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Macri assume presidência argentina em clima de tensão

Macri, 56 anos, fará o juramento no Congresso, mas sem a presença da atual presidente, Cristina Kirchner, no local


	Macri: Kirchner desistiu de comparecer depois de um pedido judicial de Macri para que seu mandato termine à meia-noite de quarta-feira
 (Ivan Alvarado / Reuters)

Macri: Kirchner desistiu de comparecer depois de um pedido judicial de Macri para que seu mandato termine à meia-noite de quarta-feira (Ivan Alvarado / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2015 às 13h31.

Mauricio Macri assumirá nesta quinta-feira a presidência da Argentina como primeiro líder da direita liberal a chegar ao poder pelas urnas, com a promessa de mudar o modelo econômico adotado em 12 anos de governos peronistas de centro-esquerda.

Macri, 56 anos, fará o juramento no Congresso, mas sem a presença da atual presidente, Cristina Kirchner, no local.

Kirchner desistiu de comparecer depois de um pedido judicial de Macri para que seu mandato termine à meia-noite de quarta-feira e não no momento da posse na quinta-feira, como estabelece a Constituição.

Macri apresentou a demanda à justiça para dirimir uma disputa protocolar com Kirchner sobre o modo e local da cerimônia de transferência. A disputa cerimonial aprofundou o confronto.

"Vem uma mudança de época", declarou Macri em 22 de novembro, quando derrotou no segundo turno o peronista de centro Daniel Scioli, apoiado por Kirchner.

O papel estratégico do Estado, a substituição de importações e os subsídios sociais foram o eixo da política kirchnerista.

Desde a noite de comemoração do candidato vencedor, líder da Frente Mudemos, que tem como aliada a União Cívica Radical (UCR), o presidente eleito ressaltou seu rumo ideológico.

Defensor do livre mercado e dos investimentos estrangeiros, pretende recompor as relações com os Estados Unidos, abaladas durante o kirchnerismo.

Ele designou para o gabinete ex-executivos da companhia aérea LAN, Deutsche Bank, Shell, Hewlett Packard, banco HSBC, Monsanto e Fundo Pegasus, entre outros.

Um ex-diretor do JP Morgan, Alfonso Prat-Gay, será ministro da Fazenda.

Susana Malcorra, que trabalhou na Telecom e IBM, antes de ser chefe de gabinete do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, será a chanceler.

Macri é um engenheiro nascido em uma família de imigrantes italianos, donos de um império de negócios.

Ele estudou no exclusivo Colégio 'Cardenal Newman' e se formou na influente Universidade Católica, foi executivo do Citibank e estudou em universidades dos Estados Unidos.

É casado com a empresária Juliana Awada, 41 anos.

Tem três filhos do primeiro casamento, nenhum do segundo e uma filha pequena de seu matrimônio com Awada.

Entrou para a política depois de presidir o Boca Juniors, um dos clubes mais populares da Argentina, em um período de muitos títulos da equipe.

Macri estabeleceu um marco, pois na história argentina as eleições livres haviam registrado como vencedores candidatos do campo peronista ou radical social-democrata.

Ponto da discórdia

No dia 24 de novembro, Macri se reuniu com Kirchner na residência dos Olivos e anunciou que a transferência de poder aconteceria no Congresso.

Mas depois, o macrismo começou a suspeitar que as mobilizações nas ruas de apoio a Cristina Kirchner, nesta quarta-feira e na quinta-feira, poderiam resultar em atos hostis ou agressões.

A Constituição estabelece que o presidente assume ao prestar juramento ante a Assembleia Legislativa no Congresso.

Mas Macri pediu a Kirchner que entregasse o bastão, faixa presidencial e partitura da marcha militar "Ituzaingó", atributos de comando, na Casa Rosada (governo).

Kirchner se negou e os dois chegaram a discutir por telefone.

A atual presidente disse que o presidente eleito faltou com o respeito a uma mulher. No final, sua ausência da cerimônia foi confirmada.

Antes da era kirchnerista em 2003, as transferências de poder aconteceram na Casa Rosada, seguindo uma tradição histórica.

Economia e diplomacia

À margem da triste comédia erros sobre questões simbólicas, que tem como pano de fundo a disputa política, foi adiada a reativação de um mercado único de câmbios.

"Acontecerá quando existirem as condições", disse Prat-Gay.

A venda de dólares é restrita. Acabar com o chamado 'cepo cambiario' foi uma promessa de Macri para 11 de dezembro, mas o Banco Central perdeu reservas de quase 10 bilhões de dólares desde setembro por pagamentos da dívida e compras de pequenos poupadores.

Macri afirma que o maior problema do país é a inflação, de 20% a 30% ao ano.

O poder aquisitivo do salário foi mantido graças a uma lei de negociações sindicatos-empresas com reajustes de valor igual ou maior que a inflação.

O novo modelo de Prat-Gay é um acordo geral de preços e salários.

Outra negociação acontecerá com o mediador judicial Dan Pollack em Nova York, pela disputa com os fundos especulativos (abutres).

A justiça de NY decidiu contra Buenos Aires no pleito por 1,6 bilhão de dólares. Prat-Gay considera que é indispensável uma solução para retornar ao mercado financeiro mundial.

Malcorra também defende uma mudança ao pragmatismo na política externa. Ela admitiu que a Argentina poderia vender trigo ao Irã, apesar de Macri rejeitar qualquer acordo com Teerã.

Ex-funcionários do governo iraniano são acusados por um violento atentado contra o centro judaico AMIA em Buenos Aires em 1994.

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