Nova York festeja campeãs mundiais com pedidos de igualdade salarial
Seleção feminina dos EUA está pedindo à Federação Americana de Futebol, na justiça, que as jogadoras sejam pagas da mesma maneira que os homens
AFP
Publicado em 10 de julho de 2019 às 16h54.
Entre gritos de "USA", apelos pela igualdade salarial e sob uma chuva de papel picado, a seleção feminina de futebol dos Estados Unidos , campeã do mundo pela quarta vez, foi recebida com festa nesta quarta-feira por milhares de pessoas em um desfile em Nova York.
"Igualdade salarial!", gritava a multidão às jogadoras, sendo que um dos caminhões carregava um grande letreiro onde se lia "Os desfiles são maravilhosos, mas a igualdade salarial é mais maravilhosa ainda".
"Quero ouvir vocês: USA! Igualdade de salários!", gritava também para a multidão o prefeito de Blasio.
A seleção, festejada em todo o país, se tornou também uma grande defensora da igualdade salarial entre homens e mulheres, um assunto que ganha força na era do #MeToo.
A seleção feminina está pedindo à Federação Americana de Futebol na justiça que as jogadoras sejam pagas da mesma maneira que os homens.
Na semana passada, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, propôs o dobro do orçamento destinado às jogadoras na próxima Copa do Mundo feminina, que foi de 30 milhões de dólares este ano, bem abaixo dos 400 milhões para o mundial masculino de 2018.
"Ver todas estas meninas gritando 'igualdade salarial!' é realmente incrível", disse encantada Bianca Sherr, uma torcedora que vestia a camisa branca da seleção. O desfile, que durou cerca de uma hora, é uma tradição de 130 anos de Nova York para homenagear grandes personalidades.
Comemoração
As jogadoras, que vestiam camisetas pretas idênticas com a inscrição "Campeãs do mundo" em dourado, saudaram a multidão em um desfile em carro aberto pelas ruas do sul da cidade, desde o Battery Park até a prefeitura.
Descontraídas e sorridentes, algumas se aproximaram do público e assinaram camisetas e capas de celulares. Na manhã ensolarada de verão, os funcionários dos arranha-céus por onde as campeãs passavam atiraram papel picado para homenageá-las.
A jogadora mais conhecida da equipe, Megan Rapinoe, reproduziu durante o desfile a icônica pose da comemoração de seus gols e que repetiu quando recebeu o troféu da Copa do Mundo. "Esta equipe é tão forte, tão dura, tem tanto senso de humor, é tão fantástica", disse Rapinoe à multidão reunida na prefeitura.
"Temos o cabelo rosa e violeta. Temos tatuagens, cabelos rastas. Tem meninas brancas, negras e tudo no meio. Meninas heterossexuais e gays", acrescentou. "Megan para presidente", dizia o cartaz de um fã, Jeff Strong.
A equipe voltou da França na segunda-feira, 24 horas depois de vencer a Holanda na final por 2 a 0, conquistando assim sua quarta Copa do Mundo (1991, 1999, 2015 e 2019), um recorde histórico.
As camisas com as quatro estrelas não param de ser vendidas. Segundo a Nike, que veste a seleção americana, a camisa branca da equipe bateu um recorde mundial de vendas em uma temporada no site oficial da marca (mais do que qualquer clube ou seleção nacional masculinos ou femininos).
"Adoro a personalidade e a impressão que deixam juntas no campo", disse à AFP Gracie Taylor, uma menina que participou do desfile com seu pai.
"Para estas meninas, ter um modelo, ver as jogadoras na televisão fazendo grandes coisas ou estar aqui é algo enorme", avaliou Scott Neverett, ex-jogador de futebol na universidade, que assistiu ao desfile com sua filha Olivia.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, pré-candidato democrata à presidência dos EUA nas eleições de 2020, se juntou às jogadoras no desfile, e em seguida foi o anfitrião na prefeitura, onde entregou a elas as chaves da cidade.
Nos próximos meses a seleção nacional feminina de futebol vai percorrer várias cidades do país, começando mais tarde nesta quarta-feira por Los Angeles para participar da versão esportiva do Oscar, os prêmios ESPYS.
A seleção vai jogar uma série de cinco amistosos internacionais em uma "Turnê da Vitória", começando contra a Irlanda no dia 3 de agosto em Pasadena, Califórnia. Uma escala improvável nessa excursão é a Casa Branca.
Rapinoe não poupou críticas ao presidente Donald Trump, e no mês passado disse que não aceitaria um convite do mandatário para visitar a Casa Branca se a seleção feminina ganhasse a Copa do Mundo. Trump respondeu que Rapinoe deveria "primeiro ganhar antes de falar".
"Eu não iria (à Casa Branca) e tampouco todas as companheiras de equipe com as quais conversei abertamente", disse Rapinoe no programa "Anderson Cooper 360º" da rede CNN.