O sucessor de “El Chapo”: Dámaso López Núñez
A extradição do narcotraficante para os Estados Unidos se deu depois da ascensão do novo líder do cartel de Sinaloa
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 13 de novembro de 2018 às 19h32.
Considerado pelo governo dos Estados Unidos o mais poderoso traficante de drogas de todos os tempos, Joaquín Guzmán Loera, “El Chapo” , líder do cartel de Sinaloa, já tem um sucessor.
Seu nome é Dámaso López Núñez, mais conhecido como “El Licenciado”. De acordo com informações confirmadas por funcionários da DEA, sua era começou no final de 2016, após uma batalha contra “El Chapo” e seus filhos pelo poder dentro do cartel, na qual o outrora chefão saiu derrotado.
“El Chapo” foi extraditado pelo governo do México para Nova York em 19 de janeiro do ano passado.
Embora já em 2013 o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos tenha acusado “El Licenciado” de ser um dos principais operadores do cartel de Sinaloa, até agora se sabe muito pouco sobre a carreira criminal, a personalidade e o rosto do homem que tomou o lugar de “El Chapo” na “maior e mais profícua organização de tráfico de drogas do mundo”, como a acusação do Tribunal Federal do distrito de Nova York definiu o cartel que Guzmán Loera encabeçou com Ismael Zambada García durante os últimos 15 anos.
López Núñez, nascido em 22 de fevereiro de 1966, hoje com 50 anos, é da comunidade de El Dorado em Culiacán, no estado de Sinaloa, onde nasceram os chefões mais importantes do México . Ele foi comandante da polícia judiciária e vice-diretor de uma prisão federal de segurança máxima em Puente Grande, em Jalisco, no mesmo período em que “El Chapo” estava preso na unidade.
Foi nesse período que López o conheceu, tornou-se seu fiel servo, criou um grupo de choque dentro do presídio conhecido como “Los Sinaloas”, ajudou o chefão a subornar autoridades e funcionários corruptos e, finalmente, a fugir da prisão em janeiro de 2001, com a cumplicidade de outros funcionários federais.
Aqueles que o conhecem o descrevem como um homem astuto, explosivo, visceral e que não escuta o coração na hora de tomar decisões relacionadas a seu poder no negócio das drogas.
Acredita-se que seu centro de operações seja Culiacán, onde circula com desenvoltura e, após 15 anos a serviço de “El Chapo”, construiu sua própria estrutura criminosa, que inclui a compra de autoridades com dinheiro grosso e uma ampla rede de contatos para o tráfico de drogas no México, Estados Unidos, América Central e do Sul.
Seu pai, Dámaso López García, foi procurador-geral de Culiacán em 2007, pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI). Sua morte, ocorrida em setembro de 2009, foi motivo para o então prefeito de Culiacán, também do PRI, Jesús Vizcarra, pedir ao conselho um minuto de silêncio em sua homenagem.
O braço-direito
Dámaso López Núñez e Joaquín Guzmán Loera se conheceram em 1999 na prisão de segurança máxima de Puente Grande, quando o primeiro havia sido nomeado vice-diretor do presídio.
Na época, “El Licenciado” tinha 33 anos. Chegou acompanhado de uma equipe de colaboradores conhecidos como “Los Sinaloas”: os comandantes Carlos Fernando Ochoa López, Jesús Vizcaíno Medina e Fidel Roberto García e guardas como José de Jesús Carlos Cortes Ortiz, “El Pollo”, e José Barajas, “El Veneno”.
Todos eles corruptos da cabeça aos pés. Por meio deles, “El Chapo” reinou na prisão, distribuindo dinheiro ou porrada. Com a ajuda de “El Licenciado”, a suposta prisão de segurança máxima tornou-se para “El Chapo” um centro de recreação.
Segundo o processo penal que apura a fuga de Guzmán Loera de Puente Grande, “El Licenciado”, com a cumplicidade do diretor da prisão, Leonardo Beltrán, operava a logística para que os presos Guzmán Loera e seus amigos Héctor Salazar e Arturo Martínez Herrera tivessem acesso a telefones celulares, prostitutas, bebidas alcoólicas, estimulantes sexuais, cocaína, apresentações de música e comida de luxuosos restaurantes de Guadalajara.
