Mundo

Maduro, protagonista da derrocada venezuelana, mas ainda de pé

Durante seu governo, a Venezuela sofreu ondas de protestos que deixaram 200 mortos, a derrocada socioeconômica e o isolamento internacional

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro: seus adversários o acusam de empurrar o país para o abismo (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro: seus adversários o acusam de empurrar o país para o abismo (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

A

AFP

Publicado em 19 de maio de 2018 às 13h04.

Não faz muito tempo era impensável imaginar que a esta altura o presidente Nicolás Maduro continuaria no poder. Mais ainda, tentando a reeleição. Apesar de ser o protagonista do colapso venezuelano, ele arrasou com adversários, dentro e fora do chavismo, encarnando o homem forte, que os críticos chamam de "ditador".

Saindo das sombras de seu mentor, Hugo Chávez, este ex-motorista de ônibus de 55 anos, corpulento e com um farto bigode preto, não duvida de que vá conquistar outro mandato de seis anos nas eleições de domingo (20), antecipadas pela situação.

"Sua autoridade nasce herdada de Chávez (presidente de 1999 até sua morte, em março de 2013). Mas agora temos um Maduro diferente, que sabe que é forte e é mais agressivo", disse à AFP Félix Seijas, diretor do instituto de pesquisas Delphos.

Durante seu governo, a Venezuela sofreu ondas de protestos que deixaram 200 mortos, a derrocada socioeconômica e o isolamento internacional.

"Há cinco anos, eu era um novato. Hoje, sou um Maduro de pé, experiente com a batalha, que enfrentou a oligarquia e o imperialismo. Aqui estou: mais forte do que nunca", descreveu-se durante a campanha.

Seus adversários o acusam de empurrar o país para o abismo com medidas econômicas disparatadas, de submeter o povo à fome e de ser um "ditador", sustentado por militares.

A tudo isso faz ouvidos moucos. Diz ser um "presidente democrático" e "vítima" dos Estados Unidos e a "guerra econômica da direita", à qual culpa pela hiperinflação e falta de comida.

Apesar de sua impopularidade de 75%, segundo as pesquisas, venceria o opositor dissidente do chavismo, Henri Falcón, que enfrenta a máquina oficial e os chamados à abstenção dos maiores partidos opositores que consideram a eleição uma "farsa".

Metamorfose

Ungido por Chávez para liderar a "revolução bolivariana", Maduro levou a Presidência por muito pouco, em abril de 2013, contra o opositor Henrique Capriles, inabilitado politicamente em 2017.

Dois anos depois, sofreu um duro golpe, quando a oposição arrasou nas legislativas. Mas reverteu a derrota e desde agosto de 2017, conta com uma Assembleia Constituinte de poder absoluto.

Chávez, a quem conheceu em 1993, o considerava um verdadeiro "revolucionário". Mas adversários e ex-companheiros o acusam de enriquecer empresários amigos e a cúpula militar. "Será madurista, mas não chavista", comentou à AFP Ana Elisa Osorio, ex-ministra chavista.

"Foi subestimado pelos opositores e por muitos chavistas. Mas soube aproveitar os erros de uns e de outros, conseguindo anular seus adversários dentro e fora do chavismo", comentou à AFP Andrés Cañizalez, pesquisador em comunicação política.

Um deles - observou - é Rafael Ramírez, ex-presidente da petroleira PDVSA, homem de confiança de Chávez e potencial aspirante presidencial, que foi tirado da embaixada da ONU, acusado de corrupção.

"Maduro passou por uma metamorfose e estas eleições culminam esse processo: poderíamos estar passando do chavismo ao 'madurismo'. Sem dúvida, está apontando a consolidar um espaço de poder autônomo", acrescentou Cañizalez.

Seijas acredita que tem sido "um grande equilibrista que conseguiu manter uma distribuição das cotas de poder" no chavismo, ganhando "autoridade para impor sua candidatura".

"Vamos, Nico!"

Sem o carisma de Chávez, Maduro tentou imitá-lo em longas aparições diárias na TV, com a fala popularesca e a retórica anti-imperialista. Mas vem construindo sua própria imagem.

Autodenomina-se "presidente operário", dirige sua caminhonete, ri de seu inglês ruim e de quem o chama de "Ma'burro" por suas mancadas frequentes, dança salsa, bolero e reggaeton, e é muito ativo nas redes sociais.

Seu discurso moderado e capacidade negociadora como sindicalista, chanceler e vice-presidente de Chávez, mudou para os acalorados discursos contra seus adversários, a quem critica e insulta sem pudores.

Declara-se católico, é fã de beisebol e na adolescência foi guitarrista de uma banda de rock. Seus opositores asseguram que nasceu na Colômbia, mas ele insiste que é de Caracas.

É casado com a ex-procuradora Cilia Flores, a quem chama de "primeira combatente" e com quem dança frequentemente nos comícios. É pai de "Nicolasito", membro da Assembleia Constituinte de 27 anos, fruto de um casamento anterior.

Teve formação comunista em Cuba nos anos 1980 e viaja com frequência à ilha.

Tentando renovar sua imagem, o mote "Vamos Nico" se impôs em sua campanha, enquanto diminuíram as referências ao seu mentor.

Em 2013, o jingle da campanha dizia: "Chávez para sempre, Maduro presidente. Chávez, eu te juro, meu voto é de Maduro".

Hoje, o refrão de um reggaeton chiclete, diz: "Todos com Maduro, lealdade e futuro. O povo manda com Maduro".

Acompanhe tudo sobre:Crise políticaEleiçõesVenezuela

Mais de Mundo

Corte Constitucional de Moçambique confirma vitória do partido governista nas eleições

Terremoto de magnitude 6,1 sacode leste de Cuba

Drones sobre bases militares dos EUA levantam preocupações sobre segurança nacional

Conheça os cinco empregos com as maiores taxas de acidentes fatais nos EUA