Miami - Milhões de latinos nos Estados Unidos sentiram recompensada nesta sexta-feira sua batalha migratória com a ordem presidencial que freia milhões de deportações, enquanto se organizam para a batalha burocrática com a Administração e renovam a pressão para uma reforma migratória integral.

As medidas unilaterais do presidente Barack Obama anunciadas nesta quinta-feira, qualificada como um "dia histórico" e de regozijo para os imigrantes, são para os ativistas uma "luz na metade do túnel" e um impulso para lutar pela regularização de "todos", em referência aos 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem no país.

"Nós continuaremos a luta até conseguir uma verdadeira reforma migratória integral... fica aqui o desafio aos republicanos", disse Francisco Portillo, presidente da Organização Hondurenha Integrada Francisco Morazán, em Miami.

O decreto de Obama evitará temporariamente a deportação de cerca de cinco milhões de imigrantes ilegais, entre eles pais de cidadãos americanos ou de residentes permanentes, e outro grupo de "sonhadores", como são chamados os estudantes imigrantes ilegais que foram trazidos ainda crianças por seus pais.

"Muitas famílias de agora em adiante estarão em condições de manter-se unidas, trabalhando, progredindo e seguirão contribuindo com este país", assegurou com satisfação Alejandra Saucedo, presidente do grupo de mães de "sonhadores", DREAMers"Moms.

Com a nova medida já não importará a idade destes estudantes para acolher-se à Ação Diferida (DACA) decretada por Obama em 2012 e que salvou da deportação cerca de 600 mil deles.

Por sua vez, Jorge Tume, do grupo Estudantes Trabalhando pela Igualdade de Direitos (SWER), disse hoje à Agência Efe que agora "o plano é usar as medidas executivas como estratégia para pressionar os congressistas republicanos que tomarão posse em janeiro".

Com gritos de "Sí, se puede", os latinos comemoraram nas ruas, nas reuniões comunitárias e, inclusive, durante o segundo anúncio televisado que o presidente Obama fez hoje em Las Vegas, onde foi interrompido por esta frase em espanhol, junto com outra em inglês: "Pass the bill" ("Aprovem a lei").

A DREAMers"Moms, assim como muitas organizações pró-imigrantes em todo o país, deixou os festejos de lado e começou os planos não só para "concretizar a luta" no Congresso, mas para assessorar legalmente aos beneficiados e preveni-los de possíveis fraudes.

Saucedo lembrou que "cerca de seis milhões de pessoas continuarão nas sombras, como é o caso daqueles que ingressaram ao país recentemente e que, embora tenham filhos nascidos aqui, não serão contemplados sob esta ação".

A ativista está revisando em detalhes os requisitos da ação executiva que beneficiará aos pais imigrantes ilegais de cidadãos americanos que não tenham antecedentes criminais e que tenham chegado ao país antes de 1º de janeiro de 2010.

"Esperamos que os republicanos não comecem a pôr impedimentos a estas ações executivas do presidente Obama", advertiu por sua parte Portillo, que os instou a aprovar uma reforma migratória "se querem se aproximar da comunidade latina e ganhar a Casa Branca" em 2016.

As organizações latinas estão conscientes que o decreto é um "primeiro passo" à regularização, como disse Obama, e por isso não descansarão até incluir seus parentes ameaçados com a deportação e as famílias que já foram separadas.

"A ação executiva não é um substituto de novas leis imigratórias", destacou por sua parte Nita González, diretora do Fórum Latino Colorado, que comemorou a medida que "mudará a vida diária de muitas famílias e de trabalhadores imigrantes". EFE