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Policiais se revoltam na Bolívia e Morales denuncia '"golpe em andamento"

"Vamos estar com o povo, não com os generais", disse um dos amotinados em quartel de Cochabamba

Evo Morales: sob protestos, presidente da Bolívia diz ser vítima de um "golpe" em andamento (Getty Images/Getty Images)

Evo Morales: sob protestos, presidente da Bolívia diz ser vítima de um "golpe" em andamento (Getty Images/Getty Images)

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AFP

Publicado em 9 de novembro de 2019 às 12h28.

Última atualização em 9 de novembro de 2019 às 12h33.

Unidades da polícia nas cidades de La Paz, Santa Cruz, Sucre e Cochabamba se rebelaram nesta sexta-feira (8) contra o polêmica vitória eleitoral do presidente Evo Morales, que denunciou um "golpe" em andamento na Bolívia.

A revolta teve início em Cochabamba, quando um policial com o rosto coberto anunciou no Quartel-General da Unidade Tática de Operações: "Estamos amotinados".

Outro policial acrescentou: "Vamos estar com o povo, não com os generais".

Em Sucre, capital de Chuquisaca, agentes da polícia anunciaram em seguida seu apoio à revolta. "Não podemos seguir com este 'narcogoverno', com esta democracia injusta".

Os agentes do comando de Santa Cruz fecharam a unidade e vários policiais subiram no teto do prédio com bandeiras bolivianas, como os rebelados em Cochabamba, e na noite de sexta-feira a revolta teve a adesão de diversas guarnições de La Paz.

Morales reagiu denunciando um golpe de Estado "em andamento" após se reunir com parte do seu gabinete.

"Irmãos e irmãs, nossa democracia está sob risco de um golpe de Estado colocado em andamento por violentos que atentam contra a ordem constitucional. Denunciamos à comunidade internacional este atentado contra o Estado de direito", tuitou o presidente de esquerda.

"Convoco o nosso povo para cuidar pacificamente da democracia e da CPE (Constituição Política do Estado) para preservar a paz e a vida como bens supremos,acima de qualquer interesse político".

O ministro da Defesa, Javier Zavaleta, informou que o governo não ordenará uma operação militar contra os policiais revoltados.

"Não vai haver qualquer operação militar neste momento, isto está totalmente descartado", declarou Zavaleta à imprensa sobre os amotinados.

Polícia com manifestantes

Milhares de manifestantes foram às unidades policiais de La Paz, Potosí, Cochabamba e Trinidad para incentivar os policiais à revolta.

A rebelião ganhou força com imagens de TV de policiais no alto do prédio do quartel da polícia UTOP de Cochabamba, enquanto dezenas de jovens opositores se amontoavam nos arredores, saudando-os da rua.

Na Avenida Prado, a principal de La Paz, dezenas de policiais se uniram a manifestantes opositores na noite desta sexta-feira para exigir a saída de Morales.

Em diversos bairros de La Paz, os policiais voltaram para seus quartéis, enquanto a multidão grita: "policial, amigo, o povo está contigo".

Manifestantes se concentraram diante do Colégio Militar de La Paz para pedir aos alunos que se unam à cruzada pela renúncia de Morales.

Na zona de Obrajes, ao sul de La Paz, a população celebrava a revolta policial como se fosse uma vitória da seleção boliviana de futebol, observou um jornalista da AFP.

Emoção

Hoje o rosto mais visível e radical da oposição boliviana, o líder regional Luis Fernando Camacho agradeceu aos policiais e se disse emocionado.

"Chorei de emoção. Grande a nossa polícia", tuitou Camacho. "Obrigado por ficarem ao lado do povo. Deus os abençoe".

Nas últimas horas, circularam versões sobre queixas e reivindicações de militares contra o comandante da Polícia de Cochabamba, Raúl Grandy, de maus-tratos e ter se inclinado a favor de manifestantes governistas durante os confrontos de rua contra opositores.

No último conflito de quinta-feira, foram registrados durante os confrontos um morto e de 80 a 90 feridos. Segundo versões extraoficiais, os policiais receberam ordens de Grandy de reprimir os manifestantes da oposição e favorecer o grupo de seguidores do presidente Morales.

Bloqueios de rua em La Paz

Iniciados em Santa Cruz, os protestos foram se espalhando gradualmente pelo país e, pela primeira vez, nesta sexta-feira, uma multidão tomou as ruas de La Paz, sede dos Poderes Executivo e Legislativo.

Várias avenidas do sul foram bloqueadas. Ônibus, micro-ônibus e táxis se moviam por trechos curtos, e apenas o teleférico (público) circulou normalmente em suas dez linhas.

Em torno da Casa Grande do Povo, a torre onde fica a sede do Executivo de Morales no centro de La Paz, um grande dispositivo de segurança impediu a passagem de manifestantes. O prédio foi cercado pela multidão nas últimas três noites.

O prédio de 29 andares contíguo ao Palácio Quemado, a histórica casa de governo, também foi protegido por mineiros e por camponeses aliados ao presidente.

Várias organizações e coletivos sociais se uniram a Camacho, formando uma frente ampla contra Morales, algo que os partidos opositores não conseguiram fazer para as eleições de 20 de outubro passado. A oposição chegou às urnas com oito candidatos à Presidência.

Camacho, líder do poderoso Comitê Cívico Pró-Santa Cruz (direita), disse que, na próxima segunda-feira, levará pessoalmente uma carta de renúncia a Morales. Pretende ir acompanhado de outras lideranças políticas e sociais.

O ministro Zavaleta descartou que Morales vá recebê-lo.

O presidente indígena, de 60 anos, no poder desde 2006, ignora as reivindicações da oposição, que o acusa de "fraude" eleitoral.

A oposição exige sua saída, a anulação das eleições e uma nova disputa sem Morales como candidato. O presidente rebate, alegando que o pleito foi limpo, e exige que os resultados sejam respeitados.

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