Interior de avião da Malaysia Airlines: as autoridades estão atrás de pistas sobre o estado mental do piloto, incluindo se um suicídio pode explicar o desaparecimento do voo 370 (REUTERS/Edgar Su)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2014 às 15h08.
Dallas, Minneapolis e Cingapura - O foco dos investigadores no papel dos pilotos no desaparecimento do avião malaio coloca sob o holofote as avaliações de saúde mental de aviadores comerciais.
A Malaysian Airline System Bhd. realiza testes psicológicos, uma prática comum do setor na Ásia, onde têm sede duas das cinco companhias aéreas que registraram suicídio em voo desde 1982.
Nos EUA e na Europa, que não tiveram casos nesse período, os órgãos reguladores não exigem exames psicológicos de rotina e depende dos pilotos revelar problemas passados ou atuais e medicações durante exames físicos de rotina.
As abordagens diferentes estão sendo expostas porque as autoridades estudam o comportamento da tripulação da cabine de comando do avião da Malaysian Air, o piloto Zaharie Ahmad Shah e o copiloto Fariq Abdul Hamid, atrás de pistas sobre seu estado mental, incluindo se um suicídio pode explicar o desaparecimento do voo 370, no dia 8 de março.
“Você descobrirá que alguns dos países do Leste Europeu e da Ásia têm mais exigências que os países ocidentais”, disse Ian Cheng, um físico de Sydney, que é também presidente da Sociedade Australasiana de Medicina Aeroespacial.
“Mais rigor não necessariamente significa melhor controle, mas mostra sua formação cultural e a forma como esses cidadãos percebem as coisas”.
Americanos envolvidos em treinamento de pilotos dizem que testes psicológicos extensivos não são necessários no maior mercado de aviação do mundo porque as companhias aéreas americanas tendem a contratar pilotos militares ou civis formados, com milhares de horas de experiência, que provaram seu valor em aviões menores de curta distância.
Experiências mais longas de voo afastam recrutas potencialmente instáveis antes de eles chegarem à cabine de comando de um jato comercial, disseram eles.
Assim como a Administração Federal de Aviação dos EUA, a Autoridade Europeia de Segurança na Aviação não exige testes de rotina de saúde mental.
Essas avaliações podem ser pedidas se os examinadores encontrarem motivo para preocupação durante os exames físicos periódicos, que incluem uma conversa sobre bem-estar mental, segundo as orientações das agências.
A Coreia do Sul e Cingapura exigem avaliações de personalidade quando um piloto é contratado. Companhias aéreas sul-coreanas usam uma avaliação de personalidade de 350 questões e avaliam os pilotos “continuamente”, de forma individual e em grupo, com análises que se estendem aos membros da família, disse Kwon Yong Bok, diretor-geral para a Aviação Civil do Escritório de Política de Segurança na Aviação.
A Asiana Airlines Inc., segunda maior companhia aérea da Coreia do Sul, realiza avaliações de personalidade em pilotos e membros da cabine todos os anos quando eles passam por avaliações físicas anuais de rotina, disse a porta-voz Lee Hyo Min. Os membros da tripulação precisam responder a uma lista de questões exigidas pelo governo, disse ela.
A Malaysian Air pode alterar os exames psicológicos exigidos aos pilotos depois do desaparecimento do voo 370, disse o CEO Ahmad Jauhari Yahya em 17 de março. “Mais adiante, nós olharemos para tudo isso e veremos se podemos fortalecer e tornar mais rígidos todos os vários exames e requisitos de entrada”, disse ele.
EgyptAir, SilkAir
O serviço AviationSafetyNetwork, que monitora dados de acidentes, identificou cinco quedas que mataram 422 pessoas desde 1982 causadas por ações intencionais de pilotos comerciais. Esses casos envolveram as empresas EgyptAir Airlines Co., SilkAir Singapore Pte., Royal Air Maroc, Japan Airlines Co. e LAM Mozambique Airlines.
A Deutsche Lufthansa AG, segunda maior companhia aérea da Europa, administra uma academia de treinamento interno de pilotos com 120 vagas por ano, para as quais recebe em torno de 3.000 candidaturas. Os graduados bem-sucedidos são submetidos a um exame físico formal, além de avaliações de personalidade orientadas ao comportamento monitoradas por psicólogos e comandantes de voo.
OK para antidepressivos
Para promover a divulgação e reduzir o estigma em torno da saúde mental, a Austrália permite que os pilotos continuem voando mesmo se usam antidepressivos, desde que atendam certos critérios, enquanto a maioria das demais autoridades regulatórias mantém esses comandantes em terra até que estejam melhor, disse Gordon Cable, que oferece serviços médicos de aviação e realiza exames médicos em pilotos em Adelaide, na Austrália do Sul.
O estigma pode levar qualquer um a esconder os sinais e sintomas de doenças mentais, “particularmente os pilotos, porque eles podem ter medo de serem mantidos em terra”, disse Cable. “O emprego deles está em jogo”.