Emprego: nome de origem cristã pode ter três vezes mais ofertas de entrevista de emprego (SXC)
EFE
Publicado em 6 de fevereiro de 2017 às 14h40.
Londres - Uma pessoa com um nome de origem cristã pode ter três vezes mais ofertas de entrevista de emprego no Reino Unido do que outra com nome muçulmano, revelou nesta segunda-feira um estudo elaborado pela emissora britânica "BBC".
Para a experiência, os coordenadores do programa "Inside Out London" enviaram os currículos de dois candidatos fictícios, um chamado "Adam" e outro "Mohammed", ambos com qualificações e experiência idênticas, a 100 ofertas de trabalho. Adam recebeu 12 chamadas para entrevista e Mohammed só recebeu quatro.
De acordo com os pesquisadores, embora a mostra seja pequena, ela reforça resultados de estudos anteriores relacionados à discriminação racial no mercado de trabalho. Outros trabalhos acadêmicos já tinham indicado que para cargos de diretoria ou nos setores dos chamados empregados "profissionais" a presença de "britânicos muçulmanos" é desproporcional com relação à de qualquer outra comunidade religiosa.
Os candidatos, Adam e Mohammed, mandaram seus currículos para postos de diretores de negócios no setor da publicidade em Londres e o primeiro recebeu o triplo de ligações para fazer entrevistas. Os dois também colocaram seus currículos em sites de emprego e quatro empresas interessadas entraram em contato com Adam, enquanto duas responderam o candidato supostamente muçulmano.
"Eu achava que a taxa de resposta seria inferior a 50% para o que tem nome que soa muçulmano, mas é pior do que eu pensava, principalmente em uma cidade como Londres", que é "muito diversa" e "ávida por talentos", afirmou o professor Tariq Modood, da Universidade de Bristol, que analisou os dados da "BBC".
Entre os casos reais apresentados pela rede britânica, está o de Yogesh Khrishna Davé, de 56 anos e diretor de controle de qualidade em uma empresa do ramo farmacêutico nos arredores de Londres. Segundo ele, foram décadas até conseguir o cargo de diretor e sua suspeita é de que, durante esse tempo, seus superiores ignoraram sua promoção por conta de seu nome.
Ele mesmo chegou a fazer a experiência da "BBC" na década de 80. Davé disse que se sentiu "decepcionado" ao entrar no mercado de trabalho com grande quantidade de "nãos" que recebeu.
"Alguém me sugeriu colocar um nome inglês no currículo, ao mesmo tempo em que mandava o autêntico, para comprovar quem seria chamado para o trabalho. Então, tinha o meu nome, Yogesh, e John Smith. John Smith conseguiu entrevistas. Eu fui rejeitado", relatou o agora diretor.
Um estudo do Centro de Estudos de Etnicidade e Cidadania da Universidade de Bristol também ressalta que um homem muçulmano tem 76% menos chance de conseguir um trabalho se comparado a um homem branco cristão.
Esta suposta discriminação também afeta o nível de vida nos lares de famílias muçulmanas. De acordo com a pesquisa, mais da metade delas está abaixo da linha de pobreza em Londres, onde, segundo o censo de 2011, há 1 milhão de muçulmanos, de um total de 8,2 milhões de habitantes.