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Petro nega espionagem ilegal após denúncia de magistrados na Colômbia

Juiz apresentou queixa à Procuradoria após 'órgãos de inteligência do Estado' supostamente interceptarem seu telefone

Gustavo Petro, presidente da Colômbia (Agence France-Presse/AFP)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 24 de junho de 2024 às 14h57.

O presidente da Colômbia , Gustavo Petro, negou nesta segunda-feira que seu governo tenha ordenado a interceptação ilegal dos telefones celulares de magistrados da Corte Constitucional, de acordo com uma denúncia feita um dia antes. No X, antigo Twitter, o chefe de Estado afirmou que, desde o primeiro dia de seu governo, “a ordem aos órgãos de inteligência é não usá-los contra a oposição, imprensa ou cortes”.

No fim de semana, a revista colombiana Semana revelou que o magistrado Jorge Enrique Ibáñez apresentou uma denúncia à Procuradoria porque supostamente “órgãos de inteligência do Estado” interceptaram seu telefone. Em carta dirigida à procuradora-geral, Luz Adriana Camargo, Ibáñez escreveu que, há “vários meses, minhas comunicações, especialmente meu telefone celular, têm sido interceptadas (...) fora dos marcos jurídicos”.

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O juiz afirma que alguns de seus assessores também foram interceptados — e não descarta que alguns outros colegas na Corte Constitucional do país estejam sendo igualmente espionados. A Procuradoria anunciou a abertura de uma investigação diante das supostas escutas ilegais.

Em sua defesa, Petro assegura que o Departamento Nacional de Inteligência (DNI) “não possui sequer aparelhos de interceptação de serviços de telefonia privada”. O presidente afirmou, ainda, que “este governo não faz o que outros fizeram no passado”, quando serviços de inteligência realizaram escutas ilegais contra políticos de esquerda, representantes de organizações sociais, jornalistas e também magistrados da Corte Suprema de Justiça.

Em 2011, quando era senador da oposição, Petro denunciou o extinto Departamento Administrativo de Segurança (DAS) e outras entidades do Estado por escutas contra ele entre os anos 2006 e 2009. Um tribunal administrativo lhe deu razão e condenou a nação em 2020 pelo caso.

Agora, no entanto, a Semana afirma que um general lhe confirmou anonimamente “que tais interceptações realmente ocorreram” durante a administração de Petro. A oposição também assegura que o primeiro presidente de esquerda da Colômbia tenta contornar o poder dos altos tribunais. O ex-presidente Iván Duque (2018-2022), por exemplo, diz que Petro quer controlar a Corte Constitucional para mudar a Carta Magna e, assim, estender seu mandato além de agosto de 2026.

Mudança na Constituição

As denúncias contra o governo ocorrem justamente quando Petro insiste na ideia de convocar uma assembleia para modificar a Constituição. No poder desde agosto de 2022, o presidente não conseguiu convencer os congressistas para que deem luz verde a seus projetos de lei com vistas a modificar o sistema de saúde, de pensões e trabalhista. O governo deseja ampliar os benefícios aos trabalhadores, mas perdeu as maiorias nas casas do Legislativo poucos meses após sua posse.

— Se as instituições que hoje temos na Colômbia não são capazes de estarem à altura das reformas sociais que o povo decretou através de seu voto [...] então a Colômbia tem que ir para uma Assembleia Nacional Constituinte — disse Petro em março, durante uma mobilização de indígenas que o apoiam na cidade de Cali.

A oposição afirma, ainda, que o presidente está determinado a tornar realidade suas propostas passando por cima das instituições e costuma compará-lo com seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro. Ainda em março, o congressista Hernán Cadavid, do partido de direita Centro Democrático, classificou os planos de Petro de “perigosos”.

A atual Constituição da Colômbia, escrita em 1991, foi resultado da desmobilização da guerrilha urbana M-19, à qual Petro pertenceu em sua juventude. Nos últimos meses, o presidente questionou a forma como suas reformas têm sido combatidas e as instituições, que supostamente não estariam à altura das exigências de reforma do povo colombiano.

— A Colômbia não tem que se ajoelhar, o triunfo popular de 2022 é respeitado e a Assembleia Nacional Constituinte deve transformar as instituições para que elas obedeçam ao mandato popular de paz e justiça, o que é fácil de conseguir na Colômbia.

Na mesma linha, ele também se afastou da busca de um grande acordo nacional, uma questão sobre a qual ele vem falando desde o início de seu governo e que enfatizou em seu discurso no Congresso em 20 de julho.

— Não é mais o momento para um acordo nacional, como propus. Eles expulsaram três senadores, fiquei sem cônsul no México, disseram que María José Pizarro não pode fazer parte da diretoria e dizem que não há perseguição. Eles querem anular os decretos — disse o presidente num discurso em Puerto Resistencia, uma das áreas mais importantes da cidade de Cali durante a greve social de 2021.

Na campanha de 2018, diante dos temores gerados pela campanha de Gustavo Petro, o político assegurou que não convocaria uma Assembleia Constituinte. Esse compromisso fazia parte de um conjunto de princípios ao qual o agora presidente aderiu para garantir o apoio de Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá, à sua campanha.

Inspeção

Nesta segunda-feira, outro escândalo por suposta espionagem do governo teve um novo capítulo: a Procuradoria Geral Penal Militar e Policial informou em comunicado que realizou uma inspeção judicial na Casa de Nariño, a sede do governo em Bogotá. Os agentes buscaram por “material probatório e evidência física” no âmbito de uma investigação pelas supostas escutas ilegais no ano passado a Marelbys Meza, babá da mão direita do presidente, Laura Sarabia.

Após o roubo de uma maleta com milhares de dólares da casa de Sarabia, Meza foi interrogada com polígrafo na sede presidencial e depois foi vítima de interceptações de suas conversas telefônicas, aparentemente com a anuência do governo. O Executivo fez uso de um relatório falso da polícia que a vinculava a narcotraficantes do Clã do Golfo, segundo revelou o Ministério Público em meados de 2023.

Sarabia, que atuava como chefe de gabinete de Petro, deixou seu cargo semanas depois dessas revelações, mas em fevereiro passado foi nomeada à frente do Departamento de Prosperidade Social, uma entidade que administra um vasto orçamento do Estado.

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