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O vilarejo salvo pelo e-commerce

Gaia Pianigiani © 2016 New York Times News Service Soveria Mannelli, Itália – Mario Caligiuri ainda consegue se lembrar da noite que possivelmente o fez levar o crédito por mudar o destino de Soveria Mannelli. Era o réveillon da virada do milênio e, como prefeito, ele enviou um e-mail às autoridades em Roma solicitando uma […]

SALVO PELA INTERNET: Emilio Salvatore Leo, herdeiro de um lanifício em Soveria Mannelli, viu os negócios renascerem após passar a vender seus produtos online / Gianni Cipriano/ The New York Times
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Da Redação

Publicado em 19 de dezembro de 2016 às 14h50.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h48.

Gaia Pianigiani © 2016 New York Times News Service

Soveria Mannelli, Itália – Mario Caligiuri ainda consegue se lembrar da noite que possivelmente o fez levar o crédito por mudar o destino de Soveria Mannelli.

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Era o réveillon da virada do milênio e, como prefeito, ele enviou um e-mail às autoridades em Roma solicitando uma audiência para explicar a iniciativa de conectar à internet sua batalhadora cidade de cerca de três mil habitantes no topo de uma montanha.

Durante gerações, Soveria Mannelli foi um entreposto cheio de vida, situado estrategicamente ao longo da estrada principal que corria ao sul de Nápoles até a ponta da Itália. Só que depois que o governo construiu uma rodovia próxima ao litoral, na década de 1970, o trânsito foi desviado. Soveria Mannelli foi deixada de lado.

A exemplo de muitas outras pessoas em Soveria Mannelli, Caligiuri se recusou a “deixar um sentimento de afeto”. Ele estava determinado a superar os obstáculos logísticos do isolamento da cidade.

“Eu havia entendido que as novas tecnologias criavam desenvolvimento econômico, mas era só isso. Foi somente quando o governo me chamou a Roma que eu sabia que estava fazendo algo bom”, conta Caligiuri, que agora é professor.

Caligiuri, 56 anos, foi prefeito durante cinco mandatos consecutivos por 18 anos. E Soveria Mannelli soube tirar proveito da era digital em prol de sua antiga cultura de trabalho, revivendo as empresas familiares e transformando a cidade em modelo de inovação para o subdesenvolvido sul da Itália.

Soveria Mannelli agora tem uma próspera editora de tamanho médio, um importante fabricante de móveis escolares e um lanifício antigo, todos comandados por famílias que conseguiram manter as raízes na cidade ao atualizar seus negócios para a era digital.

A combinação existente de antiga estabilidade administrativa, prefeitos progressistas e espírito empresarial vibrante fizeram com que a cidade se tornasse um destaque na região.

“É um estudo de caso que mostra claramente como uma administração funcional e estável pode ajudar as empresas a crescer, e que uma comunidade pequena pode estimular uma cultura empresarial verdadeira, também no sul da Itália”, afirma Pier Luigi Sacco, professor de Economia da Cultura da Universidade IULM, Milão.

Ao mesmo tempo, ele observa, para um lugar tão pequeno, Soveria Mannelli tem uma amplitude e concentração de habilidades extraordinárias que dificultam a reprodução de seu sucesso em outros lugares.

“Temo que seja difícil extrapolá-lo. A polifonia de talentos nessa cidadezinha é incomum em qualquer lugar do mundo”, diz Sacco.

Quando Caligiuri escreveu para as autoridades em Roma, 80 famílias na cidade usavam a internet e 800 mais iriam receber computadores financiados pelos fundos regionais da União Europeia.

Foi esse tipo de expansão que ajudou Florindo Rubbettino, 45 anos, a fazer a editora da família prosperar em Soveria Mannelli, onde seu pai, Rosario, a fundou em 1972.

“Estamos longe de Milão e pode demorar um dia para entregar os livros no mercado, mas esse é o nosso desafio e, até hoje, nunca pensamos em sair. A cultura de trabalho e a qualidade das relações em um território pequeno como este são inestimáveis”, afirma Rubbettino.

Para reduzir os custos logísticos e ficar de olho na qualidade da produção, a editora Rubbettino construiu um ciclo integrado dentro de seu grande depósito em Soveria Mannelli.

Mais de 80 empregados editam, imprimem e embalam 300 livros novos para o mercado italiano, criando um giro comercial de oito milhões de euros.

A Camillo Sirianni, empresa familiar de terceira geração que começou como carpintaria mecanizada em 1909, também venceu o isolamento da cidade natal para se tornar um dos principais fabricantes de móveis escolares.

Em um depósito de alta tecnologia nos arredores da cidade, a empresa monta milhares de carteiras coloridas, bancos, armários e outros acessórios feitos com madeira da Calábria que são despachados para o mundo inteiro, do Reino Unido aos Emirados Árabes, da América Central à Polinésia.

Durante muitos anos, o pior obstáculo logístico da empresa era a estrada estreita (que já foi alargada), cercada por carvalhos altos, levando à estrada principal.

“Sem dúvida, boas estradas facilitam o empreendedorismo, mas não é a única coisa necessária para o desenvolvimento econômico. Se você estiver na internet, hoje em dia não importa mais a sua localização”, diz Francesco Sirianni, gerente de exportação da firma.

A empresa usa a internet desde 1996, e montou seu primeiro site em 1999. Ainda acontece que, durante uma conversa pelo Skype, os clientes se preocupem com o tempo de transporte, mas os Siriannis têm tudo planejado.

Para entregas próximas, eles usam entregadores que vêm do norte produtivo ao sul voltado ao consumo e seguem de volta. Um grande porto nos arredores ajuda com os destinos mais longínquos.

“Com o tempo, se os proprietários e trabalhadores não tiveram uma cultura de trabalho sólida, a infraestrutura pouco pode fazer para um negócio prosperar”, afirma Angelo Sirianni, gerente-geral da companhia.

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