Merkel ataca Trump antes de cúpula do G20
Sem citar seu nome, a chanceler alemã criticou a postura protecionista do presidente e a saída dos Estados Unidos do acordo climático
AFP
Publicado em 29 de junho de 2017 às 09h41.
Última atualização em 29 de junho de 2017 às 09h44.
Angela Merkel atacou nesta quinta-feira Donald Trump antes de uma cúpula do G20 na Alemanha que se anuncia tempestuosa, criticando sua postura protecionista e a saída dos Estados Unidos do acordo climático.
Em uma declaração à Câmara dos deputados sobre esta reunião dos principais líderes mundiais na próxima semana em Hamburgo, a chanceler alemã se absteve de mencionar o nome do presidente americano. Mas não deixou qualquer dúvida sobre seu alvo.
Nenhum dos desafios internacionais "conhece fronteira, e é por isso que hoje, mais do que nunca, aqueles que acreditam que podem resolver os problemas do mundo pelo protecionismo e isolacionismo estão cometendo um grande erro", disse ela.
A chanceler definiu como um dos objetivos da reunião, da qual vão participar os chefes de Estado americano e russo, que "os líderes (do G20) mostrem que compreendem sua responsabilidade" com todo o planeta.
As relações entre Berlim e Washington, ótimas durante o governo de Barack Obama, esfriaram desde que seu sucessor na Casa Branca anunciou a retirada de seu país do acordo de Paris sobre a luta contra o aquecimento global e mantém uma retórica protecionista sobre o comércio.
Divergências evidentes
Donald Trump visa em especial a Alemanha e suas exportações de automóveis para os Estados Unidos e chegou a ameaçar com a implementação de tarifas.
Sobre o clima, "o desacordo (com os Estados Unidos) é bem conhecido e não seria honesto escondê-lo. Em qualquer caso, eu não vou fazê-lo", ressaltou Angela Merkel.
A Europa está "mais determinada do que nunca" a combater as mudanças climáticas após a retirada dos Estados Unidos do acordo de Paris, e este acordo "não é negociável", ela reiterou.
A cúpula do G20 das principais economias mundiais, que respondem por três quartos do comércio mundial, anuncia-se como um dos encontros internacionais mais polêmicos nos últimos anos.
Diante de questões espinhosas, a chanceler alemã reúne nesta quinta-feira na parte da tarde em Berlim vários líderes europeus, incluindo o presidente francês Emmanuel Macron e a primeira-ministra britânica Theresa May, para formar uma frente unida.
De acordo com diplomatas, os trabalhos preparatórios do G20 para alcançar uma declaração conjunta têm sido até agora "muito difíceis".
O chefe da diplomacia alemã, Sigmar Gabriel, acusou Washington de querer sabotar o processo.
"Península asiática"
"Não existe uma estratégia anti-americana, e certamente não da parte do governo alemão, mas há estrategistas americanos que planejam uma política anti-Europa e anti-Alemanha", proclamou na terça-feira.
Dadas as dificuldades com Washington, Merkel também se esforça, em vista do G20, para forjar alianças sobre as questões do clima e comerciais com potências emergentes asiáticas, como Índia e China. O que não impede de desconfiar das ambições de Pequim.
Ela advertiu, em uma entrevista na quinta-feira, contra o expansionismo econômico chinês, que considera a Europa "como uma península asiática".
"A Europa deve trabalhar duro para defender sua influência", acrescentou ela, apoiando o projeto de Macron para melhor defender no nível europeu os setores industriais estratégicos dos apetites estrangeiros.
Este apoio ilustra a dinâmica encontrada na relação com a França, mesmo que uma forma de competição pela liderança na Europa esteja surgindo entre os dois líderes.
O chefe de Estado francês acaba de conseguir duas "vitórias" diplomáticas, trazendo o presidente russo Vladimir Putin a Paris e conseguindo a vinda de Donald Trump para o feriado de 14 de julho.
Além das diferenças com Donald Trump, outras questões de conflito podem parasitar o G20.
Berlim rejeitou na quinta-feira um pedido do chefe do Estado turco Recep Tayyip Erdogan de discursar a seus compatriotas à margem da cúpula, em um contexto muito tenso entre os dois países.