Muriel Bowser, a prefeita que desafia Trump na luta pela igualdade racial
Prefeita de DC autorizou pintar a faixa "Black Lives Matter" na rua da Casa Branca; ela tem chamado atenção de Democratas, que a cogitam como vice de Biden
Clara Cerioni
Publicado em 12 de junho de 2020 às 19h36.
Última atualização em 12 de junho de 2020 às 19h46.
Na última semana, a imagem da rua em frente à Casa Branca pintada com enormes letras amarelas " Black Lives Matter " rodou o mundo. A ação, que também renomeou o local com o nome do movimento, foi vista como uma potente oposição ao presidente americano, Donald Trump .
A repercussão do gesto não foi só por conta de sua magnitude, mas também porque ele foi liderado pela prefeita de Washington DC, Muriel Bowser, 47 anos. Assim que a faixa foi pintada, Bowser tuitou um vídeo da rua com uma mensagem para Breonna Taylor, uma mulher negra morta pela polícia de Louisville, no Estado de Kentucky.
A morte de Breonna tem inspirado protestos em todo o país junto com ocaso de George Floyd, um homem negro assassinado em 25 de maio pela polícia de Mineápolis."Breonna Taylor, no seu aniversário, vamos ficar juntas com determinação. Determinação de fazer da América a terra que deveria ser", diz a publicação de Bowser.
Conhecida como uma líder cautelosa, segundo relata a imprensa americana, a prefeita tem se transformado em uma das principais vozes políticas na luta pela igualdade racial nos EUA. "O mural do Black Lives Matter foi um soco na cara de Trump. Ela colocou a questão bem na saída da casa do presidente. Foi um ato de coragem", disse China Dickerson, um estrategista democrata que conhece a prefeita, ao Financial Times.
Tanto para críticos quanto para aliados, a oposição de Bowser a Trump, por meio da ação de pintar três palavras tão fortes na rua, foi uma inteligente jogada política. Com a atenção que recebeu, ela agora está na mesa de apostas para ser vice de Joe Biden, o pré-candidato democrata, para concorrer nas eleições deste ano. Biden já prometeu que teria uma vice mulher e, com o avanço dos protestos, suas chances aumentaram por ela ser uma mulher negra.
Nesta semana, a tensão entre a prefeita e o presidente subiu de nível depois que o Trump lançou mão da a força policial e militar para interromper um protesto na cidade para que ele pudesse posar para fotos em frente à uma igreja nas proximidades da Casa Branca. "Queremos tropas para fora do Estado, fora de Washington, DC", disse Bowser em uma coletiva de imprensa no dia seguinte. Em seguida, uma autoridade dos EUA disse que o Pentágono iria retirar os 900 soldados remanescentes que haviam sido enviados para Washington.
Além dos protestos, a prefeita também enfrenta o surto do novo coronavírus, que já deixou 9,6 mil pessoas infectadas e 506 mortos em na capital americana. Antes dos conflitos atuais, no entanto, sua gestão, que começou em 2015, não foi marcada por grandes problemas.
Segundo avaliação de políticos progressistas, em seu mandato ela melhorou significativamente a vida de pessoas em situação de rua, mas ainda não conseguiu resolver a histórica segregação habitacional contra afro-americanos na cidade. "Ela pode dizer com razão 'estou fazendo mais do que qualquer prefeito antes', mas claramente não é o suficiente em uma cidade que está se gentrificando e forçando o afastamento de moradores negros", disse Ed Lazere, um conselheiro de DC, ao Financial Times.
Apesar dos desafios, em 2018, Bowser foi reeleita para o cargo e se tornou a primeira prefeita a vencer duas eleições seguidas em 15 anos. Ela também foi a segunda mulher na história da capital americana a assumir o cargo. Antes de política, Bowser se formou bacharel em História pela Chatham University e fez mestrado em Políticas Públicas pela American University.