Entre os que testemunharam perante o procurador-geral sobre os trabalhos que López Núñez fazia para “El Chapo” está uma das amantes do chefão, a cozinheira da cadeia Ives Eréndira Moreno Arriola.
“El Licenciado” exercia o controle pela distribuição de subornos ou ameaças. Os guardas e presos que não estavam dispostos a servir Guzmán Loera eram repreendidos.
Um guarda, Juan José Pérez Díaz, disse ao procurador-geral da República, após a fuga de “El Chapo” em janeiro de 2001, que, quando começou a trabalhar na prisão, recebeu a proposta de permitir a entrada de itens ilegais no sistema e apelou ao vice-diretor, buscando apoio.
“Quero renunciar ao cargo”, disse o guarda, armando-se do pouco valor que restava ao vice-diretor.
“Não pode, você é comandante da companhia. Se renunciar, estas pessoas [El Chapo, El Güero e El Texas] podem ordenar represálias. O melhor é não ficar mal com eles”, recomendou López Núñez (Declaración ministerial de Juan José Pérez Díaz, 30 de janeiro de 2001, causa penal 16/2001-III).
Nem os internos estavam a salvo. José Adrián Espinoza Ramírez enviou uma reclamação contra Beltrán Santana e Dámaso López Núñez à Comissão de Direitos Humanos de Jalisco.
Ele os acusava de corrupção e dizia que a pressão sofrida por parte dos dois prejudicou sua vida. Segundo ele, as ameaças de morte à sua família foram a razão pela qual sua esposa exigiu o divórcio.
Ele os culpa ainda de ser responsável pelo suicídio dos detidos Raúl René Chirinos Castro e José Manuel Pérez Yáñez por meio de extorsão, tortura física e psicológica (Declaração ministerial do preso Salvador Moreno Chávez em 17 de fevereiro de 2001).
Após a sua queixa, Espinoza Ramírez foi encontrado morto na prisão.
Quatro meses antes da fuga, López Núñez renunciou ao cargo de vice-diretor, mas continuou a visitar Guzmán Loera na prisão. A última visita foi feita dez dias antes da fuga de “El Chapo” da própria cela.
Quando “El Chapo” escapou da prisão, Dámaso López Núñez já era seu braço-direito. Com a mesma eficiência que o ajudou a controlar a cadeia, começou a se encarregar de operações importantes para o tráfico de droga e coordenar grupos de assassinos profissionais a serviço de Guzmán Loera.
As confissões de “El Vicentillo”
“Conheci Dámaso pessoalmente por volta do ano 2003, mas já tinha ouvido falar dele desde muito antes”, disse ao governo dos Estados Unidos Vicente Zambada Niebla, conhecido como “El Vicentillo” e filho de Ismael Zambada García, chamado de “El Mayo”, preso no México em 2009 e extraditado para o Tribunal do Distrito Norte em Chicago, Illinois.
Para este relatório obtiveram-se confissões inéditas feitas por Zambada Niebla em sua colaboração com a Justiça americana para redução de sua sentença.
Essas declarações foram dadas entre 2011 e 2012 e ajudaram o governo americano a descobrir o papel que López Núñez desempenhava no cartel de Sinaloa e conhecer os outros codinomes que utilizava, como “El Lic” e “Belisardo”.
Ele disse que Dámaso negociava com os fornecedores de cocaína colombianos em nome de seu pai e de “El Chapo”.
“Dámaso foi responsável por coordenar com os colombianos os embarques de barcos e submarinos que traziam a droga da Colômbia e dos barcos que viajavam do México para trazer de volta os pagamentos da cocaína recebida.”
“Eu tive conhecimento, através de conversas com meu pai, com Chapo e com Dámaso, que entre 2003 e 2009 Dámaso coordenava regularmente a recepção de carregamentos de múltiplas toneladas de cocaína colombiana. Eu tinha conhecimento de que a grande maioria da cocaína seria distribuída nos Estados Unidos.”
Ele deu detalhes de sua eficácia. Em 2008, “El Mayo” Zambada e Guzmán Loera negociaram com os fornecedores colombianos uma compra de cerca de 20 toneladas de cocaína.
