Merkel ameaça proibir comícios eleitorais de autoridades turcas
No domingo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, atacou pessoalmente a chanceler alemã, reiterando suas acusações de práticas dignas do nazismo
AFP
Publicado em 20 de março de 2017 às 16h44.
A chanceler Angela Merkel ameaçou nesta segunda-feira proibir as autoridades turcas de participarem de comícios pró-Erdogan na Alemanha se Ancara continuar a atacá-la.
Berlim não anunciou qualquer penalidade imediata e parece querer evitar uma escalada que beneficiaria sobretudo Recep Tayyip Erdogan em seu desejo de mobilizar o eleitorado para o referendo de 16 de abril sobre o reforço dos seus poderes como chefe de Estado.
O governo alemão "se reserva o direito de reexaminar as autorizações" concedidas para a participação de dirigentes políticos turcos em comícios na Alemanha a favor do referendo previsto na Turquia em 16 de abril, afirmou a chanceler durante uma coletiva de imprensa em Hannover, à margem do Salão de Eletrônica CeBit.
"As comparações com o nazismo devem parar", insistiu, "nós não vamos tolerar que o fim sempre justifique os meios e que todos os tabus caiam sem respeito pelo sofrimento daqueles que foram perseguidos e assassinados durante o nacional-socialismo".
No domingo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, atacou pessoalmente a chanceler alemã, reiterando suas acusações de práticas dignas do nazismo, após o cancelamento de atos eleitorais a seu favor na Alemanha, onde vive a maior diáspora turca no mundo, com cerca de 3 milhões de pessoas.
"Neste momento recorre a práticas nazistas", disse no domingo Erdogan dirigindo-se a Merkel em um discurso transmitido pela televisão.
Angela Merkel revelou diante da imprensa o conteúdo de um documento transmitido recentemente por seu governo às autoridades turcas, relacionado à realização de atos eleitorais do partido no poder, o AKP, que foram autorizados em território alemão.
O texto adverte que "a participação de responsáveis políticos turcos" em reuniões eleitorais na Alemanha "só é possível no respeito dos princípios da lei fundamental" alemã, a Constituição do país, disse.
"Caso contrário (...), o governo alemão se reserva o direito de tomar todas as medidas necessárias, incluindo a reanálise das autorizações (de comícios) dadas neste documento", acrescentou.
A Turquia já havia acusado, no início de março, a Alemanha de usar práticas "nazistas", depois que vários municípios cancelaram comícios. Declarações rechaçadas por Berlim, Bruxelas e Paris.
O governo da Holanda, que também vetou a intervenção de ministros turcos em comícios pró-Erdogan em seu território, foi igualmente comparado ao regime nazista.
Após acolher mais de um milhão de migrantes em 2015 e 2016, a Alemanha de Angela Merkel ainda precisa da ajuda da Turquia para diminuir o fluxo de refugiados para a Europa, no quadro de um pacto UE-Turquia.
Além disso, Berlim mantém caças na base turca de Incirlik (sul) como parte da luta da coalizão internacional contra o grupo Estado Islâmico (EI).
E, para as autoridades alemães, qualquer escalada na tensão só serviria aos interesses do presidente Erdogan, tentando evitar ao máximo o confronto.
"Mais nós respondemos, mais alimentados a tática deste governo, do partido no poder, do presidente", argumentou o ministro das Relações Exteriores alemão, Martin Schäfer.