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ONU adverte sobre risco de nova crise alimentar

Cerca de 80 países correm risco de não terem alimentos suficientes devido à alta nos preços

O aumento no preço do trigo e do milho são os que mais preocupam a ONU  (LUIGI MAMPRIN/GUIA RURAL)

O aumento no preço do trigo e do milho são os que mais preocupam a ONU (LUIGI MAMPRIN/GUIA RURAL)

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Da Redação

Publicado em 11 de janeiro de 2011 às 17h06.

Paris - A ONU advertiu, nesta terça-feira, sobre o risco de uma nova escalada dos preços dos alimentos, com consequências "muito perigosas" para 80 países, como o Sahel africano e o Haiti, apesar da reconstituição de reservas de grãos desde a crise alimentar de 2008.

"Vivemos atualmente o começo de uma crise alimentar similar à de 2008", disse em entrevista ao jornal francês Les Echos o relator especial das Nações Unidas sobre o direito à alimentação, Olivier de Schutter.

"Estamos diante de uma situação muito tensa", reforçou a economista da FAO (Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura) Abdolreza Abbassian, em declarações à AFP.

Cerca 80 países enfrentam um déficit alimentar e entre os mais expostos estão Burkina Faso, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, Chade e Haiti. Entre os 70 restantes estão países latino-americanos, como Nicarágua e Honduras.

O aumento dos preços das 'commodities' agrícolas fragiliza países importadores com escassas reservas de divisas, como Moçambique, Afeganistão, Mongólia ou Coreia do Norte.

A disparada dos preços começou em agosto, particularmente os do milho e do trigo. O índice global de preços de produtos agropecuários de base (cereais, carne, açúcar, oleaginosas, lácteos) se situa atualmente no nível máximo desde que a FAO começou a elaborar este índice há 20 anos.

Esta carestia é "muito perigosa" para os países em vias de desenvolvimento e "não vejo nenhuma razão fundamental para que esta tendência se modifique nos próximos seis meses", disse Schutter.

As reservas de grãos, no entanto, foram reconstituídas em 2008 e 2009. Os estoques de trigo passaram de 166,19 milhões de toneladas em 2008/2009 para 196,68 milhões um ano depois, segundo o ministério americano da Agricultura (USDA). Em 2010/11 prevê-se que cheguem a 176,72 milhões de toneladas, apesar da seca e dos incêndios na Rússia e das inundações na Austrália.

"O mundo não está diante de uma situação de penúria" pois estas reservas são suficientes para atender à demanda mundial este ano, insistiu o relator da ONU.

A FAO indicou, ainda, que o preço do arroz, base alimentar na Ásia, caiu à metade do seu nível de 2007/2008.


A disparada dos preços das outras 'commodities' obedeceu a mais um movimento de "pânico" dos mercados que a um desequilíbrio entre a oferta de a demanda, sustentou a ONU.

"Quando se acumulam informações sobre incêndios na Rússia, ondas de calor na Ucrânia e chuvas torrenciais no Canadá, alguns operadores de mercado buscam evitar vender rapidamente, enquanto os compradores tentam adquirir como podem. Se todos fazem isto, os preços aumentam", resumiu Olivier de Schutter.

Segundo o encarregado, para se evitar uma nova crise alimentar, os países industrializados do G8 deveriam cumprir as promessas que fizeram em abril de 2009 na cúpula de L'Aquila (Itália).

Mas até agora só chegou a se materializar 20% dos 20 bilhões de dólares de investimentos anunciados na ocasião para reativar a produção agrícola nos países em desenvolvimento.

Segundo Schutter, esta cifra é "muito decepcionante".

A ONU estuda também outras opções para conter a especulação. A primeira é a constituição de estoques de grãos que poderiam ser administrados em escala regional ou entre vários países que "se asseguram mutuamente deste modo contra o risco de uma má colheita".

Trata-se de uma ideia surgida na América Central e no sul da Ásia, onde existe um banco central do arroz, que requer uma "gestão delicada, embora não insuperável", disse o relator da ONU.

Outro caminho é impor maior transparência ao mercado de derivativos, no qual "92% das operações (diretas entre as partes) se realiza de forma obscura", acrescentou.

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