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'Não sou Charlie': consenso tem fissuras após ataques

Embora muito menos popular que a hashtag #JeSuisCharlie, a hashtag #IamNotCharlie também apareceu no Twitter

Faixa com a inscrição 'Je Suis Charlie' (Eu sou Charlie) é exibida na frente de uma manifestação em memória das vítimas dos atentados no país (Denis Charlet/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de janeiro de 2015 às 12h19.

Paris - A onda mundial de luto depois do ataque ao "Charlie Hebdo" atingiu muitos franceses, mas alguns ainda detectam certa hipocrisia ou se recusam a apoiar um jornal semanal que antagonizou tantas pessoas.

O governo do presidente François Hollande insiste que a liberdade de expressão não pode ser abreviada por conta do medo de mais ataques, e autoridades apoiaram a campanha de solidariedade das redes sociais "Je suis Charlie" ("Sou Charlie").

Mas o ceticismo emergiu do lado dos funcionários sobreviventes do Charlie Hebdo, que classificaram parte do apoio a eles como insincero; a outros que consideraram o semanário ofensivo; e outros que questionaram o histórico de direitos humanos dos mais de 40 líderes mundiais que participam da marcha deste domingo em Paris.

"Há tantas palavras bonitas sendo ditas sobre liberdade de expressão e democracia. Mas onde estava o apoio antes? Não havia muito", disse o estudante de matemática de 26 anos Nalo Magalhou a respeito das reações da mídia e de políticos.

Embora muito menos popular que a hashtag #JeSuisCharlie, a hashtag #IamNotCharlie também apareceu no Twitter.

Houve poucas manifestações de apoio na Internet aos ataques que mataram 17 pessoas em três eventos diferentes em três dias e culminaram em um confronto em um supermercado kosher no leste de Paris.

Mas mais significativo é o corpo de pessoas que disseram que apesar de condenar os ataques, ainda não podem apoiar um jornal que ridicularizava religiões.

"Seria muito fácil (dizer) 'eu sou Charlie'", disse o blogueiro belga Marcel Sel em seu site.

Chocado pelos ataques que condena sem reservas, ele disse que seria "covarde" fingir que ele é "Charlie", enquanto no passado criticou fortemente algumas das charges sobre o Islã.

Zakaria Moumni, um franco-marroquino de 34 anos que estava envolvido em uma bandeira francesa na marcha da Praça da República deste domingo, tinha razões diferentes para acreditar que havia fissuras no suposto consenso.

"Alguns chefes de Estado e de governo simplesmente não deveriam estar aí, já que infringem a liberdade de expressão em seus próprios países. É hipócrita", disse o ex-campeão de boxe tailandês, que disse ter sido torturado no Marrocos e recebeu apoio de ONGs como a Human Rights Watch quando foi preso no país.

O Marrocos negou as acusações de tortura e em março do ano passado entrou com uma reclamação legal na França contra as ONGs.

Para o cartunista veterano do Charlie Hebdo Bernard Holtrop, o problema está com alguns dos "novos amigos" do jornal.

Holtrop, famoso na França sob o nome de Willem, disse que estava feliz com o fato de pessoas no mundo todo terem marchado para defender a liberdade de expressão. Mas questionado sobre o apoio do partido de extrema-direita holandês Geert Wilders, ele disse: "vomitamos em todas essas pessoas que de repente estão dizendo que são nossos amigos". "Temos muitos amigos novos - o Papa, a Rainha Elizabeth, Putin. Tenho que dar risada sobre isso", disse. Willem disse que só está vivo porque não gosta de participar de reuniões semanais de pauta e não estava no escritório de Paris quando dois atiradores entraram e mataram seus colegas e dois policiais.

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Paris - A onda mundial de luto depois do ataque ao "Charlie Hebdo" atingiu muitos franceses, mas alguns ainda detectam certa hipocrisia ou se recusam a apoiar um jornal semanal que antagonizou tantas pessoas.

O governo do presidente François Hollande insiste que a liberdade de expressão não pode ser abreviada por conta do medo de mais ataques, e autoridades apoiaram a campanha de solidariedade das redes sociais "Je suis Charlie" ("Sou Charlie").

Mas o ceticismo emergiu do lado dos funcionários sobreviventes do Charlie Hebdo, que classificaram parte do apoio a eles como insincero; a outros que consideraram o semanário ofensivo; e outros que questionaram o histórico de direitos humanos dos mais de 40 líderes mundiais que participam da marcha deste domingo em Paris.

"Há tantas palavras bonitas sendo ditas sobre liberdade de expressão e democracia. Mas onde estava o apoio antes? Não havia muito", disse o estudante de matemática de 26 anos Nalo Magalhou a respeito das reações da mídia e de políticos.

Embora muito menos popular que a hashtag #JeSuisCharlie, a hashtag #IamNotCharlie também apareceu no Twitter.

Houve poucas manifestações de apoio na Internet aos ataques que mataram 17 pessoas em três eventos diferentes em três dias e culminaram em um confronto em um supermercado kosher no leste de Paris.

Mas mais significativo é o corpo de pessoas que disseram que apesar de condenar os ataques, ainda não podem apoiar um jornal que ridicularizava religiões.

"Seria muito fácil (dizer) 'eu sou Charlie'", disse o blogueiro belga Marcel Sel em seu site.

Chocado pelos ataques que condena sem reservas, ele disse que seria "covarde" fingir que ele é "Charlie", enquanto no passado criticou fortemente algumas das charges sobre o Islã.

Zakaria Moumni, um franco-marroquino de 34 anos que estava envolvido em uma bandeira francesa na marcha da Praça da República deste domingo, tinha razões diferentes para acreditar que havia fissuras no suposto consenso.

"Alguns chefes de Estado e de governo simplesmente não deveriam estar aí, já que infringem a liberdade de expressão em seus próprios países. É hipócrita", disse o ex-campeão de boxe tailandês, que disse ter sido torturado no Marrocos e recebeu apoio de ONGs como a Human Rights Watch quando foi preso no país.

O Marrocos negou as acusações de tortura e em março do ano passado entrou com uma reclamação legal na França contra as ONGs.

Para o cartunista veterano do Charlie Hebdo Bernard Holtrop, o problema está com alguns dos "novos amigos" do jornal.

Holtrop, famoso na França sob o nome de Willem, disse que estava feliz com o fato de pessoas no mundo todo terem marchado para defender a liberdade de expressão. Mas questionado sobre o apoio do partido de extrema-direita holandês Geert Wilders, ele disse: "vomitamos em todas essas pessoas que de repente estão dizendo que são nossos amigos". "Temos muitos amigos novos - o Papa, a Rainha Elizabeth, Putin. Tenho que dar risada sobre isso", disse. Willem disse que só está vivo porque não gosta de participar de reuniões semanais de pauta e não estava no escritório de Paris quando dois atiradores entraram e mataram seus colegas e dois policiais.

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