Opositores convocam protestos para o "Dia das Forças Armadas" em Mianmar
O Dia das Forças Armadas constitui tradicionalmente uma demonstração de força dos militares, com um grande desfile na capital administrativa de Mianmar
AFP
Publicado em 26 de março de 2021 às 11h14.
Última atualização em 26 de março de 2021 às 14h23.
Ativistas pró-democracia convocaram manifestações em Mianmar no fim de semana contra o golpe de Estado militar por ocasião do "Dia das Forças Armadas", após um ataque com coquetel molotov contra a sede do partido de Aung San Suu Kyi, ex-líder civil deposta em 1º de fevereiro.
A data em celebração às Forças Armadas acontece no país neste sábado, 27, e é um evento já tradicional.
Desde o golpe militar, a violência em Mianmar deixou pelo menos 320 mortos e cerca de 3.000 pessoas foram presas, segundo a Associação de Assistência a Presos Políticos. A junta militar que governa o país, por sua vez, informa metade desse número. O balanço pode ser ainda superior porque centenas de detidos estão desaparecidos.
Após a libertação na quarta-feira de mais de 600 pessoas presas depois do golpe, outras 322 — "249 homens e 73 mulheres", segundo uma autoridade da prisão de Insein em Yangon — foram libertadas pelas autoridades nesta sexta-feira, na véspera do "Dia das Forças Armadas".
Em Yangon, a capital econômica, um coquetel molotov causou nesta madrugada um pequeno incêndio, com pequenos danos, na sede da Liga Nacional para a Democracia (LND), partido da Nobel da Paz de 1991. "Não sabemos quem fez isso, mas não é nada bom", disse Soe Win, membro do partido.
Desde o golpe, muitos deputados da LND, que venceu as eleições legislativas de novembro, vivem na clandestinidade e formaram um Parlamento paralelo, o Pyidaungse Hluttaw (CRPH).
Os opositores à Junta lançaram convocatórias para manifestações no sábado por ocasião do "Dia das Forças Armadas".
"Chegou a hora de lutar contra a opressão militar", declarou no Facebook o líder da contestaç]ao Ei Thinzar Maung. "No dia 27 de março, vamos nos unir pela revolução popular tomando as ruas".
Demonstração de força
Este dia constitui tradicionalmente uma demonstração de força dos militares, com um grande desfile em Naypyidaw, a capital administrativa. Comemora o 27 de março de 1945, quando o futuro herói da independência, o general Aung San, pai de Aung San Suu Kyi, liderou um levante contra as forças de ocupação japonesas.
O movimento pró-democracia também organiza greves e uma campanha de desobediência civil por parte dos funcionários públicos, o que dificulta o funcionamento do Estado.
As autoridades respondem às manifestações com gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição letal, e aumentando o número de prisões.
Na quinta-feira à noite, na região de Bago, vizinha de Yangon, a polícia foi à casa de um parlamentar da LND, Kyaw Aye Win, para prender seu filho, irritando os manifestantes que exigiam sua libertação em frente à delegacia.
"Quando a polícia tentou dispersar os manifestantes, um homem foi morto com um tiro" no rosto, explicou um eleito local, especificando que se tratava de um estudante.
Na tentativa de escapar da violência, os ativistas são inventivos, desfilando de madrugada ou organizando comícios virtuais com placas ou manequins para substituir os manifestantes.
Assim, em Mandalay (centro), a segunda cidade do país, jalecos brancos pintados com uma fita preta foram pendurados na entrada da faculdade de medicina em luto pelas vítimas da repressão.
E os manifestantes continuam a tomar as ruas. Milhares de pessoas marcharam em Monywa (centro) e Hpakant (norte).
Um dos principais grupos rebeldes, a União Nacional Karen (KNU), ativa no sudeste, emitiu uma carta ao líder da Junta, o general Min Aung Hlaing, em resposta a uma proposta de encontro.
A KNU, que recentemente recebeu centenas de manifestantes pró-democracia nas áreas que controla, pede a libertação de todos os presos desde o golpe, o fim da violência e a retirada do exército de "qualquer envolvimento ativo na vida política".
A contestação foi proposta para o Prêmio Nobel da Paz 2022, explicou nesta sexta Kristian Stokke, professor de sociologia da Universidade de Oslo, na origem desta candidatura com outros cinco acadêmicos.
A comunidade internacional está intensificando suas condenações e sanções contra a Junta. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, ex-potência colonial, adotaram na quinta-feira medidas contra os dois principais conglomerados nas mãos dos militares birmaneses.