Papa Francisco I: "A situação atual na América Latina se assemelha à de 1974-1980, no Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai com (Alfredo) Stroesner, e também creio que a Bolívia" (Remo Casilli/Pool/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de novembro de 2019 às 21h06.
Última atualização em 26 de novembro de 2019 às 21h07.
São Paulo — O papa Francisco teme que a situação atual na América Latina se assemelhe à difícil década de 1970, quando a região viveu sob ditaduras militares, e por conta dessa ameaça, pediu paz nesta terça-feira (26), em sua viagem de volta do Japão a Roma.
Ao ser perguntado sobre a situação de vários países, como Chile, Colômbia, Bolívia e Nicarágua, com tumultos, violência nas ruas, mortos e feridos, o papa reconheceu que não tinha como fazer uma análise.
"A situação atual na América Latina se assemelha à de 1974-1980, no Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai com (Alfredo) Stroesner, e também creio que a Bolívia (...). Uma situação pegando fogo, mas não sei se é um problema fácil de detectar", admitiu.
"Realmente não posso fazer uma análise sobre isso neste momento", afirmou.
O primeiro papa latino-americano da história, que viveu na carne os horrores da ditadura militar na Argentina, considera que "algumas declarações não são precisamente de paz".
"O que está acontecendo no Chile me assusta, porque o Chile está emergindo de um problema de abusos (sexuais de menores) que causou tanto sofrimento e agora esse problema, que não entendemos bem ...", admitiu.
"Mas está pegando fogo e precisamos buscar diálogo e também a análise", acrescentou.
Francisco criticou os governos da região, os quais classificou como "fracos" sem especificá-los .
"Também existem governos fracos, muito fracos, que falharam em trazer ordem e paz, e é por isso que chegamos a essa situação", afirmou.
O papa argentino evitou falar sobre a Colômbia, país que visitou em 2017 e registrou manifestações históricas contra o governo de Iván Duque.
Em uma eventual mediação da Santa Sé nesses conflitos, o pontífice afirmou: "Estamos dispostos a ajudar quando for necessário".
Em sua conversa com cerca de 70 jornalistas de todo o mundo que o acompanharam na visita à Tailândia e ao Japão, o papa comparou os protestos em Hong Kong com os registrados no resto do mundo.
"Não se trata apenas de Hong Kong. Pense no Chile, pense na França, a democrática França: um ano de coletes amarelos. Pense na Nicarágua, pense em outros países latino-americanos que têm esses problemas e também em alguns países europeus. É algo geral. O que a Santa Sé faz com isso? Apela ao diálogo, à paz ", concluiu.