Milei vai aos EUA falar com o FMI, que emprestou US$ 44 bi para a Argentina
Novo presidente argentino faz sua primeira viagem ao país como presidente eleito e também falará com autoridades do governo americano
Redação Exame
Publicado em 27 de novembro de 2023 às 16h44.
Última atualização em 27 de novembro de 2023 às 16h53.
Javier Milei faz nesta segunda-feira (27) sua primeira visita a Washington como presidente-eleito. Na cidade, ele conversará com autoridades do FMI (Fundo Monetário Internacional), com quem a Argentina fez um empréstimo de 44 bilhões de dólares, e com autoridades do governo dos Estados Unidos.
O empréstimo, feito em março de 2022, já passou por várias revisões. A última delas foi em agosto, e a próxima está prevista para novembro. Nestes ajustes, foram feitas manobras complexas: a Argentina pegou empréstimos e fez acordos com outros países para obter recursos para pagar o fundo. Ao mesmo tempo, o FMI relevou a questão de que a Argentina não cumpriu partes do acordo, como ampliar as reservas de dólares e reduzir o déficit nas contas públicas.
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Pelo acordo, o fundo entrega o dinheiro aos poucos, ao longo de 30 meses. Em agosto, foram liberados 7,5 bilhões de dólares, e o total fornecido já atingiu 36 bilhões de dólares.
Em janeiro, haverá o vencimento de uma nova parcela a ser paga, de 2 bilhões de dólares, que Milei terá de arrumar recursos, já que a Argentina tem poucas reservas em dólar, ou negociar um atraso do pagamento.
No Departamento do Tesouro dos EUA e no FMI, Milei discutirá o perfil de seu programa econômico, que visa implementar um forte ajuste fiscal e uma reorganização das variáveis monetárias para começar a estabilizar a economia. Ao contrário de seus dois antecessores, Mauricio Macri e Alberto Fernández, Milei terá uma margem muito mais restrita no Tesouro.
Jay Shambaugh, subsecretário para Assuntos Internacionais do Tesouro, disse em um discurso em setembro que o FMI "deve estar disposto a retirar seu apoio se um país não adotar as medidas necessárias" para ser eficaz, uma mensagem claramente interpretada como uma nota separada em relação à Argentina. Mas Milei também chega com uma visão — e um pacote de reformas — muito mais alinhada com a filosofia do FMI do que a de Fernández, ou mesmo a de Macri.
Antes de viajar, Milei teve sua primeira conversa virtual com a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, na sexta-feira após o feriado de Ação de Graças nos EUA. Milei disse que a conversa, que durou cerca de uma hora, foi "excelente" e que o FMI se mostrou "colaborativo". Georgieva reiterou que o FMI está "comprometido em apoiar os esforços para reduzir de forma duradoura a inflação, melhorar as finanças públicas e aumentar o crescimento liderado pelo setor privado".
Reuniões com o governo dos EUA
Na agenda, ainda sujeita a alterações, estão previstas reuniões também com funcionários do Departamento de Estado e o Conselho de Segurança Nacional (NSC, na sigla em inglês) da Casa Branca, o braço de política externa da Presidência, e também do Tesouro, que deve dar um parecer sobre seus planos. Até o momento, não está prevista nenhuma reunião no Congresso. A visita não tem o objetivo, a princípio, de obter novos fundos.
As reuniões no Departamento de Estado e na Casa Branca permitirão destacar afinidades e diferenças, além de começar a delinear uma agenda de trabalho. Milei poderá definir perante o governo de Joe Biden sua posição em questões regionais e globais. E poderá oferecer um primeiro ponto de concordância: seu firme apoio a Israel e Ucrânia em seus respectivos conflitos com o Hamas, na Faixa de Gaza, e com a Rússia de Vladimir Putin na Ucrânia.
A Casa Branca mostrou intenção de fortalecer os laços entre os EUA e a Argentina, apesar das evidentes diferenças ideológicas entre Milei e Biden. No entanto, o governo americano reforçou em suas mensagens públicas uma agenda de "prioridades compartilhadas", entre as quais mencionou a proteção da democracia e dos direitos humanos — dois fronts nos quais Milei despertou preocupações —, a luta contra as mudanças climáticas — algo que Milei nega —, e a agenda de segurança alimentar e energética global, na qual o governo de Biden espera que a Argentina desempenhe um papel estratégico.
Milei em Nova York
Antes de Washington, Milei esteve em Nova York, por motivo pessoal. Ele visitou novamente "El Ohel", o túmulo do rabino Menachem Mendel Schneerson, mais conhecido como "o Rebe de Lubavitch", um lugar sagrado para o judaísmo. "Vou agradecer", disse em uma entrevista à LN+. Esteve lá por menos de uma hora, acompanhado de sua irmã Karina e Gerardo Whertein, que se perfila como seu futuro embaixador em Washington. Segundo a imprensa argentina, Milei já havia visitado a tumba do rabino ucraniano em julho passado.
Milei, que assumirá a Presidência em 10 de dezembro, disse durante uma entrevista com o jornalista peruano Jaime Bayly em agosto, que, se chegasse ao governo, além de fortalecer os laços com Israel, transferiria a embaixada argentina para Jerusalém, como fez o ex-presidente republicano dos Estados Unidos, Donald Trump (2017-2021).
Com Agência O Globo.