Obama e papa Francisco: o presidente americano também agradeceu o papel que o Papa teve na retomada das relações entre os Estados Unidos e Cuba (Reuters / Jonathan Ernst)
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2015 às 12h35.
O presidente Barack Obama recebeu nesta quarta-feira, na Casa Branca, o Papa Francisco, com quem compartilha muitos ideais e que considera tanto uma autoridade moral quanto um importante aliado político.
Foram disparadas 21 salvas nos jardins da residência presidencial para dar as boas-vindas ao papa em sua primeira visita aos Estados Unidos.
Em seu discurso, Obama ofereceu uma franca e emotiva boas-vindas ao papa Francisco ao elogiar a humildade e generosidade do pontífice e sua mensagem de amor e esperança que inspira o mundo todo.,
"O porte e o espírito do encontro de hoje é apenas um pequeno reflexo da profunda devoção dos 70 milhões de católicos americanos e a maneira que sua mensagem de amor e esperança inspirou tantas pessoas em nosso país e no mundo", afirmou Obama ao receber Francisco no jardim da Casa Branca.
O presidente americano também agradeceu o papel que o Papa teve na retomada das relações entre os Estados Unidos e Cuba.
"Estamos agradecidos por seu inestimável apoio a nosso novo começo com o povo cubano, que promete melhores relações entre nossos países", afirmou Obama.
O presidente também elogiou o papa por dar apoio moral e religioso em seus esforços por combater as mudanças climáticas.
"Recordamos que temos uma obrigação sagrada em nosso planeta, magnífico presente de Deus para nós. Apoiamos seu apelo aos líderes mundiais para se unirem e preservar nosso planeta para as gerações futuras", acrescentou.
O discurso do papa também foi em sintonia com o de Obama.
Ao iniciar seu discurso, Francisco abordou o tema da imigração, afirmando que visita os Estados Unidos como "filho de uma família de imigrantes".
"Como filho de uma família de imigrantes, me alegra estar neste país, que foi construído em grande parte por tais famílias", afirmou o papa em seu discurso.
Francisco também pediu que sejam impulsionadas mudanças para conseguir um desenvolvimento econômico que inclua as milhões de pessoas excluídas no mundo.
"Ainda temos tempo para fazer as mudanças necessárias para conseguir um desenvolvimento sustentável e integral (...) Estas mudanças exigem que tomemos consciência séria e responsavelmente (...) dos milhões de pessoas que vivem sob um sistema que as ignora", afirmou o pontífice.
O papa Francisco igualmente enfatizou o momento crítico na luta contra a mudança climática.
"Sr. presidente, acho encorajador que está propondo uma iniciativa para reduzir a poluição do ar (...) A mim parece claro que a mudança climática é um problema que não pode mais ser deixado para a futura geração", afirmou o pontífice, falando em inglês, um idioma que não domina.
Washington, geralmente indiferente às comitivas de dirigentes ilustres que se deslocam por suas ruas, está envolvida em uma verdadeira "papamania".
Desde muito cedo nesta quarta-feira, as pessoas tomaram as ruas da capital americana, agitando bandeiras e fotos do pontífice.
Katherine Gorman, que chegou às cinco da manhã, disse que essa oportunidade só acontece "uma vez na vida".
"Bento era mais restrito. Francisco é do povo", declarou.
O próprio Obama fez questão de ir ao aeroporto receber o Papa, junto à esposa e às filhas, algo muito incomum, numa demonstração da consonância de discurso dos dois dirigentes.
Esta é a primeira visita de Francisco aos Estados Unidos. O papa anterior que viajou ao pais foi Bento XVI em 2008. Paulo VI foi o primeiro pontífice a pisar em solo americano, em 1965, e João Paulo II foi o recordista, com sete visitas.
Depois da reunião em particular com Obama na Casa Branca, o papa terá um encontro com 300 bispos da catedral de São Mateus e pela tarde celebrará uma missa na Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, o maior templo católico nos Estados Unidos.
Nesta missa, que celebrará em espanhol, Francisco vai canonizar o beato Junípero Serra, um franciscano espanhol que na segunda metade do século XVIII fundou diversas missões religiosas na região que atualmente constitui o estado da Califórnia.
Na quinta-feira, fará um aguardado discurso diante das duas câmaras do Congresso americano, onde deverá usar um balcão para saudar a multidão que deverá superar as 50 mil pessoas.
No voo até Washington, Francisco antecipou a jornalistas que em seu discurso diante do Congresso não faria referências ao embargo americano a Cuba.
Francisco finalmente se reunirá com representantes de grupos católicos de caridade antes de seguir para Nova York.
A imprensa americana, com forte presença no avião papal, repercutiu a visita do papa, apoiada por 66% dos americanos.
Mas seus apelos a favor dos pobres, contra o capitalismo selvagem e para combater a mudança climática, também lhe renderam fortes críticas entre os conservadores, os meios econômicos liberais, desde Wall Street até o ultra-conservador Tea Party, e em filas republicanas.
O fato de chegar ao país procedente de Cuba irrita ainda mais aqueles que chamam o papa de marxista disfarçado ou de traidor da fé católica, muito flexível com a doutrina.
Temas de ampla repercussão
Os temas que devem ser abordados pelo primeiro papa latino-americano nos Estados Unidos, especialmente na quinta-feira diante do Congresso e na sexta-feira nas Nações Unidas, são altamente explosivos.
Entre estes estão a proteção e recepção dos imigrantes; a defesa do meio-ambiente, com um firme apelo a favor de uma revolução energética radical e uma desaceleração econômica, segundo fontes vaticanas.
Também não faltarão as críticas à "ditadura" da tecnologia e das finanças, assim como a denúncia da responsabilidade dos vendedores de armas e as grandes potências na "terceira guerra mundial em cotas" em curso, que denuncia sem parar.
Sua visita acontece sob fortes medidas de segurança, pois o papa deseja deslocar-se em veículos abertos para estar em contato com os fiéis.
O papa estará presente na sexta-feira na Assembleia Geral da ONU em Nova York, que receberá 170 líderes mundiais.
Sua agenda também prevê encontros com os mais desfavorecidos da sociedade americana, incluindo imigrantes, sem teto e presos.
Também presidirá uma cerimônia com a participação de líderes de várias religiões no memorial do World Trade Center contra o terrorismo e a favor do respeito entre diferentes credos.
Na Filadélfia presidirá no sábado e no domingo o encerramento do Encontro Mundial de Famílias Católicas, onde espera-se a presença de 1,5 milhão de fiéis. Quando foram disponibilizados online os 10.000 ingressos para assistir à missa, acabaram em poucos segundos.