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Novo procurador-geral dos EUA é um "falcão" anti-imigrantes

Jeff Sessions foi condenado ao ostracismo por décadas nos EUA, mas parece ter alcançado sua vingança

Jeff Sessions: acusações de racismo na década de 1980 impediram que o senador subisse de cargo no Alabama (Lucas Jackson/Reuters)

Jeff Sessions: acusações de racismo na década de 1980 impediram que o senador subisse de cargo no Alabama (Lucas Jackson/Reuters)

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EFE

Publicado em 9 de fevereiro de 2017 às 10h26.

Washington - Ele foi condenado ao ostracismo durante décadas, mas agora o "falcão" Jeff Sessions tenha tomado sua vingança e se tornou procurador-geral dos Estados Unidos, uma posição que permitirá tornar realidade seus ideias contra os imigrantes e esmagar o crime com punho de aço.

Senador republicano pelo Alabama durante 20 anos, Sessions, confirmado nesta quarta-feira pelo Senado para chefiar o Departamento de Justiça, nunca tinha apoiado um candidato de seu partido para a presidência na campanha das primárias. Até que apareceu Donald Trump.

Então, em fevereiro de 2015, Sessions surpreendeu seu partido ao subir no palco em Madison (Alabama) para mostrar seu apoio ao multimilionário nova-iorquino, enquanto usava um boné vermelho com seu lema de campanha: "Tornar a América Grande Novamente" ("Make América Great Again").

Em muitos aspectos, Sessions é a antítese de Donald Trump: voz suave e aguda, amável, inflexível em suas posições, filho de um dono de mercearia, criado no sul dos EUA e um devoto metodista que em dois anos realizará seu aniversário de bodas de ouro com Mary, sua namorada desde a época da universidade.

Diferente disso, Trump se mostrou volúvel em suas opiniões, se divorciou duas vezes, vem de uma família rica e se caracteriza por um estilo duro e rude.

No entanto, os dois concordam em sua condição de rebeldes: se enfrentaram em várias ocasiões com a velha-guarda do Partido Republicano e se orgulham de compartilhar com a base mais conservadora do partido a rejeição aos imigrantes ilegais e ao Islã.

Jeff Sessions foi o precursor desse movimento populista, embora Trump tenha sido o único que lhe deu voz, segundo reconheceu em uma entrevista ao jornal "Político", Steve Bannon, estrategista chefe do líder.

"Já fosse a questão do comércio, imigração ou do islamismo radical, Jeff Sessions foi o líder do movimento, muitos anos antes que Donald Trump entrasse em cena", disse Bannon.

Em várias ocasiões, o milionário nova-iorquino expressou admiração por Sessions e suas propostas para endurecer as leis de imigração e criar uma política dura contra o crime.

Já no Senado, Sessions foi em uma das vozes mais atuantes contra os projetos legislativos debatidos no Congresso em 2007 e 2013, a fim de abrir um caminho para a cidadania para alguns os 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem no país, de acordo com as estimativas.

Em suas audiências de apuração no Senado, Jeff Sessions chamou de "anistia" o programa de Ação Diferida (Daca), proclamado por decreto em 2012 pelo ex-presidente Barack Obama e que permitiu frear a deportação de 750 mil jovens que chegaram ao país quando crianças e são conhecidos como "dreamers" (sonhadores).

Trump prometeu usar seu poder Executivo para revogar esse plano de imigração e Sessions assegurou que apoiará sua eliminação e a defenderá como novo procurador-geral dos EUA.

Além da imigração ilegal, o novo procurador-geral se mostrou contrário a concessão de vistos a estrangeiros para trabalhar em postos de alta qualificação porque, segundo sua opinião, essa política impacta negativamente nos salários dos americanos e tira deles milhões de empregos.

"Não acho que os americanos queiram acabar com a imigração, mas acredito que afeta os salários", disse Sessions, com forte sotaque sulista, ao Comitê Judiciário do Senado.

Jeff Sessions defendeu no Senado cada uma de seus ideias: sua oposição ao aborto e ao casamento homossexual, assim como sua proposta para aumentar os controles aos refugiados e instaurar uma política dura de combate as gangues e cartéis de drogas.

No entanto, senadores democratas questionaram Sessions por seu período como procurador para o distrito sul do Alabama (1981-1993), quando foi acusado de fazer comentários racistas, brincar sobre a Ku Klux Klan (KKK) e perseguir judicialmente os defensores dos direitos civis dos afro-americanos.

"Abomino a Ku Klux Klan, o que representa e sua ideologia de ódio", se defendeu Sessions durante as audiências.

Essas acusações o impediram de conseguir em 1986 o cargo de juiz da corte do distrito Sul do Alabama, posto para o qual tinha sido indicado pelo ex-presidente Ronald Reagan.

Jeff Sessions tinha apostado durante anos em um Partido Republicano afastado dos grandes negócios e transformado na voz das preocupações e desejos dos trabalhadores americanos.

Suas propostas foram condenadas ao ostracismo. Mas agora, com o respaldo de Trump, Sessions poderá realizar seu sonho e colocar as leis de imigração a serviço dos americanos de "raça" e não dos interesses das grandes corporações interessadas em mão de obra barata.

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