Chávez e Capriles: na sexta-feira, Capriles estava com 51,8% de apoio dos eleitores, e Chávez, com 47,2% (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2012 às 07h36.
São Paulo – Nesse domingo, Hugo Chávez e Henrique Capriles vão se enfrentar nas urnas venezuelanas. Chávez está em busca de seu terceiro mandato – com uma condição de saúde bastante questionada. Enquanto isso, a saúde da oposição segue avançando.
Na sexta-feira, dados do Instituto Consultores 21 indicavam que Capriles estava com 51,8% de apoio dos eleitores, e Chávez, com 47,2% (a margem de erro é de 2,58%). O último levantamento do mesmo instituto divulgado em setembro mostrava Capriles com 48,9% das intenções de voto e Chávez com 45,7%.
“As apostas são altas, assim como as emoções, de ambos os lados”, definiu o Goldman Sachs, em relatório divulgado nessa quinta-feira. Para o banco, o presidente Chávez está enfrentando o que talvez seja o seu mais sério desafio para se manter no poder – o que até agora, vinha conseguindo fazer. A oposição está mais organizada do que nos anos anteriores, segundo o relatório.
“O presidente Chávez está lidando com a erosão do capital político depois de mais de uma década no poder, a incerteza sobre sua condição de saúde persiste, e um registro reconhecidamente pobre de gestão económica”, afirma o relatório. O Goldman espera uma margem de vitória apertada, com cerca de 5 pontos percentuais de vantagem.
No domingo, a oposição tem o que, possivelmente, é sua melhor chance nos últimos 10 anos de derrotar o presidente Chávez, segundo o Goldman. “O mercado está posicionado para uma reeleição do Chávez. Essa postura poderia compensar qualquer reação negativa a uma vitória do Chávez, que poderia implicar em uma continuação da atual abordagem política heterodoxa, hostil ao mercado”, afirma o relatório.
O banco deixa claro que os mercados prefeririam uma derrota de Chávez. “Os mercados reagiriam bem a uma vitória da oposição na esperança de um descanso do atual regime heterodoxo intervencionista”. Caso a oposição tenha um desempenho forte nas urnas – mesmo que derrotada – isso já colocaria um piso sob a reação do mercado pós-eleitoral, segundo o Goldman, e auxiliaria caso a saúde de Chavéz levasse a uma antecipação das próximas eleições.
Chávez foi diagnosticado com câncer em junho de 2011, o que leva a alguns questionamentos sobre sua condição atual de saúde – e se ele teria condições de concluir o mandato. “A fraqueza principal de Chávez foi não ter conseguido constituir um sucessor”, disse De Campos.
“Se Capriles ganhar, Chávez poderia hesitar em reconhecer o resultado, mas isso seria insustentável no curto prazo”, afirma relatório da Eurasia Group, para quem a manipulação dos resultados seria difícil. O atual sistema de votação da Venezuela torna a manipulação difícil, uma vez que exige as digitais do eleitor para ativar a urna.
Desafios pós eleições
Para Geraldo Adriano Godoy de Campos, professor de relações internacionais da ESPM, a reeleição de Chávez indicaria uma possibilidade de fortalecimento do Mercosul, enquanto, em uma possível vitória de Capriles, a Venezuela se aproximaria mais dos Estados Unidos. “A vitória do Capriles significaria o redirecionamento da politica externa da Venezuela na direção dos EUA”, disse.
Um desafio para ser superado por qualquer um dos eleitos, segundo De Campos, é a necessidade de diversificação da economia venezuelana, liberar um pouco da dependência do petróleo. Os setores que não são ligados ao petróleo continuam sendo os motores da atividade econômica na Venezuela, de acordo com relatório divulgado pelo BNP Paribas em setembro. “Em particular, o setor de construção continua forte, refletindo os esforços oficiais para impulsionar a atividade econômica em ano eleitoral”, afirma o relatório.
“Quem quer que seja que ganhe a eleição terá de lidar com uma macro economia que está crescendo fora de sintonia”, afirma o relatório do Goldman Sachs. O banco destaca a inflação, o déficit fiscal, o desalinhamento do câmbio, repressão financeira e algumas distorções de preços. Até agora, esses fatores foram contidos por um conjunto crescente de regulações e controles, segundo o Goldman.
“Anos de uma política heterodoxa e intervenção pesada na economia – que parece marchar para um comando centralizado - com certeza prejudicaram a estrutura econômica nos níveis macro e micro”, afirma o relatório. O banco acredita que uma grande desvalorização da moeda no primeiro semestre de 2013 é “virtualmente inevitável”.
O BNP Paribas projeta que o PIB venezuelano possa crescer 5% em 2012 (perante 4,2% em 2011 e uma queda de 1,5% em 2010) com uma performance robusta no terceiro trimestre, uma vez que as políticas de estímulo estão programadas para depois das eleições presidenciais, nesse domingo. Para 2013 a previsão de crescimento é de 2,0%.
O Goldman espera que o PIB caia 3% em 2013, pois “as autoridades serão forçadas a reduzir a intensidade de estímulos fiscais após as eleições e distorções macro se tornarão ainda mais caras em termos de eficiência”.