Países tentam evitar fracasso da conferência de clima da ONU
Encontro tem sido dominado pela questão da prorrogação do Protocolo de Kyoto, que impõe reduções nas emissões de gases efeito estufa para os países desenvolvidos
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2010 às 09h45.
Cancún - Governos de quase 200 países tentavam na quarta-feira (8) superar o impasse entre países ricos e pobres a respeito das medidas necessárias para combater o aquecimento global e evitar um novo fracasso numa conferência climática da ONU, a exemplo do que ocorreu no ano passado em Copenhague.
A atual conferência tem sido dominada pela questão da prorrogação do Protocolo de Kyoto, que impõe reduções nas emissões de gases do efeito estufa a cerca de 40 países desenvolvidos, poupando as nações em desenvolvimento. Japão, Canadá e Rússia dizem que não aceitarão prorrogar o tratado, que expira em 2012, se grandes nações emergentes, como China e Índia, também não tiverem obrigações a cumprir.
Com aspecto cansado após dez dias de negociações em Cancún, a chanceler mexicana, Patrícia Espinosa, disse que ainda acredita na aprovação de "um pacote ambicioso, amplo e equilibrado" até sexta-feira, quando termina a conferência. Um dos objetivos dos negociadores é estabelecer um novo fundo financeiro para ajudar os países em desenvolvimento a combaterem a mudança climática, além de aprovarem mecanismos relacionados a proteção florestal e compartilhamento de energias limpas.
Se nem esses passos modestos forem dados em Cancún, será praticamente a repetição da conferência de Copenhague, que começou sob a expectativa de um novo tratado de cumprimento obrigatório para todos os países - mas terminou apenas com uma vaga declaração por parte dos principais governos, comprometendo-se a limitar o aumento da temperatura média global em 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.
"O fracasso não é uma opção, ou corremos o risco de acelerar a erosão da confiança na legitimidade das discussões da ONU como fórum para resolver a mudança climática", disse o primeiro-ministro Tuilaepa Lupesoliai Neioti Sailele Malielegaoi, de Samoa, país insular fortemente ameaçado pela elevação do nível dos mares, decorrente do aquecimento global.
A necessidade de acordos por unanimidade - do mais miserável país africano a potências como EUA e China - complica as negociações, especialmente numa era de alteração do equilíbrio de poder. O primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, disse que alguns países estão recuando até mesmo das promessas feitas em Copenhague, como o da liberação de uma ajuda climática de 100 bilhões de dólares por ano a partir de 2020.
Textos-base que circulam em Cancún citam a cifra de 100 bilhões de dólares ou um valor bem mais alto: 1,5 por cento do PIB dos países desenvolvidos. Stoltenberg alertou as nações que, ao querem discutir mais ajuda, os países pobres podem acabar reduzindo o valor de 100 bilhões de dólares. "O resultado de Cancún é incerto", disse ele.