No dia 1º de julho, a sessão inaugural do Parlamento formado após as eleições legislativas de 30 de abril terminou em meio ao caos (Ahmad Al-Rubaye)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2014 às 09h10.
Bagdá - O Parlamento iraquiano, extremamente dividido, adiou nesta segunda-feira uma sessão crucial para a formação de um governo de unidade para dirigir o país, ameaçado por uma grande ofensiva de insurgentes sunitas que o Exército não consegue conter.
Apesar da situação crítica do Iraque devido ao lançamento da ofensiva de insurgentes sunitas liderados pelo grupo radical Estado Islâmico (EI), há um mês, a classe política não foi capaz de deixar de lado suas divergências e ambições pessoais.
Na terça-feira estava prevista a realização de uma reunião parlamentar na qual o presidente da câmara seria eleito, mas o encontro foi adiado para 12 de agosto por falta de acordo, indicou à AFP um deputado que pediu para não ser identificado.
Este passo é necessário antes de eleger um presidente da República, que deve nomear um primeiro-ministro encarregado de formar um governo de unidade nacional para tentar combater o caos em que o país está afundado.
No dia 1º de julho, a sessão inaugural do Parlamento formado após as eleições legislativas de 30 de abril terminou em meio ao caos e os deputados abandonaram o plenário.
O enviado especial da ONU, Nickolay Mladenov, pediu nesta segunda-feira aos blocos políticos que "limitem os dias de negociação e trabalhem dentro do prazo estipulado pela Constituição."
De acordo com a Constituição, depois de eleito o presidente da Assembleia, os deputados têm 30 dias para nomear um presidente. Este terá então 15 dias para nomear um primeiro-ministro, que, por sua vez, vai ter 30 dias para formar um governo.
A questão mais difícil, a escolha do primeiro-ministro, que também é comandante-em-chefe das Forças Armadas, será resolvida, portanto, apenas dentro de algumas semanas.
O chefe de Governo xiita Nuri al-Maliki, no poder desde 2006, está em fim de mandato. Seu partido venceu as legislativas, e Maliki declarou na sexta que jamais vai desistir de se candidatar, apesar das críticas ferozes contra sua gestão.
No campo de batalha, a situação segue tão paralisada quanto no terreno político.
O Exército não consegue conter avanço dos insurgentes nem reconquistar os territórios que eles tomaram, embora Moscou tenha enviado aviões de combates, esteja sendo auxiliado por conselheiros de guerra americanos e receba a ajuda de milícias xiitas.
O comandante da sexta brigada, o general Najm Abdullah Sudani, foi morto nesta segunda-feira em um atentado a oeste de Bagdá. Maliki compareceu ao funeral, saudando o general "como um mártir morto no campo de batalha".
Há uma semana, as forças do governo tentam retomar o controle de Tikrit (norte), antigo reduto de Saddam Hussein.
"O Exército e a polícia são percebidos como religiosos (...) Eles não têm o apoio ou, o que seria crucial, de informações da comunidade sunita", explica John Drake, analista do AKE Group.
"Se você não tem boas informações sobre o campo de batalha, seus ataques não são precisos, causam danos colaterais e feridos, (...) o que agrava a situação", acrescenta.
Na capital iraquiana, pelo menos cinco pessoas morreram em um atentado suicida em um bairro predominantemente xiita nesta segunda, no dia seguinte a um outro reivindicado pelo EI que matou quatro pessoas.
Diante de um Exército sem forças, o EI parece mais confiante do que nunca.
Quase uma semana após o anúncio da criação de um "califado" entre a Síria e o Iraque, em 29 de junho, seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, saiu das sombras no sábado em um vídeo em que aparece durante um sermão em Mossul (norte), segunda maior cidade do Iraque tomada pelos rebeldes no início da ofensiva.
A autenticidade do vídeo ainda está sendo analisada. Mas, se comprovada, seria a primeira aparição televisiva de Baghdadi, o que marcaria uma mudança de estratégia para o homem que sempre preferiu a discrição.
Ele é o número dois na lista dos mais procurados pelos Estados Unidos - que oferecem US$ 10 milhões por sua captura - atrás do líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri.
Além da cidade Mossul, os insurgentes controlam grande parte da província de Nínive - onde fica Mossul -, assim como regiões nas províncias de Diyala (leste), Saladino (norte) e Kirkuk (oeste). Também controlam desde janeiro setores de Al-Anbar (oeste).