Odebrecht: "Pegamos todos os últimos presidentes peruanos", diz procurador
A destituição do procurador peruano causou incerteza na Procuradoria do Brasil e na Odebrecht, já que estavam próximos de assinar um acordo de cooperação
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de janeiro de 2019 às 11h45.
São Paulo - Uma semana após ser destituído como chefe da equipe que investiga o caso Odebrecht no Peru, o procurador Rafael Vela afirma que o acordo com a empreiteira não implica impunidade, mas em possibilidade de aproveitar as informações fornecidas. "As empresas entregam informações relevantes e, em troca, obtêm benefícios", disse. A seguir trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.
Qual a maior dificuldade para continuar seu trabalho?
Neste momento, temos um grupo relativamente pequeno de trabalho. Seria importante aumentar a equipe para enfrentar as investigações que são altamente complexas. Isso não era possível antes, porque a relação com a Procuradoria-Geral estava muito deteriorada. O que a gente propunha não era aprovado e as pessoas que eles indicavam não achávamos adequadas para o trabalho.
Sua destituição foi surpresa?
Sabia que era uma possibilidade. Vínhamos convivendo com hostilidades, ingerências constantes, tanto da Procuradoria-Geral quanto de funcionários com laços estreitos com o ex-procurador-geral. Com investigações tão complexas é indispensável o apoio da instituição, e nós não tínhamos. O clímax veio no dia 31 de dezembro, quando o procurador-geral (Pedro Chávarry) decidiu nos retirar das funções.
Qual foi o impacto imediato para o caso Odebrecht?
A decisão causou incerteza na Procuradoria do Brasil e na empresa (Odebrecht), porque estávamos muito perto de assinar um acordo de cooperação. A empresa e a Procuradoria do Brasil acharam melhor não levar adiante as diligências, porque ficou incerto o destino final do acordo. Os depoimentos que seriam dados também foram adiados.
Como as investigações chegaram aos políticos do país?
A declaração de Marcelo Odebrecht foi o ponto de partida para uma intensa colaboração entre as duas procuradorias de maneira direta. Em maio de 2017, ele citou Keiko Fujimori, na época a principal liderança da oposição. Passamos a investigar o financiamento de campanha com fundos ilícitos, o chamado caixa 2. Conseguimos a declaração de outro alto executivo da Odebrecht, Jorge Barata, que, em fevereiro de 2018, falou do envolvimento de Ollanta Humala, de Keiko, mas também de Pedro Pablo Kuczynski, Alejandro Toledo e Alan García, ou seja, pegamos todos os últimos presidentes do Peru.
Fechar acordo com a Odebrecht não é uma forma de impunidade?
As pessoas que criticam o acordo estão vinculadas às que são objeto de investigação. Agora, existe um desconhecimento. Todos os acordos são regulados pela lei. As empresas entregam informações relevantes e, em troca, obtêm benefícios.
O sr. sentiu que as investigações poderiam ser encerradas?
Sim. No caso de Keiko, por exemplo, percebemos que enfrentávamos a principal líder da oposição, que havia corrompido o procurador-geral, que era nosso chefe. Isso se materializou com nossa destituição.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.