A 4ª Conferência Intergovernamental de Alto Nível sobre o programa Unidos em Ação foi aberta pelo presidente do Uruguai, José Mujica (Juan Mabromata/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2011 às 18h03.
Montevidéu - Representantes de 30 países e vários diretores das Nações Unidas se reuniram nesta terça-feira no Uruguai para concretizar o novo rumo da cooperação para o desenvolvimento da ONU com o objetivo de torná-la mais eficiente em um contexto de severos ajustes financeiros impostos pela crise econômica global.
A 4ª Conferência Intergovernamental de Alto Nível sobre o programa Unidos em Ação foi aberta pelo presidente do Uruguai, José Mujica, pela vice-secretária-geral das Nações Unidas, Asha-Rose Migiro, e pela administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Helen Clark.
O Unidos na Ação é um plano piloto iniciado em 2007 para aumentar a eficiência da colaboração entre o Pnud e as nações receptoras e doadoras.
O Uruguai, sede da conferência, é um dos oito países que o adotou o plano, assim como Albânia, Cabo Verde, Moçambique, Paquistão, Ruanda, Tanzânia e Vietnã, embora nos últimos anos outras 20 nações venham realizando trabalhos similares com o mesmo objetivo.
As três primeiras reuniões sobre a iniciativa foram realizadas em Maputo (2008), Kigali (2009) e Hanói (2010).
Embora nem Migiro nem Clark tenham feito menção ao assunto no ato inaugural, as duas expressaram - em entrevista coletiva posterior - sua preocupação com os efeitos da crise econômica mundial sobre os programas de assistência da ONU nos países pobres.
'É certo que a ajuda ao desenvolvimento em nível mundial chegou a um limite', destacou Clark, que reconheceu que os cortes de gastos dos países doadores provocam 'um impacto para os organismos de desenvolvimento das Nações Unidas', para os Estados receptores e para as ONG que executam os programas de assistência.
Ela também revelou que há uma grande preocupação na ONU para que se consiga uma rápida resolução da crise da dívida na zona do euro e para que terminem as dificuldades fiscais nos Estados Unidos.
Já na opinião de Migiro, as Nações Unidas têm agora a missão de se reinventar para responder ao novo cenário mundial. 'Temos de pensar como estabelecer uma organização ágil e efetiva', assinalou ela, referindo-se ao programa Unidos em Ação.
Por isso, a vice-secretária-geral pediu aos governos dos países interessados que indiquem suas prioridades para poder ir adiante, apesar da crise.
A número dois de Ban Ki-moon também lamentou o anúncio dos Estados Unidos de retirar os fundos destinados à Unesco, após a entrada da Palestina, e reivindicou esforços ao resto da comunidade internacional para suavizar os prejuízos dessa medida.
Antes, no ato inaugural, o presidente Mujica fez um apelo à comunidade internacional para que estabeleça 'uma governança mundial mais equitativa e menos imperial', em aparente referência à distribuição de assentos no Conselho de Segurança da ONU, que desde a criação da entidade - em 1945 - mantém os mesmos países-membros permanentes (EUA, França, Reino Unido, China e Rússia).
O chanceler uruguaio, Luis Almagro, reiterou depois as aspirações do Uruguai de ocupar uma vaga no Conselho como membro não-permanente durante o biênio 2015-2016.
Em discurso fortemente reivindicativo, Mujica advertiu que 'globalização não significa igualdade'. O líder uruguaio e ex-guerrilheiro, de 76 anos, se dirigiu a outros países em desenvolvimento como o Uruguai, que tem 3,3 milhões de habitantes, para pedir-lhes que unam forças frente às 'gigantescas unidades' resultantes da globalização.
O pró-secretário da Presidência uruguaia, Diego Cánepa, aproveitou a ocasião para reivindicar à ONU uma revisão da classificação de país de renda média, que em sua opinião não é justa porque se baseia no PIB per capita, mas não leva em conta as desigualdades sociais.
Esta categoria, atribuída ao Uruguai, impede a nação de ter acesso a mais recursos para lutar contra a pobreza.
No ato inaugural, o vice-ministro das Relações Exteriores do Vietnã, Le Luong Minh, considerou que o plano Unidos em Ação significou a obtenção de 'muita maior coerência, eficiência e efetividade na cooperação da ONU'.
Já a vice-ministra de Cooperação Internacional da Noruega, Ingrid Fiskaa, destacou que, neste âmbito, 'a liderança através das autoridades nacionais é fundamental' para que o sistema das Nações Unidas 'possa se alinhar com os programas dos governos'.
Está previsto que os conteúdos desta conferência - a última sobre este projeto, que conclui na quinta-feira - sejam apresentados perante a Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York.