(Arif ALI/AFP)
AFP
Publicado em 23 de novembro de 2021 às 08h38.
Olhos avermelhados, tosse, cheiro de fumaça por toda a parte e carros circulando com os faróis acesos em pleno dia. Uma nuvem tóxica volta a envolver a cidade paquistanesa de Lahore e seus cidadãos começam a ficar desesperados.
Esta megacidade de 11 milhões de pessoas perto da fronteira com a Índia já foi a capital do Império Mongol e ainda continua sendo o epicentro cultural do Paquistão.
Agora, aparece com frequência entre as mais poluídas do mundo, quando uma mistura de emissões de óleo diesel de baixa qualidade, gases da queima sazonal das plantações e as baixas temperaturas do inverno se fundem em uma névoa densa e opaca.
Syed Hasnain está visivelmente cansado, enquanto espera seu filho de quatro anos, que acaba de ser internado no Hospital Mayo.
"Estava tossindo, não conseguia respirar bem e estava com febre alta. Pensamos que, no máximo,podia ser coronavírus e nós trouxemos ele para o hospital. Mas os médicos nos disseram que ele desenvolveu uma pneumonia, devido à nuvem tóxica", disse Hasnain à AFP.
"É muito preocupante", afirma.
"Sabia que essa poluição podia ser ruim para a saúde, mas não sabia que podia ser tão ruim para terminar com meu filho hospitalizado", acrescenta.
Os professores também estão preocupados com seus alunos.
"A poluição é um problema inclusive dentro de sala. Vemos crianças com os olhos vermelhos e irritados, outras tossem o tempo todo", relata Nadia Sarwar, professora de uma escola pública.
Uma criança com asma teve de ficar em casa vários dias, porque tinha crises o tempo todo, completou.
Do outro lado da fronteira, a capital indiana, Nova Délhi, fechou escolas por tempo indeterminado, devido aos altos níveis de poluição. Sarwar considera, porém, que seja difícil fazer o mesmo em Lahore.
Os alunos já perderam muitas aulas pela pandemia da covid-19 e o fechamento das escolas agora faria os estudantes "pagarem por um problema que não foram eles que criaram".
"Sinto-me mal por eles", lamenta.
"No verão, é muito quente para atividades ao ar livre. E no inverno tem poluição e dengue agora. O que uma criança pode fazer? Para onde pode ir", questiona.
Os adultos também passam mal. Rana Bibi, uma mãe de três filhos que trabalha como faxineira, usa seu xale como máscara facial enquanto espera uma bicitáxi para voltar para casa.
"A fumaça incomoda meus olhos e minha garganta. Por isso, cubro meu rosto assim. Primeiro, eles nos obrigaram a fazer isso pelo coronavírus. Agora, faço isso sozinha", explica ela.
"Quando vou para casa, estou sempre cheirando a fumaça. Minhas roupas, meu cabelo, minhas mãos estão sujas. Mas o que você pode fazer? Não posso ficar sentada em casa. Me acostumei", afirma.
Algumas das casas onde ela trabalha "têm essas máquinas para limpar o ar. Não sei. É o que me dizem. Mas aqui tem fumaça por toda a parte".
Nos últimos anos, os moradores construíram purificadores de ar domésticos e entraram com ações judiciais contra o governo em tentativas desesperadas de limpar o ar.
As autoridades demoram a agir, porém, responsabilizando a Índia pela poluição, ou garantindo que os dados são exagerados.
"Todos os anos, lemos nos jornais que Lahore é a cidade mais poluída do mundo, ou que teve a pior nuvem tóxica do mundo. Mas não acontece nada. Ninguém se importa", protesta Saira Aslam, que trabalha no departamento de recursos humanos de uma empresa de tecnologia. A jovem de 27 anos está irritada.
"O governo escapou no ano passado, porque estávamos todos sentados em casa, por causa do confinamento. Mas eles não podem continuar agindo como se nada estivesse errado", acrescenta.
"Tenho idosos em casa que estão literalmente em risco, devido à nuvem de poluição. É um perigo para a saúde e deve ser tratado como tal", frisou.