Para China, eleição de Trump cria incertezas e oportunidades
Trump prometeu impor tarifas de 45% sobre produtos chineses importados
Reuters
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 12h17.
Pequim - A surpreendente vitória de Donald Trump coloca pressão sobre questões estratégias e econômicas nos laços entre Estados Unidos e China, e provavelmente surpreendeu e preocupou líderes chineses, que prezam pela estabilidade nas relações entre as duas potências.
Trump criticou a China durante a campanha, e rendeu manchetes por suas promessas de impor tarifas de 45 por cento sobre produtos chineses importados e por chamar o país de manipulador do câmbio.
O republicano também questionou os compromissos de segurança dos EUA com aliados e minimizou normas de longa data da política externa norte-americana mantidas pelos depois partidos, como ao sugerir que o Japão desenvolva armas nucleares -declaração que, se ele levar em frente, pode provocar alterações no equilíbrio de segurança regional na Ásia.
O resultado imprevisível não é o ideal para o Partido Comunista da China, obcecado pela estabilidade, especialmente no momento em que o regime chinês busca amenizar as relações com os EUA mediante as reformas desafiadores em casa, uma economia em desaceleração e uma troca de liderança que colocará uma nova elite do partido no entorno do presidente Xi Jinping no fim de 2017.
Pequim tende a preferir os sucessores de partidos com linhas política consistentes. A falta de experiência governamental de Trump e sua abordagem não ortodoxa ante prioridades de longa data do Partido Republicano podem representar uma dor de cabeça para autoridades chinesas.
Jia Qingguo, reitor da Escola de Relações Internacionais da conceituada Universidade Peking e conselheiro do governo, chamou Trump de "símbolo da incerteza".
"A China espera que a futura política dos Estados Unidos seja mais clara, porque assim podemos nos preparar e lidar com ela", disse Jia.
Empresário pragmático
Certamente, uma Casa Branca comandada por Trump apresenta à China uma variação de novas oportunidades.
Décadas de críticas de Hillary Clinton ao histórico de direitos humanos da China e sua insistência sobre o interesse norte-americano no Mar do Sul da China tornaram a democrata uma conhecida, mas não apreciada, figura entre a elite governista de Pequim.
Especialistas chineses dizem que algumas pessoas em Pequim acreditam que Trump irá provar ser um empresário pragmático, disposto a negociar com a China.
"Qualquer tipo de política protecionista será uma faca de dois gumes", disse Ruan Zongze, ex-diplomata chinês agora membro do Instituto da China de Estudos Internacionais, associado ao Ministério das Relações Exteriores. "Acho que ele será muito cauteloso sobre isto."
O presidente chinês cumprimentou Trump pela vitória nesta quarta-feira, de acordo com a TV estatal chinesa, e disse ao presidente eleito dos EUA que as duas maiores economias do mundo têm a responsabilidade de promover o desenvolvimento e a prosperidade global.
"Eu ponho grande importância no relacionamento China-EUA, e espero trabalhar com você para manter os princípios de não conflito, não confrontação, respeito mútuo e cooperação ganha-ganha", disse Xi a Trump em mensagem, acrescentando que o desenvolvimento estável e saudável em longo prazo das relações entre EUA e China está nos interesses fundamentais dos povos de ambos os países, acrescentou.