Diante da gravidade da epidemia de febre hemorrágica ebola, que já deixou mais de 1.000 mortos, a comunidade médica internacional aprovou nesta terça-feira o emprego de tratamentos ainda não testados em humanos.
O Comitê de Ética da Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou em uma reunião na segunda-feira o uso desses tratamentos, em primeiro lugar, nos países do oeste africano mais atingidos pela doença, no mesmo dia em que morreu um missionário espanhol repatriado da Libéria.
Esta foi a primeira morte causada pelo vírus na Europa desde que a epidemia atual foi reportada.
"Diante das circunstâncias da epidemia e sob certas condições, o comitê concluiu que é ético oferecer tratamentos - ainda que não tenham eficácia comprovada, assim como os efeitos colaterais - como potencial tratamento ou de caráter preventivo", afirmou em nota a OMS.
Em Nova York, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou planos para reforçar a resposta global à epidemia de ebola e colocá-la sob controle, ao mesmo tempo em que pediu que os governos evitem o pânico.
Ban nomeou o médico David Nabarro como coordenador da ONU para o ebola, encarregado de supervisionar a estratégia mundial de combate à doença.
"Temos que evitar o pânico e o medo. O ebola pode ser evitado", disse Ban a jornalistas no escritório central da ONU.
"Com recursos, informação, ação precoce e vontade, as pessoas podem sobreviver à doença", disse.
Morte de missionário espanhol
Até o momento não existe um tratamento de cura ou vacina contra o ebola, epidemia que levou a OMS a decretar uma emergência de saúde pública mundial.
Mas o uso do medicamento experimental ZMapp em dois americanos e um padre espanhol - que faleceu nesta terça-feira em Madri - infectados com o vírus quando trabalhavam na África provocou um intenso debate ético.
O medicamento, do qual existe pouca quantidade, parece apresentar resultados promissores nos dois americanos, mas o religioso espanhol morreu nesta terça-feira em um hospital de Madri.
Miguel Pajares, de 75 anos, "morreu às 09H28" (04H28 de Brasília), indicou à AFP uma porta-voz do hospital La Paz-Carlos III. Ele não resistiu à febre, apesar do tratamento experimental.
O missionário, primeiro paciente a ser repatriado à Europa, trabalhava no hospital São José de Monróvia, administrado pela ordem religiosa de São João de Deus.
Trata-se do quarto funcionário deste hospital, fechado desde 1º de agosto pelas autoridades da Libéria, a morrer em dez dias após contrair o vírus.
O comitê condicionou o uso dos tratamentos experimentais a uma "transparência absoluta sobre os cuidados, a um consentimento informado, à liberdade de escolha, à confidencialidade, ao respeito das pessoas e à preservação da dignidade e ao envolvimento das comunidades".
Também estabeleceu "a obrigação moral de obter e compartilhar as informações sobre segurança e eficácia das intervenções", que devem ser objeto de avaliação constante.
O número de mortes provocadas pelo vírus ebola superou a barreira de mil, com 1.013 óbitos e 1.848 casos registrados (confirmados, suspeitos e prováveis) em Guiné, Serra Leoa, Libéria e Nigéria, segundo o balanço mais recente da OMS.
O vírus ebola é transmitido pelo contato direto com o sangue e fluídos corporais humano ou animal infectado.
Antes mesmo do anúncio da aprovação da OMS, os Estados Unidos prometeram o envio à Libéria, um dos países mais atingidos pela epidemia, do soro experimental ZMapp, disponível em pequena quantidade, para tratar os médicos atualmente infectados.
A empresa americana Mapp Biopharmaceutical, que produz o medicamento, informou na segunda-feira que enviou o estoque para o oeste da África.
Médicos de todo o mundo participaram nos debates da OMS na segunda-feira em Genebra.
Segundo a organização, em apenas dois dias, entre 7 e 9 de agosto, 52 mortos por ebola foram registradas e 69 casos foram relatados.
Houve 11 novos casos e 6 mortes em Guiné, 45 novos casos e 29 mortes na Libéria, nenhum novo caso ou morte na Nigéria e 13 novos casos com 17 mortes em Serra Leoa.
Os profissionais da área de saúde são os mais expostos à doença. Sete médicos e um enfermeiro chineses que haviam trataram pacientes com ebola foram colocados em quarentena nas últimas duas semanas em Serra Leoa, segundo o embaixador da China em Freetown, Zhao Yanbo.
Firmeza das autoridades africanas
Frente a esta situação de emergência, a Libéria reforçou suas medidas de contenção da doença.
A presidente Ellen Johnson Sirleaf anunciou que a província de Lofa (norte) tinha entrado em quarentena, a terceira região abrangida por esta medida de exceção.
Lofa faz fronteira com Guiné e Serra Leoa, dois países atingidos pela epidemia.
Já Guiné-Bissau decidiu nesta terça-feira fechar a fronteira com a Guiné.
O Japão decidiu retirar os seus 24 trabalhadores humanitários que estão em Guiné, Libéria e Serra Leoa.
No Senegal, país vizinho da Guiné, o diretor do jornal "La Tribune", Felix Nzale, foi levado sob custódia policial na segunda-feira por publicar "informações falsas" sobre a presença do vírus ebola no Senegal.
Em Ruanda, os testes determinaram que um estudante alemão que veio de Ruanda não estava contaminado com ebola.
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1. O que é ebola?
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1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
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2. A origem
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2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
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3. A epidemia atual
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3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
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4. Os sintomas
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4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
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5. Transmissão
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5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
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6. O tratamento
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6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
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7. Como se proteger
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7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
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8. Epidemia global
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8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
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9. Vacina experimental
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9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
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10. Fronteiras fechadas
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10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
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11. Não há mercado para a vacina
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11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
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12. Medicação
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12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
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13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
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13/13 (Reuters)