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Mubarak cede à pressão do povo e abandona o poder após 30 anos

Ex-ditador assumiu a presidência após o assassinato de seu antecessor e se destacou como mediador internacional no Oriente Médio, mas não resistiu aos protestos

Apoiador de Mubarak: prestígio internacional e repressão no Egito (Peter Macdiarmid/Getty Images)

Apoiador de Mubarak: prestígio internacional e repressão no Egito (Peter Macdiarmid/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2012 às 20h02.

Cairo - O presidente egípcio, Hosni Mubarak, pressionado por semanas de protestos populares contra seu regime, abandonou nesta sexta-feira o poder, no qual permaneceu durante quase 30 anos.

Durante todo esse tempo, Mubarak governou o Egito - país mais povoado do mundo árabe - com mão de ferro, enquanto atuava no exterior como um importante mediador regional.

Da mesma forma que outros estadistas árabes, Mubarak foi um militar que trocou as armas pela política.

Nascido em 1928 no Delta do Nilo, foi piloto de combate e em 1973 desempenhou um destacado papel durante a guerra do Yom Kippur contra Israel como chefe da Força Aérea egípcia.

Ocupou o cargo até 1975 quando o então presidente, Muhammad Anwar El Sadat, o nomeou vice-presidente. Em 1981, o assassinato de Sadat lhe transformou repentinamente em presidente.

Desde então, o presidente Mubarak governou o Egito ininterruptamente.

Homem de ideologia indefinida e sem especial carisma, Mubarak recebeu o legado de Sadat e desde o princípio aspirou a se transformar no grande mediador do Oriente Médio e a manter a paz com Israel.

Com esta política e com a ajuda dos Estados Unidos conquistou uma reputação como estadista e se transformou no aliado do Ocidente na região.

No interior do país, exerceu um controle ferrenho, apoiado pela Lei de Emergência, vigente durante todo seu mandato.

Tal lei adquiriu justificativa quando conseguiram conter a onda de terrorismo islâmico que sacudiu Egito nos anos 1990 a partir de sua aplicação, mas também serviu a Mubarak para varrer a oposição política do seu regime.

Com a justificativa da luta contra o terrorismo, a Lei de Emergência permitiu suspender as liberdades de imprensa e de associação, ampliou os poderes dos órgãos de segurança e anulou direitos civis e políticos como o direito à greve, ou a presença de um advogado no caso de alguém ser detido.


Em matéria econômica, Mubarak defendeu a liberalização, mas sem mexer nos subsídios aos produtos básicos para garantir a paz social.

Egito viveu durante anos uma etapa de estabilidade política e econômica na quais as eleições se reduziram a uma ratificação do governante Partido Nacional Democrático (PND).

No entanto, pouco a pouco, a falta de liberdades, a corrupção, as crescentes diferenças sociais e a pobreza (cerca de 40% dos 80 milhões de egípcios vivem com menos de U$ 2 ao dia) fizeram com que as Forças de oposição fossem ganhando terreno.

A Irmandade Muçulmanda, grupo islamita fundado em 1928, ilegalizado mas tolerado pelo Governo, se destacou.

A repressão do islamismo e o empenho de Mubarak em manter a paz com Israel, também lhe renderam a inimizade de muitos egípcios.

Em 2005, Mubarak - pressionado, aparentemente, pelos Estados Unidos - deu sinais de abertura e permitiu a concorrência de vários candidatos às eleições presidenciais, uma novidade levando em conta que até então ele era eleito mediante um plebiscito.

Nas eleições presidenciais de 2005 os egípcios tiveram a possibilidade de votar em outros, embora 88,5% que foram às urnas (só 23% votaram) optou por Mubarak.

Cinco anos depois, em dezembro de 2010, o partido de Mubarak voltou a ganhar o pleito legislativo, mas estes foram tachados de fraudulentos pela oposição.

Mubarak, que nestes 30 anos sofreu vários atentados, estava supostamente preparando seu filho Gamal para sucedê-lo.

No dia 25 de janeiro, o Egito foi testemunha de uma onda de protestos - inspiradas na revolta de Tunísia e convocadas via internet - que reivindicavam a renúncia de Mubarak.

Mubarak começou impondo o toque de recolher, mudou o Governo, prometeu reformas e anunciou que não se apresentaria às eleições presidenciais de setembro, mas não conseguiu diminuir os protestos e nesta sexta-feira respondeu às exigências dos manifestantes e deixou o poder.

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