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ONU lamenta "má direção" do mundo para conter mudanças climáticas

"A mudança climática avança mais rápido do que nós e precisamos alcançar nosso atraso o mais rápido possível", advertiu o secretário-geral da ONU

Antonio Guterres na abertura da cúpula do clima (COP24), que acontece na Polônia (Kacper Pempel/ Reuters/Reuters)

Antonio Guterres na abertura da cúpula do clima (COP24), que acontece na Polônia (Kacper Pempel/ Reuters/Reuters)

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AFP

Publicado em 3 de dezembro de 2018 às 15h00.

Apesar das evidências irrefutáveis, o mundo "não está tomando a boa direção" para frear os efeitos catastróficos das mudanças climáticas - advertiu o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, nesta segunda-feira, na abertura da cúpula do clima (COP24), que acontece na Polônia.

"Embora sejamos testemunhas de devastadores impactos climáticos que provocam o caos em todo mundo, continuamos sem fazer o necessário, não vamos suficientemente rápido", declarou Guterres no segundo dia da 24ª conferência da ONU em Katowice.

"A mudança climática avança mais rápido do que nós e precisamos alcançar nosso atraso o mais rápido possível, antes que seja tarde demais", insistiu ele, ressaltando que "para muitas pessoas, regiões e até mesmo países, já é uma questão de vida ou morte".

Portanto, "é difícil entender por que, coletivamente, ainda estamos nos movendo tão lentamente, e mesmo na direção errada", acrescentou.

Enquanto os países mais pobres pretendem aproveitar a cúpula para exigir mais compromissos das nações ricas, Guterres também enfatizou "a responsabilidade coletiva de ajudar as comunidades e os países mais vulneráveis, como Estados insulares e países menos desenvolvidos, apoiando políticas de adaptação e resistência" aos impactos das mudanças climáticas.

O primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, presidente da COP23, aproveitou a oportunidade da reunião para destacar a urgência da ação.

"Que Deus nos perdoe, mas se ignorarmos a evidência irrefutável, vamos nos tornar a geração que traiu a humanidade", advertiu. "Para aqueles que arrastam os pés, eu simplesmente digo 'atuem'", acrescentou, lançando "uma mensagem inequívoca" para aumentar as ambições contra o aquecimento global.

Os países do Hemisfério Sul esperam que a comunidade internacional amplifique seus objetivos de redução de emissões de gases que provocam o efeito estufa. Além disso, pretendem recordar ao Norte a promessa de aumentar o financiamento das políticas climáticas nos países em desenvolvimento a 100 bilhões de dólares por ano até 2020.

"O grupo dos PMA (Países Menos Avançados) representa quase um bilhão de pessoas. Elas são as menos responsáveis pela mudança climática, mas as mais vulneráveis a suas consequências", comentou antes da conferência o presidente da delegação, o etíope Gebru Jember Endalew, que apontou a necessidade de "bilhões de dólares" para financiar estas políticas.

A questão do financiamento Norte-Sul geralmente atrapalha as negociações. Por este motivo, o Banco Mundial anunciou nesta segunda-feira a liberação de 200 bilhões de dólares entre 2021 e 2025 para ajudar na redução das emissões e na adaptação da mudança climática, o "dobro" na comparação com período anterior.

"Isto envia um sinal importante para a comunidade internacional, para que faça o mesmo", destacou a instituição.

Mas os analistas temem que o contexto internacional, com a reiterada rejeição do presidente americano Donald Trump ao Acordo de Paris, não seja propício para a adoção de novos compromissos.

Os representantes de 200 países estão reunidos em Katowice desde domingo para tentar, em duas semanas, dar vida ao Acordo de Paris de 2015, que visa limitar o aquecimento global a +2°C, idealmente +1,5°C, em comparação com a era pré-industrial.

Mas de acordo com o recente relatório dos cientistas do IPCC, para manter o aquecimento abaixo de +1,5°C, as emissões de CO2 devem ser reduzidas em quase 50% até 2030 em comparação com 2010. Isto implica uma grande transformação da economia, algo que encontra forte resistência.

Neste sentido, a Polônia, anfitriã do encontro e defensora ferrenha de sua indústria do carvão, quer adotar nesta segunda-feira uma declaração sobre a "transição justa", que enfatize os "desafios" enfrentados pelas regiões que devem deixar os combustíveis fósseis.

"Muitas vezes, a ação climática é vista como um fardo, mas uma ação climática resoluta hoje é a nossa chance de colocar nosso barco de volta na direção certa e traçar o caminho para um futuro melhor para todos", estimou o secretário-geral da ONU.

De acordo com uma versão preliminar, à qual a AFP teve acesso, a "declaração de Silésia", coração da produção de carvão polonesa", "admite os desafios enfrentados pelos setores, cidades e regiões em um período de conversão das energias fósseis (...) e a importância de assegurar um futuro decente aos trabalhadores afetados por esta transição".

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