O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe: enquanto os observadores africanos classificaram na quarta-feira as eleições de "livres", o MDC denunciou novas e numerosas irregularidades. (Alexander Joe/AFP)
Da Redação
Publicado em 1 de agosto de 2013 às 11h53.
Harare - A tensão se instalou nesta quinta-feira no Zimbábue, que aguarda os resultados das eleições presidenciais, no dia seguinte à votação, denunciada como "uma enorme farsa" pelo adversário do presidente Robert Mugabe, que já reivindicou a vitória.
"Ganhamos facilmente de maneira contundente. Derrotamos o MDC", o partido de Morgan Tsvangirai, primeiro-ministro e rival máximo de Mugabe, disse à AFP um dirigente do Zanu-PF, que explicou que seu partido conquistou muitos assentos em cidades tradicionalmente favoráveis ao MDC.
"Vencemos e esta vitória se aplica a tudo, às eleições presidenciais, legislativas e municipais", disse.
Estavam em disputa o velho presidente Mugabe, que aos 89 anos segue no poder desde a independência de 1980, e seu primeiro-ministro, Morgan Tsvangirai.
Enquanto os observadores africanos classificaram na quarta-feira as eleições de "livres", o MDC denunciou novas e numerosas irregularidades.
Os resultados oficiais do primeiro turno das eleições são esperados para segunda-feira. Um eventual segundo turno será organizado em 11 de setembro, se nenhum dos dois candidatos conquistar 50% dos votos.
"A contagem dos votos começou nos colégios eleitorais e sua agregação em nível dos cantões e circunscrições", anunciou a presidente da Comissão Eleitoral, Rita Makarau.
"Em nossa opinião, esta eleição é nula e sem efeito", atacou Tsvangirai, que abandonou as eleições de 2008, tendo saído vencedor no primeiro turno, para evitar um massacre após a morte de 200 de seus partidários.
"É uma eleição simulada que não reflete a vontade do povo por causa da manipulação de Mugabe", denunciou em coletiva de imprensa.
Tsvangirai não quis comentar a reivindicação de vitória do adversário, enquanto policiais foram mobilizados perto da sede do seu partido.
"Em nossa opinião, esta eleição não atende aos padrões da SADC (Comunidade da África Austral), UA (União Africana) e da comunidade internacional para eleições credíveis, legítimas, livres e justas", porque "sua credibilidade foi marcada por violações administrativas e jurídicas que afetam a legitimidade do resultado", declarou.
Os observadores da UA consideraram as eleições de quarta-feira "livres e justas", enquanto os da SADC anunciaram que dariam sua opinião sexta-feira.
A SADC interveio em 2008 para evitar uma guerra civil, quando o início de um êxodo populacional revelou a possibilidade de uma desestabilização regional.
A SADC impôs a Mugabe de fazer reformas e formar um governo de unidade nacional com seu rival.
Isso permitiu uma retomada do crescimento econômico e a adoção de uma nova Constituição. Mas novas eleições gerais foram exigidas por Mugabe.
Resultado, as listas eleitorais foram tornadas públicas apenas um dia antes das eleições, impossibilitando qualquer verificação séria.
" Seja qual for o resultado, a credibilidade das eleições (...) se vê seriamente comprometida pelo esforço sistemático que tende a privar os eleitores urbanos de seus direitos eleitorais. Até um milhão de eleitores foram privados de seus direitos", denunciou o presidente da ONG Zimbabwe Election Support Network (ZESN), Solomon Zwana, cujos observadores presenciaram o processo.
Em Washington, o Departamento de Estado elogiou o dia pacífico. "Deixamos claro que vamos reduzir as sanções se as eleições foram credíveis, transparentes e que reflitam a vontade dos zimbabuanos", disse a porta-voz Marie Harf.
Pai da independência e de um discurso anti-ocidental - e, mais amplamente antibranco - Robert Mugabe ainda é considerado um herói entre os eleitores rurais e idosos. Ele também está à frente de todo um sistema que domina o país.