Arlene Foster e Nigel Dodds, líderes do Dup: o acordo mudou, mas relação entre Irlanda do Norte e a Irlanda independente segue sendo principal desafio (Charles McQuillan/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de outubro de 2019 às 06h32.
Última atualização em 18 de outubro de 2019 às 06h51.
O Parlamento britânico se reúne no sábado 19 para uma das sessões mais importantes de sua história. Depois de o premiê Boris Johnson e a União Europeia terem finalmente acordado na quinta-feira (17) um plano para concretizar o Brexit, caberá aos legisladores aprovar o novo formato de saída do bloco europeu, em sessão batizada de “Super Sábado”.
O acordo foi chamado de “justo e equilibrado” pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e de “um ótimo negócio” pelo premiê Boris Jonhson, colocando do mesmo lado duas figuras que se acostumaram ao confronto últimos anos. Michel Barnier, principal negociador da União Europeia, afirmou que o Brexit vai acontecer “sem mais surpresas” até 31 de outubro — atual data limite para a saída, mas que pode ser prorrogada caso o acordo não passe.
Falta os parlamentares compartilharem da mesma opinião positiva. A principal mudança em relação aos acordos anteriores é a Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido, enquanto a Irlanda, ao sul, é independente e segue parte da União Europeia. Apesar das mudanças, esse ponto continua sendo o que tem mais potencial para azedar a alegria de Johnson.
Os irlandeses não querem pontos físicos de tributação na fronteira. Então, para continuar comercializando com os europeus, a ideia inicial foi que a Irlanda do Norte (ou mesmo todo o Reino Unido, em uma das versões) continuasse fazendo parte do mercado comum europeu para que os produtos pudessem entrar sem tarifas. Na nova proposta, produtos europeus direcionados à Irlanda entram sem tarifa no norte, mas produtos que ficarão na Irlanda do Norte serão tarifados, sob responsabilidade de Londres de recolher os impostos.
O DUP, partido nacionalista da Irlanda do Norte, favorável ao Brexit e parte da base de Johnson, já se disse contra o acordo porque o modelo faria a Irlanda ter regras diferentes do restante do Reino Unido. O DUP tem 10 cadeiras no Parlamento e foi essencial para os governos dos últimos anos. Johnson tem 287 cadeiras em sua base do Partido Conservador, e, sem o DUP, precisará convencer alguns dos 242 rivais do Partido Trabalhista ou dos 78 de partidos menores. Há ainda outros 21 conservadores, outrora aliados, que debandaram da base mediante desavenças com o premiê.
Se o acordo for rejeitado, Johnson será obrigado a pedir prorrogação do prazo do Brexit junto à União Europeia. Caso se recuse a fazê-lo, o Congresso pode votar uma moção de confiança para retirá-lo, convocar novas eleições gerais e, no limite, até um novo referendo que poderia anular o de 2016.
Após três anos de idas e vindas com o Brexit, uma mostra da importância da sessão é que o Parlamento britânico só se reuniu em um sábado três vezes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A última vez foi em 1982, depois que a Argentina ocupou seu antigo território das Ilhas Malvinas, desencadeando uma guerra que seria vencida pelo Reino Unido. A novela do Brexit nunca esteve tão perto de um fim — mas, a depender do que decidirá o Parlamento, reviravoltas nos capítulos finais ainda podem acontecer.