No primeiro dia útil após a eleição, dólar vai 1.060 pesos e QG de Milei vive expectativa
Turistas brasileiros dizem que não conseguiram trocar reais por pesos por falta de dinheiro em espécie
Editor de Macroeconomia
Publicado em 21 de novembro de 2023 às 14h37.
Última atualização em 21 de novembro de 2023 às 15h33.
BUENOS AIRES - No começo da tarde desta terça-feira, 21, no centro de Buenos Aires, um batalhão de jornalistas aguardava o presidente eleito da Argentina, Javier Milei, sair de reuniões em seu bunker, o Libertador Hotel. Ele chegou ao local por volta das 11h30, após ter um encontro com o atual presidente Alberto Fernandez na residência oficial.
Milei tem seu primeiro dia útil após a vitória, já que a segunda-feira, 20, foi feriado no país. Assim, o mercado começou a precificar oficialmente seu novo governo.Por volta das 14h20, um dólar estava cotado em 1.060 pesos para compra, segundo o site El Cronista, ante 950 pesos na sexta-feira, 17.
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Nos supermercados, a imprensa argentina relata que os preços começaram a subir em produtos de consumo massivo, com subidas de até 45% nos preços em alguns casos. Atualmente, funciona na Argentina o programa Precios Justos, que, segundo o site oficial, éum "acordo voluntário de preços em consumo massivo que estabelece uma diretriz de 5% ao mês para todos os produtos comercializados pelas empresas que participam do acordo".
O programa tem vigência até 31 de dezembro. Com a troca de governo, porém, há um desincentivo a segui-lo, escreve o jornal Infobae.
Em meio à expectativa sobre quem serão os ministros e quais medidas o novo presidente vai tomar assim que tomar posse em 10 de dezembro, EXAME presenciou a chegada de Karina Milei, irmã do presidente eleito, que não falou com a imprensa. Ela é uma das figuras-chave da campanha e que terá um papel importante no novo governo. Milei concede hoje, às 19h, uma entrevista a uma rádio.
No local, palco onde uma multidão se aglomerou no domingo, 19, para comemorar a vitória do ultraliberal, curiosos e turistas se esperavam para saudar o agora eleito presidente.
Foi o caso de duas turistas brasileiras. Erika Alves, gerente de uma rede de academias, e Nathalia Souza, bancária, estavam de férias em Buenos Aires. Ao passar pela concentração perguntaram ao taxista que as levava sobre o que era aquilo. Ouviram ser o QG de Milei e desembarcaram ali para tentar ver o candidato.
Elas se identificam como de direita e apoiadoras do ex-presidente Jair Bolsonaro. "Milei é a esperança", diz Natalia.
Outros brasileiros se aglomeravam nas imediações do Libertador Hotel. Um deles, ao passar pelo edifício, gritou: "Agora, sim, esse país vai andar". E seguiu seu caminho.
Sem espécie nas casas de câmbio
As brasileiras chegaram ao país na última sexta-feira, 17, para aproveitar o feriado prolongado e foram afetadas pelas incertezas econômicas. Desde que desembarcaram tentam, sem sucesso, fazer o câmbio de reais para pesos. "Fomos na Western Union todos os dias. No sábado, nos disseram que não havia dinheiro em espécie", diz.
Como domingo e segunda foram feriado, a casa de câmbio não abriu. Ao tentar novamente nessa terça fazer a troca de moeda, também esbarraram na falta de dinheiro em espécie. "A todo o tempo as pessoas com quem conversamos dizem que há muita incerteza na economia", diz Erika. "Estamos pagando tudo no cartão."
Na Argentina, há dois câmbios: o oficial, no qual um real gira em torno de 73 pesos, e o paralelo, no qual o real se aproxima de 180 a 190 pesos. Dessa maneira, acaba sendo desvantajoso para os turistas fazer o câmbio oficial.
A EXAME esteve na rua Florida, um local famoso por casas de câmbio e agentes que ficam nas ruas oferecendo a troca de moedas. De fato, ao se andar por ali a abordagem acontece a cada cinco metros.
Uma agente, que não quis se identificar, disse que, assim que o mercado abriu nessa terça-feira, 21, o site no qual ela se baseia para as cotações dizia que um dólar estava em torno de 1050 e 1060 pesos. "Mas esse não é o preço que se consegue nas ruas. Estou vendendo por volta de 950", disse, por volta do meio-dia.
O mercado paralelo começa a funcionar a partir do meio-dia, segundo informaram alguns desses agentes à EXAME.
Por volta das 15h, EXAME abordou um desses agentes de câmbio e pediu uma cotação para trocar 100 dólares por pesos.
Na calculadora, uma mulher mostrou que a cotação sairia a 97.000 pesos -- ou seja, um dólar a 970 pesos. Ela garante que, ao menos nas ruas, nada mudou desde sexta-feira, 17, último dia útil antes das eleições. "Ele ainda nem assumiu", disse. "Até o dia 10 de dezembro vai ficar assim, nessa apreensão. Mas não deve mudar para nós até lá."
No QG de Milei e nas ruas próximas onde se trocam dólares e reais por pesos, o sentimento ainda é de acomodação ao novo presidente. Os próximos 20 dias, quando tomará de fato posse no cargo, serão de expectativa e volatilidade.