Para essa operação, Dámaso dependia de um cartel conhecido como “Capi Beto” para obter dois barcos com compartimentos ocultos a fim de atravessar o canal do Panamá. “Além disso, Dámaso enviou outros dois barcos através do canal por conta própria”, disse Zambada Niebla.
A remessa foi recebida no mar e transferida para barcos menores. Dámaso coordenou os navios que chegariam perto da costa de Sinaloa e, uma vez lá, combinou com outro operador apelidado de “Colas” para enviar pequenas embarcações para transportar por partes as 20 toneladas de cocaína.
Tais embarcações chegaram a um local isolado de Sinaloa e os capangas de “El Mayo” e de “El Chapo”, além de uma pessoa conhecida como “Keta”, mantiveram uma porção da cocaína em casas seguras de Culiacán e arredores. “A cocaína foi armazenada também por Dámaso em casas seguras em El Dorado, Culiacán”, revelou “El Vicentillo”.
Outra prática de Dámaso para transportar cocaína entre a Colômbia e o México é a utilização de aviões agrícolas. Zambada Niebla disse que tais aeronaves podem transportar até meia tonelada de cocaína (500 quilos). Para essas operações, Dámaso tinha “infraestrutura” na Guatemala, Belize e Honduras.
“Além de suas tarefas de transporte de drogas, Dámaso tinha também uma equipe de homens armados que lutavam contra Beltrán (Leiva), Zetas e outros inimigos do cartel de Sinaloa.”
Após as confissões de “El Vicentillo”, em 2013 o governo dos Estados Unidos denunciou pela primeira vez López Núñez como “pivô” do cartel de Sinaloa.
A era de “El Chapo”
Durante os anos em que esteve foragido, de 2001 a 2014, Joaquín Guzmán Loera tornou-se o mais poderoso traficante de drogas do mundo, de acordo com o volumoso processo criminal aberto contra ele no Tribunal Federal do Distrito Leste, no Brooklyn, em Nova York, onde o chefão enfrenta pelo menos 17 acusações de crimes cometidos entre 1989 e 2014, como o tráfico de centenas de quilos de cocaína, heroína, maconha e metanfetamina para os Estados Unidos, lavagem de dinheiro e uso ilegal de armas, entre outras.
De acordo com os inquéritos penais em Nova York, Guzmán Loera conseguiu construir seu império de tráfico internacional em 30 anos graças a cinco fatores principais.
O primeiro deles foi a aliança feita no final dos anos 1970 entre o cartel de Guadalajara, que mais tarde se tornou Sinaloa, e os então poderosos cartéis colombianos, em particular o cartel de Medellín, liderado por Pablo Escobar.
No princípio, o México era só um trampolim para enviar milhares de toneladas de cocaína para os Estados Unidos, principalmente para Miami e Nova York. “Junto com a proliferação de drogas em nossas comunidades, chegou uma avalanche de violência e crime”, afirma a promotoria.
Narcotraficantes mexicanos, que até então negociavam apenas maconha e heroína, usaram as mesmas rotas para ajudar os colombianos a transportar o pó branco.
Guzmán Loera ganhou a simpatia dos colombianos pela sua eficácia no tráfico de drogas e pela entrega dos lucros em tempo recorde. “Essa eficácia lhe valeu o apelido de “El Rápido”, afirma o registro.
“Enquanto estava protegido pelas forças da ordem (no México), Guzmán não só aprimorou o seu método de operação como também construiu o modelo do moderno cartel de Sinaloa, fortalecendo suas alianças com outros traficantes de drogas mexicanos”, como “El Mayo” Zambada, o outro chefe do cartel de Sinaloa, que continua um fugitivo da Justiça.
O segundo fator foi que, quando o declínio dos cartéis colombianos começou, o cartel de Sinaloa e Guzmán Loera já não eram apenas os transportadores de cocaína do México para os Estados Unidos, mas também controlavam diretamente a venda de drogas nas ruas de grandes cidades dos Estados Unidos, tomando o espaço de traficantes e organizações colombianas e duplicando seus lucros.
