Mundo

Papa pede que bispos falem claro e sem rodeios sobre família

Hierarquia da Igreja foi convocada no Vaticano para debater temas até agora tabu, como o casamento homossexual

Papa Francisco sobre família: "falar com liberdade e ouvir com humildade" (Andreas Solaro/AFP)

Papa Francisco sobre família: "falar com liberdade e ouvir com humildade" (Andreas Solaro/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2014 às 16h10.

Cidade do Vaticano - O papa Francisco pediu nesta segunda-feira aos bispos de todo o mundo reunidos no Vaticano que falem claro e sem rodeios sobre as mudanças vividas pela família católica contemporânea.

Diante dos 253 prelados, entre eles 191 bispos de todos os continentes, o Papa deu início ao primeiro dia de trabalho com um discurso curto e breve no qual garantiu total liberdade a todos os setores da Igreja.

"Falar com liberdade e ouvir com humildade", resumiu o Papa.

A hierarquia da Igreja foi convocada no Vaticano para debater temas até agora tabu, como o casamento homossexual, os casais de fato, o divórcio, as mães solteiras e a comunhão para os divorciados que voltam a se casar, entre outras questões.

O papa argentino, de formação jesuíta, também se apresentou como a pessoa que garante a liberdade de expressão a todos os setores, divididos entre conservadores e progressistas.

"Alguns cardeais não se atreveram a dizer coisas por respeito ao Papa... Isso não está certo", afirmou Francisco, que encoraja uma Igreja mais democrática, em contato com suas bases.

Falem "com tranquilidade e com paz, porque a presença do Papa é garantia para todos de custódia da fé", acrescentou.

A mudança de método de trabalho, a ideia de abordar abertamente as situações difíceis - como a pressão dos católicos que voltam a se casar para que possam comungar -, irritam os setores mais tradicionalistas.

A "condição geral de base é esta: falar claramente. Que ninguém diga que isso não pode ser feito", disse o pontífice com seu estilo direto.

Dois sínodos sobre a família

Por duas semanas, até 19 de outubro, a Igreja debaterá o modelo de catolicismo que propõe diante da evolução vivida pela família no início do século XXI.

O clima na sala era amigável, apesar das tensões da véspera entre vários cardeais pela publicação de livros e entrevistas contrários ou a favor de conceder a comunhão aos divorciados que voltam a se casar.

A realização de dois sínodos, já que há um programado para 2015, também é uma forma de consulta interna inédita.

"O Papa quer, acima de tudo, ouvir e entender o que pensa a Igreja, o povo de Deus, sobre a família", explicou em uma entrevista o cardeal alemão Walter Kasper, que apoia uma abertura aos casais divorciados que voltam a se casar.

Outros temas delicados serão abordados durante o sínodo, como a poligamia na África, o casamento gay, assuntos até agora tabu para a Igreja, que os condenava com total rigor.

Ao término de duas semanas de debates um documento final vai ser elaborado, sendo submetido depois a votação e enviado sucessivamente às dioceses de todo o mundo junto com um questionário.

O fruto deste processo será a base para o sínodo ordinário que será realizado no próximo ano e no qual poderão ser adotadas reformas importantes para a Igreja.

Ao ilustrar à imprensa a mentalidade dos prelados durante o sínodo, o cardeal francês André Vingt-Trois ressaltou que "não se trata de um debate parlamentar", que a Igreja não é "um regime democrático no qual se vence por maioria" e que o que se tenta é encontrar a vontade comum, um consenso entre ideias, países e necessidades tão diferentes".

O único pedido concreto feito pelo papa Francisco foi o de abandonar o latim como idioma oficial da Igreja e substitui-lo pelo italiano. Ainda não se sabe a resposta.

Acompanhe tudo sobre:FamíliaGaysIgreja CatólicaLGBTPaíses ricosPapa FranciscoPapasPreconceitosVaticano

Mais de Mundo

Alemanha alerta risco de ataques terroristas semelhantes ao de Moscou

Sob críticas da Otan, Putin desembarca na Coreia do Norte para estreitar parceria 'estratégica'

Milei perde apoio em 18 de 24 municípios da Grande Buenos Aires, mostra pesquisa

Rússia inicia exercício naval no Pacífico enquanto Putin visita a Coreia do Norte

Mais na Exame