OMS corre contra o tempo para testar vacinas contra o ebola
O Canadá ofereceu à OMS 800 frascos, cada um contendo duas doses, da vacina rVSV, desenvolvida no Laboratório Nacional de Microbiologia, em Winnipeg
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2014 às 18h20.
Um lote de vacinas experimentais contra o ebola deve chegar nesta terça-feira à Suíça, procedente do Canadá, enquanto cientistas correm contra o relógio para tentar vencer a febre hemorrágica mortal, que arrasa o oeste da África, onde está a maioria dos mais de 4.500 mortos pela epidemia.
Marie-Paule Kieny, diretora-geral assistente da Organização Mundial da saúde ( OMS ), informou que os 800 frascos chegarão de avião nesta terça e serão transportados na quarta-feira para o Hospital da Universidade de Genebra.
"É melhor mantê-los em um reservatório central do que começar a espalhá-los para depois tentar verificar se foram mantidos na temperatura correta", explicou Kieny a jornalistas.
As vacinas precisam ser armazenadas a uma temperatura de -80º C.
O Canadá ofereceu à OMS 800 frascos, cada um contendo duas doses, da vacina rVSV, desenvolvida no Laboratório Nacional de Microbiologia, em Winnipeg.
Licenciada pelo governo canadense à empresa americana NewLink Genetics, a rVSV é uma das vacinas experimentais contra o ebola apontadas pela OMS como tendo demonstrado resultados promissores nos testes feitos em macacos.
A outra vacina, ChAd3, é produzida pela empresa britânica GlaxoSmithKline.
Kieny explicou que as duas são as "candidatas principais" para serem usadas no combate ao ebola, que matou mais de 4.500 pessoas desde o início da maior epidemia da febre hemorrágica já registrada, na Guiné em dezembro do ano passado.
A absoluta maioria das mortes e dos 9.200 casos registrados foram reportados em Guiné, Libéria e Serra Leoa, mas infecções em outros países, como Espanha e Estados Unidos, despertaram temores de um contágio ainda mais amplo.
Os testes clínicos da rVSV começaram nos Estados Unidos em setembro e foram feitos com cerca de dez voluntários, disse Kieny.
Os testes coordenados pela OMS devem começar na Suíça, na Alemanha, no Gabão e no Quênia, afirmou.
Enquanto isso, a ChAd3 está sendo testada nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e no Mali, e testes adicionais estão previstos para começar no Hospital da Universidade Vaud, em Lausanne, na Suíça.
"Estamos aguardando o sinal verde da Swissmedic para começar", disse à AFP o porta-voz do hospital, Darcy Christen, mencionando o regulador nacional.
Cada teste suíço deve ser realizado com 120 voluntários e os 240 combinados representarão metade do total global mobilizado para testar os dois imunizantes.
Kieny destacou que os voluntários não correm risco de pegar o ebola, uma vez que as vacinas contêm uma única proteína do vírus.
Estes testes são importantes porque ajudarão a determinar tanto a segurança das vacinas quanto a proporção da resposta imunológica que serão capazes de provocar contra o ebola.
"Estes dados são absolutamente cruciais para permitir a tomada de decisões a respeito do nível de doses" que deve ser usado em testes futuros na África, explicou Kieny.
"Por que são tão importantes? Bem, todos nós queremos ter o máximo de vacinas possível. E o máximo de vacinas depende da quantidade de vacina que você precisará colocar em uma dose", acrescentou.
Quanto menor a dose exigida para uma aplicação eficaz, mais fácil será para os fabricantes fornecer as enormes quantidades requeridas.
Enquanto os testes para rVSV e ChAd3 devem durar de seis meses a um ano, espera-se que os resultados iniciais permitam aos cientistas estabelecer um nível de dosagem até o final de dezembro.
A meta, segundo Kieny, é conseguir mandar estoques iniciais para a África no começo de 2015.
E um objetivo importante é ajudar a proteger as equipes de saúde do ebola. Até agora, 240 funcionários do setor morreram cuidando de pacientes infectados.