“Guzmán usou essa riqueza para aumentar seu poder e o do cartel de Sinaloa no mundo do tráfico de drogas. Dentro do México, Guzmán ampliou seu controle territorial. A partir de seus portos no Atlântico e no Pacífico, ele também expandiu o domínio sobre as cidades fronteiriças entre os Estados Unidos e México e na fronteira entre o México e Guatemala. Guzmán e outros membros do cartel de Sinaloa se infiltraram em países da América Central, incluindo Honduras, El Salvador, Costa Rica e Panamá.”
O terceiro fator foram as alianças que Guzmán Loera e sua organização criminosa fizeram com outros cartéis mexicanos, construindo uma “federação” para dominar a fronteira com os EUA.
Ele conseguiu também eliminar os cartéis colombianos de toda a cadeia criminal estabelecendo contato direto com produtores de cocaína no território da Colômbia, Equador e Venezuela. Com isso, controlou toda a cadeia de negócios, desde a produção à venda direta aos consumidores.
Graças a “El Vicentillo”, sabe-se agora que Dámaso López Núñez era peça-chave nessas operações.
Guzmán Loera foi capaz de se adaptar às mudanças do mercado e transformou o cartel de Sinaloa no principal produtor de metanfetaminas no mundo. “Como resultado, estabeleceu fontes de abastecimento de laboratórios químicos para a produção de metanfetaminas na África e Ásia, incluindo China e Índia.”
Esse foi o quarto fator. O quinto, definitivo para a construção de seu império do crime, foi a corrupção das autoridades.
De acordo com a acusação, aumentando a sua presença internacional, Guzmán Loera consolidou seu poder no México por meio da corrupção de funcionários “em todos os níveis de governos locais, nacionais e municipais, estaduais e governos estrangeiros”, aos quais pagava vultosos subornos em dinheiro, de até milhões de dólares, para garantir a livre circulação de toneladas de drogas da América do Sul para os Estados Unidos.
O processo afirma que esses pagamentos garantiram que carregamentos de drogas fossem recebidos com segurança no México e toneladas de cocaína fossem escoltadas diretamente por funcionários do governo do México até chegar em segurança á fronteira dos Estados Unidos.
Na acusação criminal contra “El Chapo” Guzmán, o governo dos Estados Unidos reconhece pela primeira vez que ao longo dos últimos dez anos da chamada “guerra contra as drogas”, lançada pelo governo do México, tendo como resultado mais de 120 mil pessoas mortas no país, o cartel de Sinaloa foi apoiado por diversas instituições do governo mexicano para que, em meio a disputas do cartel com grupos rivais, este não fosse perseguido e ficasse com os territórios de seus inimigos.
Com todo esse poder e corrupção, ficou claro para o governo dos Estados Unidos que o governo do México seria incapaz de manter Guzmán Loera atrás das grades.
De acordo com a acusação, sua última fuga, ocorrida em julho de 2015, foi um “exemplo do poder do império de drogas de Guzmán e seu controle sobre funcionários do governo do México, inclusive enquanto estava encarcerado”.
Traição e guerra
Quando Joaquín Guzmán Loera foi recapturado pelo governo do México em fevereiro de 2014 em uma operação coordenada pela DEA em Mazatlán, Sinaloa, em vez de deixar as rédeas de sua facção no cartel de Sinaloa com a sua família, preferiu confiar em “El Licenciado”.
Fontes internas da organização criminosa falam que “El Chapo” considerou que seus filhos Iván Archivaldo e Alfredo Guzmán Salazar, de seu primeiro casamento com Alejandrina Salazar, embora tenham participado das atividades da organização criminosa em idade precoce, ainda não estavam prontos para assumir as operações.
Considerou que eles eram imaturos, não gostava da vida pouco discreta que levavam, com luxos e mulheres expostos nas redes sociais. Dámaso López Núñez tinha um perfil muito mais discreto e já era bem conhecido por fornecedores e compradores das drogas.
Em 2014, a decisão do pai foi respeitada por Iván e Alfredo, e “El Licenciado” cuidou com diligência dos interesses de “El Chapo” no cartel, acumulando mais poder.
