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Oposição nega diálogo com Maduro anunciado pelo Vaticano

"Não iniciamos qualquer diálogo, é incerto que haja as condições para tal", declarou o presidente da comissão de política externa do Parlamento

Henrique Capriles: Capriles afirmou não ter conhecimento sobre este consenso (Reuters/Marco Bello)

Henrique Capriles: Capriles afirmou não ter conhecimento sobre este consenso (Reuters/Marco Bello)

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AFP

Publicado em 25 de outubro de 2016 às 09h01.

O ex-candidato presidencial venezuelano Henrique Capriles negou nesta segunda-feira que a oposição tenha iniciado um diálogo com o governo do presidente Nicolás Maduro, após o anúncio do emissário do Papa Francisco, Emil Paul Tscherrig, sobre as conversações.

"Qual diálogo?! Na Venezuela não iniciamos qualquer diálogo (...) Eles pretendem usar a boa-fé do Papa Francisco, a boa-fé do núncio argentino, para dizer: aqui não está acontecendo nada" - denunciou Capriles em transmissão ao vivo na Periscope.

Simultaneamente, o deputado Luis Florido, do partido Vontade Popular - fundado pelo opositor detido Leopoldo López, também negou o diálogo.

"Não iniciamos qualquer diálogo, é incerto que haja as condições para tal", declarou Florido, presidente da comissão de política externa do Parlamento, controlado pelo opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Em uma inesperada entrevista coletiva, Tscherrig anunciou que "hoje se iniciou o diálogo nacional durante um encontro entre representantes do governo e da oposição, com o propósito de estabelecer as condições para convocar uma reunião plenária na Ilha Margarita, no dia 30 de outubro".

Mas Capriles afirmou não ter conhecimento sobre este consenso. "Uma reunião em Margarita jamais foi considerada. Soube disto pela televisão".

Tanto Capriles como Florido reafirmaram os apelos ao protesto nacional convocado para a próxima quarta-feira contra a paralisação do referendo.

"Não podemos ir para um processo de diálogo que permita ao governo dizer que aqui não está acontecendo nada. Tenham a absoluta segurança de que a oposição não vai se prestar a isto", declarou Capriles, governador do estado de Miranda.

"O povo é que tem que decidir. Não se resolve a crise sentando com o governo para tirar uma foto. O governo está jogando com esta situação, quer destruir a unidade" da oposição.

Em comunicado, a Vontade Popular destacou que "hoje não há condição (para o diálogo) devido à persistência do regime em promover o confronto sociopolítico, a perseguição e o medo entre todos os que pensam diferente".

Posteriormente, a MUD emitiu um comunicado esclarecendo quais seriam os termos de um eventual diálogo.

"Ratificamos que para nós qualquer processo de diálogo tem quatro objetivos fundamentais: respeito ao direito ao voto, liberdade para os presos políticos e retorno dos exilados, atenção às vítimas da crise humanitária e respeito à autonomia dos poderes".

A MUD destacou ainda que qualquer diálogo "deve ser realizado em Caracas, diante da opinião pública".

Henry Ramos Allup, presidente do Parlamento e membro da Ação Democrática, disse no Twitter que se todos os partidos fossem convidados, "também iríamos, mas soubemos disto pela televisão, e também não vamos".

O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, considerou que a situação evidência uma fratura na oposição. "Esta luta por protagonismo, caprichos e egos que existe entre os dirigentes da MUD envolvendo o diálogo eles querem impor a todo o país", escreveu no Twitter.

Durante o dia, ocorreram vários protestos de estudantes universitários, que foram reprimidos. Em San Cristóbal (oeste), uma manifestação acabou com ao menos 27 feridos e um detido.

Encontro em Roma

O anúncio de que delegados do governo e da oposição haviam se reunido para "estabelecer as condições para convocar uma reunião plenária" em Margarita (norte) foi realizado por Tscherrig, núncio apostólico na Argentina, após o Papa Francisco receber Maduro no Vaticano.

Segundo Tscherrig, o encontro em Caracas, celebrado sob os auspícios da Unasul, transcorreu "em um clima de respeito, cordialidade e vontade política para fazer este processo avançar",

Na reunião, governo e oposição propuseram temas, metodologia e cronograma do diálogo, e acordaram "trabalhar em conjunto para garantir a segurança e o desenvolvimento pacífico" de manifestações convocadas pelas duas partes.

Maduro, que teve uma audiência privada com o Papa após uma escala em Roma, na viagem de volta do Oriente Médio, comemorou a intervenção de Francisco.

"Agradeci em nome da Venezuela por todo o apoio para que, por fim, definitivamente, se instale uma mesa de diálogo entre os diferentes atores da oposição e o governo legítimo e bolivariano que eu presido", disse à emissora oficial VTV.

"Já se vinha trabalhando com contatos com todos os grupos e líderes da oposição e felizmente terminou positivamente", acrescentou.

Durante a audiência, Francisco exortou "ao diálogo sincero e construtivo" entre o governo e a oposição a fim de "aliviar o sofrimento" do povo na Venezuela.

A suspensão do referendo, com o qual a opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) visava a tirar Maduro do poder, deixou o ambiente político ainda mais tenso, em um país que sofre uma crise econômica severa, com grave escassez de produtos básicos e uma inflação que o FMI estima em 475% para este ano.

Dominada pela oposição, a Assembleia Nacional declarou no domingo que a paralisação do referendo consumou um "golpe de Estado" e anunciou ações para "restituir a ordem constitucional".

A oposição sustenta que a solução para a crise é a saída do poder de Maduro, cuja impopularidade chega a 76,5% e a quem mais de 60% querem revogar, segundo a empresa Datanálisis.

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