Os novos zeros da Venezuela
Num dos gestos mais simbólicos da inflação que coroe a Venezuela, o governo de Nicolás Maduro começa a recolher hoje todas as notas de 100 bolívares, a mais alta do mercado, que vale cerca de 10 centavos de real. Os venezuelanos têm 10 dias para trocar as 6 bilhões de notas, cerca de 48% do total […]
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2016 às 05h41.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 18h43.
Num dos gestos mais simbólicos da inflação que coroe a Venezuela, o governo de Nicolás Maduro começa a recolher hoje todas as notas de 100 bolívares, a mais alta do mercado, que vale cerca de 10 centavos de real. Os venezuelanos têm 10 dias para trocar as 6 bilhões de notas, cerca de 48% do total em circulação. Começam a circular também novas cédulas de 500, 1.000, 2.000, 5.000, 10.000 e 20.000 bolívares, para amenizar as montanhas de papel que passaram a se acumular no país – muitos comerciantes passaram a pesar as notas, em vez de contá-las. A previsão do FMI é de que a inflação chegue a 720% este ano.
O recolhimento das notas de 100 bolívares é uma medida de emergência do governo, que determinou o fechamento das fronteiras com o Brasil e com a Colômbia por 72 horas, a partir da meia-noite de terça-feira, para combater o contrabando da moeda. O governo acusa narcotraficantes e máfias internacionais de armazenar dinheiro ilegalmente, para desestabilizar a economia. Também foi proibida a venda de imóveis esta semana, para evitar tentativas de lavagem de dinheiro pelos criminosos.
A crise econômica do país é tão grave que a população está migrando em massa. De janeiro do ano passado a setembro deste ano, 77.000 venezuelanos entraram no Brasil por Roraima, de acordo com o Ministério da Justiça. Na terça-feira, a oposição retomou as investidas contra Maduro, para tentar reativar o referendo que pede a revogação do seu mandato, paralisado desde o dia 20 de outubro. O Vaticano e a Unasul tentaram mediar as negociações, mas o governo não se mostrou aberto ao diálogo.
Internacionalmente, o cenário também é deprimente. A Venezuela perdeu oficialmente a presidência pro-tempore do Mercosul, assumido pela Argentina na quarta-feira. A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, chegou a invadir a reunião em Buenos Aires, mas o resultado já estava consolidado. Isolada comercialmente e se afundando politicamente, não há previsão de melhora para a economia venezuelana. A troca de moedas não passa de um acréscimo de zeros que, pelo andar da carruagem, terá que ser refeito em alguns meses, ou semanas.