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O dia em que os sinos de Nagasaki ficaram em silêncio

Há sete décadas, os sinos da catedral da cidade foram silenciados pela bomba atômica que caiu em pleno bairro católico


	Nagasaki: aproximadamente 8.500 católicos morreram no bombardeio à cidade, há 70 anos
 (REUTERS/Kyodo)

Nagasaki: aproximadamente 8.500 católicos morreram no bombardeio à cidade, há 70 anos (REUTERS/Kyodo)

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Da Redação

Publicado em 9 de agosto de 2015 às 17h54.

Nagasaki - Nagasaki é um dos poucos lugares do Japão onde os sinos badalam para chamar os fiéis para a missa. Há sete décadas, os da catedral da cidade foram silenciados pela bomba atômica que caiu em pleno bairro católico.

A Catedral de Urakami ficava a 500 metros do epicentro da explosão e foi quase totalmente destruída, da mesma forma que essa região de Nagasaki onde se concentrava a população católica da cidade, considerada berço do cristianismo no Japão.

Aproximadamente, 8.500 católicos morreram no bombardeio, um número bastante grande se for considerado os 12 mil registros de batizados que havia na cidade em 1945 e quase a nona parte do total de vítimas do segundo maior ataque nuclear da história, após o de Hiroshima.

"Os cristãos de Nagasaki estão acostumados ao desastre humano, mas ainda sofremos as consequências da bomba", disse à Agência Efe Renzo De Luca, padre argentino residente no Japão há 30 anos e diretor do Museu dos 26 Mártires.

O "costume" ao qual o religioso se refere é o fato de o bombardeio de 9 de agosto de 1945 ter sido o último grande golpe vivido pelos os cristãos de Nagasaki, depois de séculos de perseguição, martírio e clandestinidade quando o catolicismo era proibido no país.

O Japão chegou a ter 400 mil cristãos no final do século XVI, apesar do intenso assédio dos governantes japoneses, que viam à religião católica como fator desestabilizador e perigoso para seus interesses.

Entre os episódios de maior destaque estão a crucificação de 26 mártires em uma colina de Nagasaki, em 1597, e a Rebelião Shimabara, de 1637, na qual quase 40 mil camponeses morreram em uma revolta contra a ditadura Xogunato Tokugawa, a maioria deles cristãos.

"Estes casos, longe de amedrontar à população, ajudaram a promover os valores do cristianismo e sua mensagem de paz, perdão e amor", afirmou De Luca, autor de vários livros em japonês sobre a história da religião no país.

Mesmo sem medo, os católicos se viram obrigados a praticar seu credo às escondidas e passaram a ser conhecidos como os "Kakure Kirishitan" ("cristãos ocultos"). Só no final do século XIX, a liberdade religiosa foi estabelecida e foi nessa época em que foi erguida a Catedral de Nagasaki, que chegou a ser a maior da Ásia Oriental.

Começava uma nova era de expansão do catolicismo no Japão, mas que ficou abalada pela Segunda Guerra Mundial e com a devastação de Nagasaki - denominada a "Roma de Oriente" - pela bomba atômica.

Após a rendição japonesa, vários missionários jesuítas se deslocaram às regiões mais afetadas do país pela guerra, entre eles o padre Antonio García, espanhol que chegou a Nagasaki em 1950, aos 20 anos de idade, e que desde então não saiu mais.

Ele conta que encontrou uma cidade assolada com "montanhas de escombros por todas as partes", castigada pela crise de fome e com milhares de feridos amontoados nas igrejas, transformadas em hospitais improvisados.

Tanto García quando De Luca consideram que o legado espiritual do cristianismo em Nagasaki ajudou seus habitantes a superar a tragédia e, especialmente, a perdoar. Hoje, a reconstruída Catedral de Urakami, de características neorromânicas, resplandece nas colinas de Nagasaki, e é um dos símbolos da cidade, assim como o Museu da Bomba Atômica e o Memorial da Paz.

"Os sinos não soaram por meses após o desastre. Tomara que nunca mais deixem de badalar! Tomara que transmitam sua mensagem de paz até a manhã do último dia mundo", escreveu o médico e autor Takashi Nagai, que sobreviveu ao bombardeio, em seu livro "Nagasaki no Kane" ("Os sinos de Nagasaki") em 1949. 

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