Vitali Klitschko: de campeão de boxe a prefeito de capital ameaçada na Ucrânia (Sean Gallup/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 15 de março de 2022 às 18h33.
Última atualização em 15 de março de 2022 às 18h35.
Pelo menos desde a década de 90, quando começou a ganhar medalhas no boxe, Vitali Klitschko, de 50 anos, atual prefeito de Kiev, se tornou uma figura conhecida na Ucrânia. Nascido em um vilarejo do Quirguistão, ex-república soviética de 1 milhão de habitantes, ele acostumou-se a uma vida nômade ao lado de seu irmão, o também pugilista Wladimir Klitschko, e o restante da família até fincar raízes na Ucrânia. O prefeito é filho de um proeminente militar da força área soviética, Wladimir Rodionovich Klitschko (1947–2011), convocado para consertar o desastre nuclear de Chernobil em 1986.
Depois de se fixar em Kiev, começou a frequentar academias de boxe. Aos 25 anos, começou sua carreira no esporte, tendo acumulado uma série de vitórias: venceu 15 oponentes em campeonatos mundiais e ganhou 12 títulos. Também entrou para o livro dos recordes como integrante da dupla de irmão que mais ganhou medalhas de peso pesado (30, no total).
Em 2005, após apoiar a candidatura de Viktor Andriyovych Yushchenko, que ganhou as eleições presidenciais de 2004, o campeão de boxe decidiu entrar para a política. No ano seguinte, candidatou-se ao pleito municipal em Kiev, sem sucesso. Em 2010, decidiu criar um partido, a Aliança Ucraniana por Reformas, e foi eleito deputado em 2012. Há sete anos, exerce o cargo de prefeito de Kiev, tendo sido reeleito em 2020.
Desde então, sua relação com Volodymyr Zelensky, comediante eleito presidente da Ucrânia em 2019, não tem sido das melhores. Zelensky chegou a acusar o prefeito de corrupção pelo suposto envolvimento de venda fraudulenta de terrenos da União. As investigações continuaram até pouco tempo atrás. Do alto de seus quase dois metros de altura, Klitschko, conhecido como “punhos de aço”, se recusou a comparecer às audiências de acusação.
Nos últimos dias, o prefeito tem dados declarações contundentes sobre sua reação a uma possível invasão russa à capital da Ucrânia. Conforme o cerco das tropas de Vladimir Putin avança se fecha sobre Kiev, Klitschko vem reforçando as afirmações de que lutará “pessoalmente” para defender a cidade, ao lado de seu irmão, e conclama a população civil a fazer a mesma coisa.
“Todos, de qualquer profissão, estão preparados para pegar em armas e defender nosso futuro”, disse recentemente. As forças russas se aproximam cada vez mais de Kiev, que vive um de seus momentos mais dramáticos pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial – em 1941, a Alemanha invadiu a Ucrânia, que caiu sob o domínio nazista após poucos dias de combates. Na ocasião, tropas russas foram ao auxílio dos ucranianos, embora sem sucesso. Agora, a situação é outra.
Nos próximos dias, o prefeito de Kiev terá a delicada missão de proteger os líderes da República Checa, Polônia e Eslovênia, que chegaram nesta terça, dia 15, de trem à capital ucraniana. Os primeiros-ministros dos três países postaram fotos de reuniões que mantiveram hoje em Kiev. A missão, no entanto, é controversa, por seu grau de periculosidade, e não teria contado com apoio da União Europeia. A delegação deve se reunir com Zelensky nos próximos dias.
Diante do avanço russo sobre a capital, o prefeito de Kiev declarou um toque de recolher de 36 horas a partir desta terça. Os deslocamentos pela cidade também serão proibidos a não ser que tenham “autorização especial” ou sejam direcionados a fugas para abrigos antibombas. Klitschko frisou que o momento é extremamente preocupante.