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Oposição marcha em silêncio após distúrbios na Venezuela

Pela primeira vez, os manifestantes opositores completaram seu trajeto, passando por zonas consideradas bastiões chavistas

Venezuela: oposição faz protesto silencioso contra mortes nas últimas manifestações (REUTERS/Christian Veron/Reuters)
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AFP

Publicado em 23 de abril de 2017 às 09h40.

Vestidos de branco, opositores venezuelanos seguiram neste sábado (22) até a sede da Conferência Episcopal em uma "marcha do silêncio", após o aumento da violência que deixou 20 mortos em três semanas de protestos contra o governo.

Em meio a um forte esquema de segurança, várias marchas confluíram para a frente da sede da instituição eclesiástica em Caracas, considerada pelo governo como um "ator político". Lá, lideranças da oposição se reuniram com representantes da Igreja.

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A Conferência Episcopal fica no oeste de Caracas. Pela primeira vez, os manifestantes opositores completaram seu trajeto, passando por zonas consideradas bastiões chavistas, sem os confrontos que se tornaram recorrentes nas últimas semanas.

O simples fato de chegar ao local foi considerado um triunfo pela oposição, que prometeu manter a pressão nas ruas e convocou para segunda-feira uma "paralisação nacional", um bloqueio das vias em todo o país.

Depois do fim da mobilização, houve alguns choques no leste de Caracas, onde a Polícia usou gás lacrimogêneo para impedir bloqueio das ruas. De um modo geral, porém, o evento transcorreu sem problemas.

Uma jornalista denunciou que foi agredida por grupos ligados ao governo em um bairro próximo à sede da Conferência e outro informou que foi detido por algumas horas por agentes de inteligência, segundo o sindicato da categoria.

"A Venezuela quer paz!", gritou um grupo de manifestantes acompanhados por policiais motorizados, depois de chegarem a um acordo com os agentes.

Em outro ponto, em um bairro popular, também após negociações, a Guarda Nacional afastou seus homens para deixar o caminho livre. Entre aplausos e entoando o hino nacional, os manifestantes continuaram sua marcha.

"Vamos continuar na rua. Esta não é a hora de desistir, é a hora de resistir (...). Se todos os venezuelanos se unirem, não haverá cúpula corrupta que possa com a força de cada um de nós", afirmou o líder Henrique Capriles, em um megafone.

Muitos manifestantes usavam camisetas brancas com a palavra "PAZ", levando bandeiras e bonés em vermelho, azul e amarelo, além de flores brancas.

"O governo tem de sair. Tem de escutar o povo. O povo não quer mais nem comunismo, nem revolução, nem nada do que nos trouxe tanto sofrimento. Vamos fazer eleições gerais", defendeu a advogada Rosibel Torres, que estava na marcha.

Ao chegar à sede do episcopado, usando um megafone, um padre e um pastor evangélico rezaram em um altar improvisado na parte de trás de uma caminhonete.

Manifestações similares aconteceram em outras cidades, como Maracaibo, Barquisimeto e San Cristóbal, no oeste do país.

Véspera de violência

Na sexta-feira à noite, foram registrados pequenos protestos e focos de distúrbios em uma área de Petare e Palo Verde, zona leste de Caracas. As forças de segurança usaram gás lacrimogêneo para dispersar as manifestações. Testemunhas afirmaram que homens armados percorreram as ruas em motos e provocaram pânico.

Foi mais uma noite de violência em Caracas, depois da batalha campal de quinta-feira no bairro popular de El Valle, com tiroteios, saques e confrontos entre manifestantes e as forças de segurança.

Governo e oposição trocaram acusações sobre a violência, que, desde o início das manifestações de rua em 1º de abril, deixou 20 mortos, além de centenas de detidos e feridos.

A oposição anunciou a intenção de manter a pressão nas ruas e convocou uma "obstrução nacional" para segunda-feira, e que prevê o bloqueio das principais avenidas de Caracas.

"O país não tem um só osso saudável. As pessoas vão continuar protestando. O desafio da oposição será fazer entender que não existe apenas um método de protesto, porque provavelmente as marchas devem se desgastar", disse à AFP o sociólogo e professor universitário Francisco Coello.

De acordo com pesquisas, sete em cada 10 venezuelanos reprovam o governo, asfixiados por uma severa escassez de alimentos e de remédios, além de uma inflação que deve alcançar, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), 720,5% este ano - a maior do mundo.

Maduro, cujo mandato vai até 2019, afirma que a "direita extremista venezuelana" busca derrubá-lo com o apoio dos Estados Unidos, mas a oposição insiste em que deseja retirá-lo do poder pela via eleitoral.

As eleições para governadores deveriam acontecer em 2016, mas foram suspensas e ainda não têm data. As eleições municipais estão programadas para este ano, e as presidenciais, para dezembro de 2018.

Apesar de Maduro afirmar que está ansioso para disputar eleições, descartou antecipar o pleito presidencial, pedindo aos adversários um diálogo e o abandono do que chama de "agenda golpista".

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