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Oposição venezuelana se inclina por se abster das presidenciais

Sem perspectiva de conseguir as garantias que exigem, os partidos acreditam em sua maioria que o certo é não disputar devido à falta de "transparência"

Maduro: a inscrição de candidatos deverá ser feita entre sábado e segunda-feira (Marco Bello/Reuters)

Maduro: a inscrição de candidatos deverá ser feita entre sábado e segunda-feira (Marco Bello/Reuters)

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AFP

Publicado em 19 de fevereiro de 2018 às 18h33.

A poucos dias da inscrição de candidatos, a oposição venezuelana lida com suas divisões para decidir se participa das presidenciais de 22 de abril, mas se inclina por ficar de fora e declarar ilegítima a possível reeleição de Nicolás Maduro.

Sem perspectiva de conseguir as garantias que exigem, partidos da Mesa da Unidade Democrática (MUD) acreditam em sua maioria que o certo é não disputar devido à falta de "transparência", disseram nesta segunda-feira (19) à AFP fontes dessas organizações.

Como resultado das consultas iniciadas em 8 de fevereiro, a MUD se inclina por não inscrever um candidato, embora nem todos os partidos - dos cerca de 20 que compõem a aliança - compartilhem dessa decisão.

"O anúncio com certeza será feito amanhã (terça-feira). Na minha opinião, é uma decisão equivocada", disse uma das fontes, que falou sob condição do anonimato.

A inscrição de candidatos deverá ser feita entre sábado e segunda-feira.

Sobre a mesa também está a opção de apresentar um candidato que lute por condições, mas que se retire se não consegui-las, acrescentou a fonte.

A MUD considera que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não oferece garantias de imparcialidade ao estar "sob o controle do governo", pelo qual antecipa uma fraude.

O Vontade Popular, partido do opositor Leopoldo López, que está em prisão domiciliar, se adiantou na sexta-feira passada ao anunciar seu repúdio às presidenciais, convocadas antecipadamente pela governista Assembleia Constituinte.

O grupo argumenta que fazê-lo seria legitimar uma "fraude" para perpetuar no poder Maduro, que busca um segundo mandato, até 2025, apesar de sua impopularidade, que supera 70% segundo pesquisas, devido à grave crise socioeconômica.

"Pedimos a todas as organizações políticas democráticas que não confirmem a fraude", assinalou a formação.

Adversário único?

O Primeiro Justiça, outro partido de peso, do ex-candidato à Presidência Henrique Capriles, também vota por ficar de fora das eleições, segundo fontes do agrupamento.

Os outros dois partidos importantes, Ação Democrática e Um Novo Tempo, planejam lutar por garantias com um candidato que se retire se não alcançá-las, mas respeitarão a decisão da maioria, segundo os dirigentes consultados pela AFP.

Uma incerteza domina o ambiente na MUD: o que fará Henri Falcón, ex-governador dissidente do chavismo que acredita que pode vencer Maduro?

Dirigentes de seu partido, Avançada Progressista, defendem ir às presidenciais. "Sou otimista. Se todos nos animarmos, derrotaremos o governo", declarou Falcón em uma recente entrevista televisiva.

Henry Ramos Allup, ex-líder parlamentar que manifestou seu desejo de disputar contra Maduro, reiterou também que sem condições não pode participar. "Nenhum candidato deveria aceitar postular-se fora da unidade", expressou na semana passada.

O especialista eleitoral Eugenio Martínez considera que a MUD ficou sem margem de manobra, pois já não há tempo de alcançar garantias, e parte da comunidade internacional antecipou que não reconhecerá eleições que consideram injustas.

"Parece que a oposição não tem outro remédio a não ser não participar para manter a unidade", assinalou Martínez à AFP.

Em sua visão, a MUD deve criar uma frente ampla que exija eleições em dezembro, quando tradicionalmente são feitas "com todas as condições possíveis".

Desafio: a unidade

Por enquanto, apenas vislumbram dois adversários de pouca projeção para Maduro: o pastor evangélico Javier Bertucci e o dirigente Claudio Fermín.

O presidente, herdeiro do falecido líder socialista Hugo Chávez, assegura que irá tentar a reeleição com ou sem adversários, e se mostrou aberto a uma observação eleitoral da Secretaria-Geral da ONU.

Uma negociação entre governo e MUD sobre garantias eleitorais fracassou em 7 de fevereiro na República Dominicana, depois da qual o poder eleitoral fixou a data da votação.

O deputado Julio Borges, que liderou a delegação opositora no diálogo, iniciará nos próximos dias uma viagem pela América Latina para fazer pressão por essas condições.

A cientista política Francine Jácome acredita que a MUD deve desenvolver uma estratégia unitária com diferentes setores para lutar por eleições limpas e tentar aliviar a grave crise socioeconômica do país petroleiro.

"Não participar seria efetivo apenas se houver uma verdadeira estratégia unitária para demonstrar a falta de legitimidade de origem e desempenho de Maduro", advertiu Jácome.

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