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Nicarágua fica sob pressão após revogar reforma que causou protestos

Apesar de revogar a reforma, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, continua sob pressão e enfrenta manifestações contra seu governo

Nicarágua:mais de 25 pessoas morreram durante as manifestações contra a reforma da previdência (Oswaldo Rivas/Reuters)
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AFP

Publicado em 23 de abril de 2018 às 11h11.

Manágua - O presidente nicaraguense Daniel Ortega continuava sob pressão nesta segunda-feira, apesar de ter revogado a reforma do sistema previdenciário que desatou uma onda de violentos protestos, saques e choques com a polícia, deixando ao menos 25 mortos.

O Conselho Superior da Empresa Privada (COSEP), que foi aliado de Ortega em seus 11 anos no poder, manteve a convocação de uma marcha contra o governo para esta segunda-feira, enquanto que os estudantes que iniciaram os protestos insistem que não interromperão seu movimento.

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No domingo, tentando aplacar a revolta generalizada, Ortega anunciou a revogação da reforma no sistema de pensões.

Depois de mais de quatro dias de confrontos entre manifestantes e forças de segurança, as piores em seus 11 anos de governo, Ortega anunciou que revogou as reformas em um encontro com líderes empresariais.

O Instituto Nicaraguense de Seguro Social (INSS) tomou uma decisão "revogando a resolução anterior, de 16 de abril passado, que foi a que serviu como detonadora para que se iniciasse toda esta situação" de protestos, disse Ortega, acusando ao mesmo tempo os manifestantes de agir como membros de gangue.

Naquela data, o organismo de seguridade social reformou o sistema de pensões para aumentar as contribuições de trabalhadores e patrões a fim de dar estabilidade financeira ao sistema previdenciário, gerando o repúdio da população, que foi às ruas protestar.

O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) disse à AFP que confirmou com as famílias das vítimas a morte de 24 pessoas nos protestos, iniciados na quarta-feira.

Entre as vítimas estão estudantes que iniciaram o movimento, policiais e simpatizantes da governista Frente Santinista - acusados de atacar os manifestantes - e o jornalista Miguel Ángel Gahona, que morreu no sábado atingido por um tiro, quando transmitia pelo Facebook um confronto entre manifestantes e forças de ordem.

A revogação da controversa reforma não convenceu a todos na Nicarágua, onde algumas pessoas consideraram que a medida foi tardia.

Ortega anunciou que formará uma mesa de diálogo, com a participação da Igreja católica, para discutir as reformas que deem estabilidade financeira ao sistema de pensões.

Em meio ao clima tenso, a população lotou supermercados e lojas em busca de provisões, e no domingo foram reportados novos bloqueios de ruas e saques em vários estabelecimentos comerciais.

Ortega criticou duramente os manifestantes e os comparou a membros de gangue que semeiam o terror no norte da América Central.

"Isto nos obriga a por em nossa agenda o combate às gangues. Combatê-las para que não continuem agindo da forma como agem, que não continuem se matando entre si e que não vão assaltar estabelecimentos", disse Ortega na reunião.

Sua mensagem gerou críticas, em meio à tensão que o país vive.

"Ortega está fazendo uma análise equivocada da realidade. Não pediu perdão pelos mortos, não tomou medidas para cessar a repressão, nem desmobilizar grupos paramilitares e continua ameaçando com o uso da força púbica", disse à AFP o ex-deputado José Pallais.

No sábado, Ortega havia pedido para dialogar com o setor privado para abordar a reforma do sistema de pensões, mas sua mensagem gerou repúdio entre outros setores que se uniram espontaneamente aos protestos por se sentirem excluídos, acirrando ainda mais os ânimos.

O autodenominado movimento OcupaINSS, um dos que iniciou os protestos, queixou-se que o diálogo "deveria incluir as vozes de todos os setores que pediram uma discussão ampla e inclusiva (...) sobre a forma autoritária e sem consultas como as decisões vêm sendo tomadas".

Líderes políticos acreditam que os protestos vão além do descontentamento com as reformas do sistema previdenciário e apontam para a necessidade de uma mudança na direção do país.

 

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