Yuan Wang 5 deixou o porto chinês de Jiangyin em 13 de julho (Thilina Kaluthotage/Getty Images)
AFP
Publicado em 16 de agosto de 2022 às 09h43.
Um navio chinês de pesquisa entrou nesta terça-feira (16) no porto de Hambantota, sul do Sri Lanka, administrado pela China, apesar da preocupação de Índia e Estados Unidos sobre eventuais atividades de espionagem.
O navio "Yuan Wang 5" foi recebido no porto por dançarinos e músicos tradicionais, além de vários deputados posicionados em um tapete vermelho e homens que agitavam bandeiras dos dois países.
Presente na cerimônia, o embaixador da China no Sri Lanka, Qi Zhenhong, citou "ações normais entre dois países". "China e Sri Lanka desfrutam de uma grande amizade", acrescentou.
Depois de consultas com Índia, Estados Unidos e China, o Sri Lanka permitiu ao navio atracar e permanecer durante seis dias, desde que não faça nenhuma pesquisa, informaram as autoridades portuárias.
O navio também deve manter o Sistema de Identificação Automática dentro da zona econômica exclusiva do Sri Lanka.
Embora os sites especializados o descrevam como um "navio de pesquisa e estudo", o canal indiano CNN-News18 afirma que é um navio de rastreamento espacial e por satélite, usado para lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais.
Em Pequim, o ministério das Relações Exteriores afirmou que as atividades de pesquisa marinha do Yuan Wang 5 estão "de acordo com o direito internacional".
"Não violam a segurança nem os direitos de nenhum país", disse o porta-voz Wang Wenbin, antes de afirmar que "terceiros países não devem interferir".
O Yuan Wang 5 deixou o porto chinês de Jiangyin em 13 de julho e deveria fazer escala no Sri Lanka em 11 de agosto, mas Colombo pediu a Pequim o adiamento da visita devido às objeções da Índia.
Mas finalmente, no sábado, o navio recebeu autorização para entrar no país. "Garantimos as mesmas facilidades que concedemos a todos os países", disse o porta-voz do governo cingalês, Badula Gunawardana.
A Índia questiona a crescente presença da China no Oceano Índico e sua influência no Sri Lanka, que assumiu uma grande dívida com Pequim para o desenvolvimento de grandes projetos de infraestruturas.
De fato, em 2017 o Sri Lanka não conseguiu pagar o empréstimo de 1,4 bilhão de dólares concedido por Pequim para a construção do porto de Hambantota e acabou cedendo o local para uma empresa chinesa por 99 anos por US$ 1,12 bilhão.
Com uma dívida externa de 51 bilhões de dólares, o Sri Lanka enfrenta uma grave crise econômica e se declarou em falência em meados de abril, quando não conseguiu cumprir com suas obrigações financeiras.
A China é o principal credor do Sri Lanka, com mais de 10% da dívida externa da ilha, e seu apoio é essencial para que esta ilha reestruture sua dívida externa antes de conseguir um resgate do Fundo Monetário Internacional.
No início do mês, as autoridades do país insular tentaram tranquilizar a Índia e afirmaram que o navio chinês atracaria apenas para reabastecimento, sem qualquer atividade durante sua escala.
Nova Délhi advertiu contra "qualquer toda incidência sobre a segurança e os interesses econômicos da Índia, que tomará todas as medidas necessárias para protegê-los".
O porta-voz do governo do Sri Lanka, Gunawardana, disse que o gabinete queria responder "diplomaticamente às preocupações" de Nova Délhi.
"Índia e China nos ajudam neste período muito crucial em que enfrentamos uma crise econômica sem precedentes", afirmou.
Um dia antes da chegada do navio, a Índia doou ao Sri Lanka um avião Dornier 228 para melhorar sua capacidade de vigilância marítima.
A ilha de 22 milhões de habitantes sofre com a escassez de alimentos, combustíveis e medicamentos desde o fim do ano passado por falta de divisas estrangeiras para pagar as importações.
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