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Oito nerds e um grande segredo da política britânica

Eles são os maiores especialistas em ciência eleitoral do Reino Unido e sua missão é elaborar a primeira projeção oficial do resultado das urnas

Big Ben: a pesquisa de boca-de-urna é publicada quando o Big Ben badalar às 22 horas (TomasSereda/Thinkstock)

Big Ben: a pesquisa de boca-de-urna é publicada quando o Big Ben badalar às 22 horas (TomasSereda/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2017 às 18h35.

Londres - Nesta quinta-feira, em um lugar secreto em Londres, oito homens se reunirão em uma sala fechada, debruçados sobre laptops.

Eles são os maiores especialistas em ciência eleitoral do Reino Unido e sua missão é elaborar a primeira projeção oficial do resultado das urnas.

A pesquisa de boca-de-urna, publicada quando o Big Ben, sino que fica na torre do relógio do Parlamento, badalar às 22 horas, revelou resultados surpreendentes nas duas últimas eleições, anunciando a primeira coalizão governamental do pós-guerra em 2010 e uma vitória esmagadora do Partido Conservador em 2015, quando outra coalizão era favorita. Ela é realizada em condições extremamente seguras, e os envolvidos juram não revelar com exatidão os métodos usados.

“É claro que é empolgante”, disse Rob Ford, professor de política da Universidade de Manchester, que esteve envolvido na elaboração da pesquisa desde 2005 e ajudou a editar o livro “Sex, Lies and the Ballot Box”.

“Somos as primeiras pessoas do país a saber o que vai acontecer. Durante a maior parte do dia, somos os únicos a saber o que virá pela frente.”

Os resultados são mais confiáveis que os das pesquisas comuns porque se baseiam em entrevistas com pessoas que de fato votaram, o que elimina o problema das pessoas que dizem que vão votar, mas não votam, e daquelas que mudam de ideia na urna.

Na vez passada, 20.000 eleitores foram entrevistados ao todo. Ao usar dados históricos de eleições anteriores, a pesquisa busca medir mudanças nos padrões de votação em todo o país. Eles então são combinados para prever como cada região vai votar.

A equipe é liderada por John Curtice, 63, um professor de política da Universidade Strathclyde, em Glasgow, que consegue ter uma cabeleira rebelde apesar de estar ficando careca e ganhou fama de ser o guru das pesquisas da BBC em suas aparições na TV.

Psefologia — que vem da palavra grega para seixos, usados antigamente para votar — envolve ciências, análises numéricas e uma decisão subjetiva sobre como interpretar os dados. Para Curtice, também é uma forma de arte e uma antiga paixão.

Parte da arte da pesquisa é identificar como distintos setores do eleitorado estão mudando. Eleitores das zonas rurais podem ir para um lado enquanto eleitores das zonas urbanas vão para o outro.

Nesta eleição, candidatos do Partido Trabalhista afirmam ter grande apoio entre os jovens e a população de centros urbanos, mas menos nas regiões suburbanas.

O sigilo é fundamental para evitar que o resultado vaze, embora no Reino Unido seja crime publicar informações sobre os resultados enquanto as urnas estiverem abertas.

“Os procedimentos de segurança são extremamente estritos”, disse Ford. Os telefones celulares de todos os presentes na sala são confiscados.

Três emissoras — BBC, Sky e ITV — financiam conjuntamente a pesquisa, mas pouquíssimos de seus funcionários têm autorização para saber os resultados, e até mesmo os que têm só são informados no último minuto possível.

Como precisam de tempo para preparar os efeitos visuais, os primeiros a saber são os membros da equipe de gráficos, antes mesmo que correspondentes seniores.

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