As coisas mudaram radicalmente em 2016, após a recaptura de Guzmán Loera, em janeiro do ano passado, em Los Mochis, Sinaloa, e o pedido de extradição imediata do governo dos Estados Unidos, que anunciava o fim de Guzmán Loera.
Após os primeiros meses de prisão do narcotraficante, os filhos perceberam rapidamente que pela primeira vez o pai estava perdendo poder. A pressão exercida pelo governo dos Estados Unidos sobre o México mostrava que dessa vez sua prisão não seria um recreio.
Em fevereiro de 2016, a esposa de “El Chapo”, Emma Coronel Aispuro, uma ex-miss com quem se uniu em 2007, foi obrigada a sair do anonimato tradicional e concedeu uma entrevista exclusiva à autora desta reportagem para denunciar as supostas “torturas” que o marido estaria sofrendo na prisão.
No final de 2016, ela entrou com uma queixa na Corte Interamericana de Direitos Humanos argumentando que, por causa das torturas física e psicológica, seu marido estava ficando louco e tinha alucinações na prisão.
Acredita-se que Iván e Alfredo começaram a disputar o poder com Dámaso López Núñez e tentaram reivindicar dinheiro e bens, argumentando que eram de seu pai, além de exigirem uma posição nas negociações para o tráfico de drogas.
“El Licenciado” não cedeu e, vendo a fraqueza óbvia de “El Chapo”, juntou-se a outros parentes de Guzmán Loera e inimigos para iniciar uma guerra interna para removê-lo do poder.
Para isso, ele aliou-se a Alfredo Beltrán Guzmán, conhecido como “Alfredito”, sobrinho de “El Chapo” e filho de Alfredo Beltrán Leyva, cuja traição causou sua prisão em 2008 e posterior extradição em 2014.
Dámaso aliou-se também com Fausto Isidro Meza, líder do que restava do cartel de Los Beltrán Leyva, e com o cartel Jalisco Nueva Generación, liderado por Nemesio Oseguera Cervantes, conhecido como “El Mencho”. Juntos, eles encerraram a era do “El Chapo”.
O primeiro indício público da batalha pelo poder foi o ataque à casa de Consuelo Loera, mãe de “El Chapo”, na comunidade de La Tuna em Badiraguato, Sinaloa, em junho de 2016.
Um comando armado encabeçado diretamente por “Alfredito” invadiu a fazenda e saqueou a casa da senhora com ela presente. Uma ação que rompeu os limites até mesmo dos violentos cartéis mexicanos.
Até então, a família de Guzmán Loera pensava que a agressão viera apenas de “Alfredito”; não havia nenhuma suspeita de traição de Dámaso.
Este, porém, travava uma guerra contra o chefe para além dos tiros. Para provocar no cartel a desconfiança a respeito de Iván e Alfredo, ele mandou criar blogs, contas do Facebook e sites na internet para acusá-los de entregar o cartel de Sinaloa em troca de proteção para seu pai, colocando-lhes o apelido de “los sapitos” (delatores). Entre os sites criados está o http://www.culiacaninformando.com. O próprio Dámaso supervisionava o conteúdo e monitorava as visitas.
Depois de dias de batalha nas montanhas de Sinaloa, em agosto de 2016, Iván e Alfredo Guzmán Salazar foram sequestrados em um restaurante da moda em Puerto Vallarta, Jalisco.
No início, o governo do México disse que os responsáveis seriam do cartel Jalisco Nueva Generación, mas acredita-se que por trás do golpe estava “El Licenciado”, pois só alguém de alto nível no cartel poderia saber o paradeiro dos descendentes do chefe.
Uma semana depois, os filhos de “El Chapo” foram libertados graças à intervenção de “El Mayo” Zambada, que, diante da iminente queda de seu amigo e sócio, manteve uma posição de neutralidade, que garantia a Dámaso López Núñez a sucessão de Guzmán Loera.
Para a DEA, a extradição de Joaquín Guzmán Loera significa definitivamente o fim deste e o início da era de “El Licenciado”, considerado mais violento e radical do que seu ex-chefe.
Aliado a outros cartéis mexicanos, ele tenta reviver a chamada federação de drogas como aquela que construiu “El Chapo”, tornando-o o narcotraficante mais importante da história.
*Texto cedido pela Agência Pública