Papa descarta proposta de ordenação de homens casados na Amazônia
Possibilidade de ordenar homens casados foi discutida no sínodo da Igreja no ano passado
Reuters
Publicado em 12 de fevereiro de 2020 às 09h53.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2020 às 10h01.
Cidade do Vaticano — O papa Francisco , em uma das decisões mais significativas de seu pontificado, descartou nesta quarta-feira uma proposta de permitir que alguns homens casados fossem ordenados padres na região amazônica para aliviar uma escassez aguda de sacerdotes no local.
A recomendação, apresentada por bispos latino-americanos em 2019, assustou os conservadores da Igreja Católica Romana, profundamente polarizada entre seus 1,3 bilhão de fiéis, que temia que isso pudesse levar a uma mudança no compromisso secular de celibato entre os padres.
O papa deu sua resposta em uma exortação apostólica, três meses após ela ser aprovada por 128 votos a 41 em um sínodo de bispos católicos romanos.
O documento de 32 páginas desta quarta-feira nem sequer mencionou a proposta, que era para diáconos mais velhos casados que são líderes comprovados de comunidades católicas remotas e têm famílias estáveis para serem ordenados como sacerdotes.
Hesitantes, os conservadores temiam que, apesar de limitada, a mudança fosse um caminho que conduziria toda a Igreja a um sacerdócio passível a casamentos, motivo pelo qual classificaram a proposta como heresia.
Na exortação, o argentino de 82 anos escreveu que novos caminhos devem ser encontrados para encorajar mais padres a trabalhar na região remota e permitir papéis expandidos para leigos e diáconos permanentes, dos quais a Amazônia precisa "muito mais".
Como apenas os padres podem celebrar a missa, pessoas em ao menos 85% das aldeias amazônicas não podem participar da liturgia todas as semanas e algumas não o fazem há anos.
"Essa necessidade urgente me leva a exortar todos os bispos, especialmente os da América Latina...a serem mais generosos em incentivar aqueles que demonstram uma vocação missionária a optar pela região amazônica", escreveu ele.
O pontífice usou os três primeiros capítulos do documento para defender os direitos e legados dos povos indígenas e o meio ambiente na Amazônia, que têm que ser protegidos por seu papel vital na mitigação do aquecimento global.
Os conservadores temiam que, se Francisco aceitasse a proposta, outros locais com escassez de padres seguiriam o modelo, mesmo em países desenvolvidos como a Alemanha, onde a questão está sendo discutida.