700 soldados mortos pelo grupo Estado Islâmico (
EI) sejam recuperados. A descoberta comprovaria a veracidade de um vídeo divulgado pelo grupo há alguns meses e no qual era exibida a execução de centenas de soldados iraquianos que estavam dispostos em uma linha que parecia não ter fim. Os soldados, informou a
Reuters, teriam sido capturados em uma antiga base dos Estados Unidos. “A cena é de partir o coração”, contou um oficial ouvido pela rede que esteve no local. “Não conseguimos conter as lágrimas. Que tipo de bárbaro poderia matar 1.700 pessoas a sangue frio?”, indagou. As covas coletivas são mais um ato de violência na lista de barbáries já cometidas pelo grupo desde que ganhou força no ano passado e passou a expandir os seus domínios em regiões da
Síria e do Iraque. Relembre nas imagens outros casos chocantes protagonizados pelo grupo.
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2. Decapitações de reféns ocidentais
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2/10 (AFP)
Ensaiadas à exaustão, filmadas e divulgadas mundo afora via redes sociais, as decapitações, especialmente aquelas realizadas em reféns ocidentais, se tornaram um símbolo da brutalidade do EI. Um dos primeiros ocidentais a ser publicamente executado pelo grupo foi o jornalista americano James Foley. Pouco tempo depois da divulgação do vídeo de Foley em agosto do ano passado, o EI viralizou vários outros. Neles foram exibidas as mortes de pessoas como o Steven Sotloff, jornalista americano sequestrado em agosto de 2013 e morto no início de setembro de 2014, e David Haines, um trabalhador humanitário britânico abduzido em março de 2013 e assassinado poucas semanas depois de Sotloff.
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3. E de cristãos na Líbia
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3/10 (Reprodução)
Os horrores das decapitações do Estado Islâmico (EI), contudo, não ficaram reservados apenas aos reféns ocidentais. No início de fevereiro, o EI
divulgou um vídeo no qual foram degolados 21 cristãos egípcios.
De acordo com informações da agência de notícias EFE, as vítimas haviam sido sequestradas na região de Tripoli, capital da Líbia, e simbolizavam uma espécie de vingança contra o Egito por conta de um episódio no qual uma mulher cristã foi presa depois de se converter ao islã.
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4. A morte do piloto jordaniano
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4/10 (Social media via Reuters)
Depois de anunciar a decapitação do jornalista japonês Kenji Goto, o EI divulgou um vídeo no qual
mostrava um piloto jordaniano sendo queimado vivo. Maaz al-Kassasbeh foi sequestrado em dezembro, depois que sua aeronave foi derrubada pela artilharia do grupo nas redondezas de Raqqa, conhecida informalmente como a capital do EI. Como consequência da morte brutal do militar, a
Jordânia intensificou os bombardeios realizados contra os militantes.
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5. Recrutamento de crianças
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5/10 (Reprodução/Live Leak)
Outra atrocidade cometida pelo grupo é o constante recrutamento de crianças para batalha ou para operações suicidas. De acordo com entidades de ajuda humanitária, desde o início de 2015, 400 crianças foram
absorvidas aos quadros de militantes do EI. Muitas se juntam ao grupo com a conivência dos pais, mas tantas outras acabam sendo seduzidas por recrutadores a fugirem de suas famílias. Um exemplo que chocou o mundo apareceu em mais um vídeo do EI divulgado nas redes sociais. Nele, era mostrada a execução de reféns por uma criança que não aparentava ter mais de 12 anos de idade.
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6. Genocídio da minoria Yazidi
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6/10 (Rodi Said/Reuters)
Desde que iniciou a sua expansão territorial, o Estado Islâmico (
EI) vem atacando a minoria Yazidi,
historicamente estabelecida no norte do Iraque. Como consequência dos atos brutais contra este povo, a Organização das Nações Unidas (
ONU)
acusa o EI de estar cometendo um crime de genocídio, uma vez que demonstra ter o objetivo de dizimá-los enquanto grupo.
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7. A tortura de seus reféns
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7/10 (Nicole Tung/AFP)
Reféns ocidentais que foram libertados pelo Estado Islâmico (
EI)
contaram ao mundo como era a rotina de horror a qual foram diariamente submetidos enquanto em cativeiro. De acordo com os relatos, a tortura era uma ferramenta comum dos militantes e era assim que eles buscavam informações sobre, por exemplo, o propósito da ida de seus reféns para a Síria. Os métodos consistiam em espancamentos e até
mesmo a simulação de afogamento.
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8. Terror em campo de refugiados
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8/10 (Rani Al-Sayed/AFP)
Até então restrito ao norte da
Síria, o EI mostra que aos poucos está avançando até a capital do país, Damasco. Nesta semana, veio à tona a notícia de que o grupo invadiu um campo de refugiados nas redondezas da cidade e que agora
controla 90% dele. Os outros 10% estãos nas mãos de uma milícia formada por palestinos e sírios que vivem no campo e que lutam contra o regime de Bashar al-Assad. Segundo informações da rede de notícias Reuters, o local é habitado por 18 mil pessoas. Na análise da ONU, a
situação no campo é “além de desumana”, pois a entidade não conseguiu enviar comida, remédio e água para as pessoas que lá vivem desde que os conflitos dentro do campo começaram.
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9. A destruição de antiguidades
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9/10 (Reprodução/Youtube/Josue Leon)
Há poucos meses, o EI divulgou
vídeos nos quais seus militantes apareciam destruindo antiguidades em sítios arqueológicos e até museus de diferentes regiões do Iraque. Em Mosul, por exemplo, homens aparecem armados com martelos e brocas derrubando e destruindo estátuas datadas do século 7 a.C e cujos valores são inestimáveis.
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10. Agora veja os números da violência na Síria
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10/10 (Reuters)